Merkel faz visita às tropas alemãs no Afeganistão |
É uma manhã quente no campo militar alemão de Kunduz, quando a chanceler Angela Merkel tem um breve encontro com a guerra. Ela olha para um soldado, um homem de 2 metros de altura, com tatuagens até o pescoço. O rifle pendurado na frente do peito dele chega à altura do rosto dela. Em volta da chanceler e do soldado está a unidade de tanques leves que deparou-se com um mecanismo explosivo improvisado há duas semanas. As tropas estão alinhadas em posição de sentido.
Contra este cenário, a chanceler quer saber como é a guerra. Ela tem pouco tempo. "Quantos ataques houve?", pergunta. "Sete", responde o soldado. Merkel acena com a cabeça, reflete por um segundo e diz: "Nada bom!" Felizmente nada aconteceu além de danos materiais, diz o soldado. "Bem, tenho certeza que foi um grande susto para vocês!", responde Merkel. Então a chanceler parte apressadamente.
Grande susto – ocasionalmente, esta é a opinião de Berlim sobre a guerra. Mas a realidade no Afeganistão ficou clara no penúltimo final de semana, quando um alemão e sete soldados americanos das Forças Internacionais de Assistência de Segurança (Isaf) foram mortos em ataques e combates com o inimigo.
A morte desse soldado do Bundeswehr fez lembrar uma guerra que quase não recebe mais atenção na Alemanha. Afinal, a retirada já começou, e os militares alemães aguentaram o pior da batalha, ou pelo menos é isso que muitos esperavam depois de quase dois anos sem uma baixa em combate.
Mas o mais recente soldado alemão morto em ação é emblemático da situação de segurança em terra, que começou a se deteriorar novamente nos primeiros meses deste ano. Depois de 11 anos no Afeganistão, o Bundeswehr enfrenta o ano mais difícil de sua missão militar. Enquanto o Taleban ganha terreno em meio a um número crescente de ataques e confrontos, há ainda o enorme desafio logístico de uma retirada.
Os militares alemães deixarão para trás um país longe da paz, depois de décadas de guerra. Parece que o declínio em confrontos no último ano não foi um sinal de sucesso do Ocidente, e sim meramente um intervalo tático dos insurgentes.
Quase um ano e meio antes do fim planejado do esforço militar internacional, seus sucessos parecem mais questionáveis do que nunca. Os políticos alemães desviam a atenção do iminente fracasso desta missão –que foi promovida para trazer segurança, estabilidade e democracia ao Afeganistão- com vagas demandas por "reformas" e progresso no "processo político".
Entre os soldados do Bundeswehr nos dois grandes campos de Kunduz e Mazar-e-Sharif, o ambiente era pessimista na primeira semana depois do confronto fatal. "A morte parecia tão distante", diz um amigo do soldado morto. "Agora se aproximou".
Sérias preocupações com a retirada
Dados deprimentes recentemente divulgados pelo Escritório de Segurança, uma ONG afegã em Cabul, confirmam essa impressão. De acordo com a organização, o número de ataques de insurgentes afegãos durante o primeiro trimestre de 2013 cresceu 47% em comparação com o ano anterior, com a maior parte dirigida contra forças de segurança afegãs.
As estatísticas pintam um retrato sombrio d a área de operações de Bundeswehr, no Norte do país. Em muitas regiões, o número de confrontos aumentou, e a situação é ainda pior no Sul e no Leste do Afeganistão.
Houve mais combates em partes da província de Badakhstan, no Nordeste do país, que era relativamente calmo até recentemente. No final do ano passado, o Bundeswehr fez uma cerimônia oficial na qual entregou o controle de seu campo em Faizabad às forças de segurança afegãs, uma medida vista como um teste de como a situação se desenvolveria depois da retirada das tropas. Hoje, as autoridades das Isaf estão fazendo seu melhor para não reconhecer qualquer tendência no dramático aumento no número de incidentes. Ninguém quer admitir a possibilidade de fracasso no Nordeste.
A retirada começou e, todos os dias, aviões de transporte militares carregados deixam o país e se dirigem para o Oeste. Os primeiros campos já foram fechados e, neste ano, o Bundeswehr pretende fechar sua fortaleza no OP Norte e o campo de Kunduz.
No Norte do Afeganistão, o governo tem sérias preocupações com a retirada de alemães, que está ocorrendo muito mais rapidamente do que muitos imaginavam. Atta Mohammed Noor, o poderoso governador da região de Balkh, no Norte, pediu a permanência de uma missão de longo prazo alemã em Mazar-e-Sharif. "Sem a ajuda dos alemães, o exército vai desmoronar novamente, e rápido", adverte. "Por isso, mais tropas são urgentemente necessárias aqui".
O secretário de Estado alemão, Christian Schmidt, que visitou as tropas do Bundewehr na semana passada, diz que, apesar de a situação ser melhor do que durante a crise de 2011, "os afegãos ainda não são capazes de alcançar a segurança sozinhos". Em outras palavras, a situação de segurança é tão precária que o Afeganistão corre o risco de afundar no caos e guerra civil após a retirada das tropas das Isaf.
Relações geladas
Ainda não está claro se a missão internacional vai prosseguir depois da retirada no final de 2014, e de que forma. Em abril, a Alemanha adiantou-se e ofereceu enviar entre 600 e 800 soldados para treinar as forças militares afegãs a partir de 2015. O principal objetivo desse compromisso era o de assegurar que a questão permanecesse de fora da campanha eleitoral, quando os alemães forem às urnas em setembro de 2013.
Ainda assim, o ministro de defesa alemão, Thomas de Maizière, salientou em abril que essa oferta depende de uma série de fatores. Segundo os planos, a Otan precisa iniciar uma missão de treinamento pelo país todo, e não meramente em Cabul, disse ele. O Conselho de Segurança da ONU deve conceder um mandato para essa força militar, acrescentou. Acima de tudo, o ministro exigiu que o governo afegão fosse mais receptivo, dizendo que ele esperava um convite formal:
"Queremos ser bem-vindos", disse Maiziére.
O convite, porém, não foi feito. Diante da precariedade da atual situação de segurança, é particularmente importante manter boas relações com os anfitriões afegãos durante a retirada. Os Estados membros da Otan só podem planejar um envolvimento militar efetivo para o período após a retirada, no final de 2014, trabalhando em cooperação próxima com Cabul. Contudo, a chanceler Merkel parece ter pouco interesse nisso.
Sua breve visita na última sexta-feira voltou a ilustrar como as relações entre Berlim e Cabul permanecem difíceis, depois de 11 anos de missão alemã no Afeganistão. A confiança é tão restrita que os membros do protocolo alemão nem se preocuparam em anunciar a chegada da chanceler a seus colegas em Cabul.
Haveria uma oportunidade para uma conversa por telefone com o presidente afegão, Hamid Karzai, pouco depois que Merkel desembarcasse da aeronave de seu governo em Mazar-e-Sharif, às 6h –, mas esta não ocorreu. Isso irritou as autoridades em Cabul, que veem a visita de Merkel como uma "afronta aberta", diz um dos assessores de Karzai.
"Na Alemanha, seria um escândalo se pousássemos em Berlim sem aviso prévio, mas fazem isso conosco", gracejou. O ambiente é tão gelado que Cabul está até considerando apresentar uma queixa oficial em Berlim.
A opinião que Merkel tem de Karzai não é menos crítica. Em seu último encontro, Karzai falou longamente sobre como ia reformar seu governo corrupto, inclusive o sistema judiciário, e fortalecer os direitos das mulheres. Mas virtualmente nada disso aconteceu. Em vez disso, Berlim observou como Karzai fez tentativas para controlar a comissão eleitoral e forjar alianças espantosas com senhores de guerra duvidosos para assegurar sua base de poder para além das eleições de abril de 2014.
Toda a atenção em Washington
Não é meramente a falta de confiança entre Berlim e Cabul que está dificultando o planejamento após a retirada, contudo. Os parceiros da Alemanha na Otan também estão hesitando em comprometerem-se com outras missões. A França e o Canadá ficaram totalmente de fora, e entre os principais aliados que restam, os britânicos relutam em arcar com uma grande carga. Os mongóis, suecos e belgas indicaram que estão dispostos a permanecer no Norte do Afeganistão sob a liderança alemã.
O maior problema é Washington. Os Estados Unidos, que de fato deveriam assumir o papel de liderança, estão mergulhados em brigas internas sobre o Afeganistão. Devido a essa hesitação, o presidente norte-americano, Barack Obama, já está sendo ridicularizado nos círculos de defesa, onde dizem que o início de seu segundo mandato "lembra mais Jimmy Carter do que Bill Clinton". Membros das Isaf em Cabul também estão ficando nervosos.
As negociações sobre o envio de uma missão subsequente empacaram. O presidente Karzai indicou na semana passada que está disposto a tolerar bases militares americanas mesmo depois de 2014, mas a reunião de cúpula marcada para meados de junho por líderes dos países membros da Otan para determinar a extensão de seu engajamento no país não vai mais ocorrer.
Se Obama for contra o envio de cerca de 8.000 soldados, todos os planos para o período após a missão de combate serão suspensos, e os alemães terão pouca escolha se não retirarem seus treinadores do Norte do Afeganistão –deixando que os afegãos enfrentem sozinhos um futuro incerto.
Merkel é coerente, se for por ela não envia tropas ou dinheiro para qualquer país, os países vão ter que trabalhar para ter segurança e empregos, nada com o suor do povo alemão.
ResponderExcluirA Merkel vai simplesmente levar a Alemanha pro buraco, querendo levar a falida União Europeia nas costas. A Alemanha livre da UE seria bem mais forte, o que se ganha do lado de um bando de falidos com poucas exceções?
ExcluirA Alemanha ganha nada, mais a Merkel ganha muito, imagina o fim do Euro pros banqueiros europeus em, a Merkel deve estar ganhando seus bilhões com isso certamente.
ExcluirÉ Hamid Karzai, tu é o próximo a ser deixado na mão.
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