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sexta-feira, 3 de maio de 2013

"EUA nunca tiveram uma estratégia para enfrentar a Síria", diz ex-conselheiro de segurança americano


Em uma entrevista ao jornal alemão "Der Spiegel", o ex-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Zbigniew Brzezinski, 85, discute a reação morna do presidente Barack Obama à guerra civil na Síria e as alegações de que armas químicas foram utilizadas no país.

Zbigniew Brzezinski
Spiegel: Brzezinski, você sempre defendeu uma estratégia para a política externa que combinasse os interesses nacionais dos Estados Unidos com uma causa moral. Ao aplicar esse conceito à Síria, o que você sugeriria?
Brzezinski: Fico triste em dizer que sou um daqueles que vem dizendo que não há muito que possamos fazer a esta altura do campeonato. Essa é a realidade que temos de enfrentar. Os Estados Unidos começaram mal quando a violência eclodiu na Síria. O presidente Barack Obama fez um pronunciamento e, no estilo "diretor de escola", anunciou que Assad tinha que renunciar ao poder. Foi uma ideia maravilhosa, mas Assad não obedeceu. Será que Obama tem um plano para fazê-lo renunciar? Claro que não. Nós fomos até a ONU (Organização das Nações Unidas) com uma resolução destinada a obrigar Assad a renunciar, mas não consultamos os russos nem os chineses. Quando eles rejeitaram a resolução, nós os condenamos por meio de nosso embaixador nas Nações Unidas, chamando-os de infantis – tática que não é o caminho correto para obter o apoio desses países. Em resumo, nós não tínhamos uma estratégia. A única estratégia que teria um impacto significativo seria a organização de uma invasão militar.

Spiegel: E esse é mais um exemplo da discrepância entre a retórica e as políticas do presidente Obama?
Brzezinski: Neste caso em especial não era nem retórica. Foi apenas uma declaração ao estilo "diretor de escola", pura e simplesmente, sem uma estratégia clara para sua implementação.

Spiegel: Israel afirmou, na semana passada, que podia provar que o governo sírio utilizou armas químicas. O Reino Unido e a França também fizeram alertas semelhantes. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, disse que o exército sírio utilizou, de fato, pequenas quantidades de armas químicas. Caso isso seja verdade, Assad cruzou a linha vermelha traçada pelo presidente Obama no verão passado. Será que agora os EUA serão obrigados a intervir?
Brzezinski: Se a utilização de armas químicas pelo regime de Assad for confirmada, devemos tentar verificar se a China e a Rússia poderiam, então, apoiar uma resolução da ONU que proporia eleições supervisionadas pela comunidade internacional, nas quais todos pudessem disputar a presidência. Seria uma solução para salvar as aparências que Assad provavelmente rejeitaria. Dessa forma, a China e a Rússia poderiam finalmente endossar uma ação coletiva.

Spiegel: Você vê uma oportunidade para convencer o presidente russo, Vladimir Putin, a permitir a queda de Assad?
Brzezinski: No caso da Síria, além da Rússia, o Irã também tem bastante importância na definição da situação. E, em segundo plano está a China, que não nutre nenhuma simpatia em relação ao que estamos fazendo --em parte por causa de sua preocupação com a estabilidade do acesso a fontes de energia do Oriente Médio.

Spiegel: Você está dizendo que a situação na Síria é complexa demais para uma intervenção?
Brzezinski: "Complexa" é um eufemismo. É uma situação extremamente confusa. Até o recente relato de David Ignatius, do Washington Post, não havia lido nenhuma análise séria nem uma descrição capaz de fornecer detalhes sobre a natureza dos vários grupos de resistência atuando na síria. Nós sabemos que alguns deles são salafistas que têm o apoio dos sauditas. Nós sabemos que grupos do Iraque estão envolvidos, nós sabemos que os curdos estão envolvidos e sabemos que um número significativo de refugiados sírios está fugindo para a Turquia. A questão é que essa é uma confusão total no que tange ao fato de não estarmos em posição de fazer boas escolhas. Simplesmente mergulhar no desconhecido não seria uma atitude muito sábia. E, se nós optássemos por mergulhar no desconhecido de qualquer maneira, quem é que ficaria do nosso lado?

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