Palestinos do campo de refugiado de Ain al-Hilweh |
Segundo a ONU, mais de 56 mil palestinos vivendo na Síria, a maioria na região de Damasco, fugiram para o vizinho Líbano, juntando-se aos quase meio milhão de refugiados sírios, assim como a já estabelecida comunidade de refugiados palestinos, cuja estimativa é de que tenha entre 260 mil e 400 mil pessoas.
Já superlotado, o lamentável campo de refugiados palestinos de Burj al-Barajneh, no sul de Beirute, está recebendo parte do afluxo. Criado em 1948 para abrigar a onda inicial de palestinos deslocados pela criação do Estado de Israel, o campo agora é lar de dezenas de milhares espremidos em uma favela medindo cerca de um quilômetro quadrado.
Ao longo da rua principal do campo, uma das poucas com largura suficiente para a passagem de carros, guardas armados permanecem ociosos diante dos prédios das facções. De lá, um labirinto sinuoso de ruas estreitas leva ao coração do campo. Poças de esgoto produzem lama sob os pés, e um emaranhado de fios elétricos no alto está tão baixo que os pedestres precisam se abaixar para se desviarem deles.
Durante a brutal guerra civil do Líbano, de 1975 a 1990, os campos de refugiados de Beirute às vezes se tornavam grandes campos de batalha. Muitas das edificações de Burj al-Barajneh ainda exibem marcas de balas e peças de artilharia.
Sem espaço para expandir o campo com o crescimento de sua população, pisos construídos precariamente foram adicionados sobre outras edificações, mantendo algumas ruas envoltas permanentemente em sombras.
Uma mensagem forte, "2013 é o ano da morte", está pichada em um muro à beira do campo.
"O único espaço aberto que temos no campo é onde enterramos nossos mortos", disse Ahmed Mustafa, um representante de um conselho de facções palestinas que administra os campos no Líbano.
"A situação nos campos é de superlotação", disse Ann Dismorr, a alta representante no Líbano da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), responsável por lidar com os assuntos dos refugiados palestinos por todo o Oriente Médio. "Já era antes, mas agora a população total de refugiados palestinos aumentou 20% em poucos meses."
"No início, nós tínhamos palestinos da Síria retornando quando viam as condições nos campos", disse Dismorr, em uma entrevista neste mês.
Mas com a intensificação dos combates entre os rebeldes sírios e as forças do governo em Damasco, os palestinos se viram pegos no meio.
"Nós estamos sendo torturados por ambos os lados", disse Mahmoud Hamide, um refugiado de 39 anos de Yarmouk, o maior campo de refugiados palestinos na Síria, a vários quilômetros ao sul do centro de Damasco.
Certa noite em dezembro, disse Hamide, sua esposa, Leenda Habbash, 35 anos, estava lavando a louça na pequena residência deles, um apartamento construído de blocos de concreto no alto de um prédio. Unidades do Exército Livre da Síria assumiram posições dentro do campo e as forças do governo estavam bombardeando a área. "Nós não conseguíamos dormir na época, devido aos combates pesados e bombardeios", ele disse.
Por volta das 23h, um projétil de artilharia atravessou o telhado do apartamento, explodindo no quarto onde o filho deles de 9 meses, Ahmed, dormia. A parede ao lado do bebê ruiu e o matou. Hamide e sua esposa ficaram feridos.
"Minha esposa estava no hospital e ficava perguntando sobre o bebê", disse Hamide. "Eu ficava dizendo para ela que o bebê estava bem e que nada tinha acontecido."
Quando a esposa de Hamide descobriu o que aconteceu ao filho, ela ficou devastada. Do hospital, eles fugiram para um vilarejo que ainda não tinha sido atingido pela violência e depois cruzaram a fronteira para o Líbano. Agora eles vivem com outras oito pessoas em um cômodo lotado e mofado em Burj al-Barajneh.
Estilhaços do projétil que matou seu filho cortaram a mão direita de Hamide, danificando os nervos. Como muitos homens no campo, ele tenta ganhar a vida como trabalhador braçal, mas o trabalho é escasso e o ferimento atrapalha.
A vida da família agora é muito diferente daquela que tinha antes.
"O campo Yarmouk na Síria costumava ser como a rua Hamra no Líbano", disse Habbash, referindo-se a uma das principais ruas de Beirute, conhecida por suas lojas e cafés. "Era uma cidade, não um campo."
"Mas o que se pode fazer? Esse é nosso destino e essa é nossa sorte."
Outros repetem esses sentimentos: "Dentre os palestinos que vivem em campos em outros países árabes, nós éramos os mais felizes", disse Majida al Mahmoud Husseini, outro refugiado de Yarmouk. "Nós tínhamos uma vida extremamente boa antes da guerra."
Poucos palestinos no Líbano falam positivamente das condições aqui. As relações entre os libaneses e os refugiados palestinos sempre foram desconfortáveis, na melhor das hipóteses. Milícias palestinas tiveram um grande papel na guerra civil do país, uma participação que levou muitos libaneses a verem a comunidade com desprezo.
Os direitos legais dos palestinos são seriamente restringidos no Líbano. Eles são impedidos de exercer a maioria das profissões e não podem ter propriedade de terras. Há um amplo temor entre muitos libaneses de que a concessão de maiores direitos aos palestinos poderia servir como um passo para a naturalização, que poderia perturbar o sistema político sectário precariamente equilibrado.
A situação desvantajosa dos palestinos no Líbano manteve um grande número deles preso na miséria.
Os campos de refugiados palestinos no Líbano também são, há muito tempo, um campo de batalha de grupos domésticos e estrangeiros que buscam exercer influência. Em uma curta caminhada por muitos campos é possível ver cartazes do movimento militante muçulmano xiita Hezbollah; grupos jihadistas palestinos como a Brigada dos Mártires de Al Aqsa; antigos partidos comunistas; o presidente Bashar al-Assad, da Síria; Saad Hariri, o ex-primeiro-ministro do Líbano; e muitos outros. Em alguns campos há ondas regulares de violência entre o número vertiginoso de facções que operam dentro deles. Sem muito o que fazer, os jovens acabam ingressando nas milícias.
A vida ruim no campo significa que muitos palestinos que vieram da Síria voltarão assim que a guerra terminar, disse Dismorr.
"Nós acreditamos que eles retornarão quando a crise acabar –eles têm um conjunto muito diferente de direitos e padrões de vida na Síria", ela disse.
Mas por ora, o número de refugiados está crescendo e a ajuda humanitária é a prioridade.
Fora da proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, os palestinos que chegam da Síria contam com ajuda de organizações não governamentais, da UNRWA e de facções locais. Há muito prejudicada por escassez de recursos, a UNRWA fornece pequenos pagamentos em dinheiro aos refugiados para aluguel e despesas, mas a organização só consegue oferecer esses pagamentos em intervalos de vários meses.
Enquanto a guerra síria incha as fileiras de deslocados no Oriente Médio, Dismorr pede para que os palestinos pegos no conflito não sejam esquecidos.
"Nós não podemos permitir que os palestinos sejam novamente marginalizados e caiam nas sombras", ela disse.
Um povo sem o direito à autodefesa, ñ importa onde estejam...mt crueldade o q os judeuSS fazem c os mesmos...uma diáspora. Repetem as covardias sofridas em um povo bem + fraco e seus irmãos...As instituições internacionais de defesa ao ser humano nada fazem p os proteger e ajudar, cadê o tal do TPI p condenar as ações do estado judeuSS?Lamentável.Sds.
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