Times da SWAT de Boston evacuam residências em Watertown atrás de suspeito de peprertar o atentado na Maratona de Boston |
Muros elevadíssimos, fileiras de arame farpado, barreiras de concreto e sentinelas fortemente armados. O hotel de rede internacional, situado ao norte de Sanaa, no Iêmen, claramente mudou de função. Inteiramente privatizado pela embaixada americana em janeiro, o estabelecimento – e seus 276 quartos – está lotado. Diplomatas, militares e agentes de inteligência residem ali, protegidos por um contingente de fuzileiros navais.
Situado a dois quilômetros da embaixada, o local foi batizado de "green zone" pelos iemenitas. É verdade que essa "zona verde" é menos extensa e menos povoada que seu célebre homônimo de Bagdá. Mas o enclave protegido mostra o impressionante aumento da presença americana no Iêmen nos últimos meses.
Os números exatos são mantidos em segredo, mas costuma-se admitir que os Estados Unidos, depois de terem aumentado em cinco vezes desde 2007 sua ajuda global ao Iêmen, dispõem de forças especiais em diversos quartéis do sul do país, entre elas a base aérea de Al-Anad.
As bases de um "novo Iêmen"
Em uma pesquisa realizada na primavera de 2012 a pedido do departamento de Estado, uma ampla maioria de iemenitas dizia apoiar os projetos americanos destinados a "melhorar os serviços básicos" e "a construção de escolas e hospitais". Já 46% das pessoas entrevistadas eram contra uma colaboração dos Estados Unidos para "matar ou capturar terroristas", e 60% se pronunciavam contra um "apoio aos partidos da oposição". "Os iemenitas estão esperando pela ajuda americana, mas não por tutela política", resumia o estudo.
Neste momento em que políticos e representantes da sociedade civil tentam estabelecer as bases de um "novo Iêmen", no contexto de um amplo diálogo nacional previsto para durar seis meses, a questão da política americana está causando mais polêmica do que nunca. Editorialistas não hesitam em chamar o embaixador dos Estados Unidos, Gerald M. Feierstein, de "novo ditador". A Al-Qaeda colocou sua cabeça a prêmio por um montante de três quilos de ouro -- ou US$ 23 mil (cerca de R$ 46 mil) por um soldado americano. As bases militares suspeitas de acolherem forças americanas são alvos frequentes de ataques terroristas. Políticos, parlamentares e defensores dos direitos humanos denunciam uma política obcecada por segurança e surda aos problemas econômicos e sociais do país. As ONGs têm feito protestos para denunciar a "política dos drones [aviões não tripulados]" e alertar sobre suas vítimas civis.
Para Ibrahim al-Mothana, militante político muito visado, o presidente americano, Barack Obama, "decepcionou" ao continuar durante seu primeiro mandato as práticas de seu antecessor. Durante sua presidência, o Iêmen chegou a se tornar o maior palco de operações dos drones, à frente do Paquistão. Uma política contraproducente, segundo Ibrahim al-Mothana, autor notável de uma coluna intitulada "Como os drones ajudam a Al-Qaeda". "Segundo os números oficiais, o peso da Al-Qaeda no Iêmen triplicou desde 2009", ele explica. "Os problemas de segurança em nosso país são sintomas de outras dificuldades, de ordem social, econômica e humanitária. Se esses fatores não forem abordados, então a tentativa americana de erradicar o terrorismo no Iêmen continuará sendo uma ilusão."
Um diplomata ocidental de alto escalão explica, sob condição de anonimato, que "certos dirigentes americanos entendem que a solução para o extremismo radical não se encontra em campanhas militares e ataques de drones, mas sim em uma política de reformas econômicas, políticas e sociais".
O Pentágono "dividido"
Mas o Pentágono continua "dividido", relativiza Mounir Mawari. Cidadão americano de origem iemenita, bem relacionado nos meios da Defesa em Washington, esse analista político, crítico do regime do presidente deposto Ali Abdallah Saleh, acaba de voltar para sua terra natal após 23 anos de exílio voluntário. "Certos dirigentes americanos apoiam totalmente o presidente Mansour Hadi e a transição política. Assim como Hillary Clinton antes dele, o secretário de Estado John Kerry se preocupa com a estabilidade do Iêmen. Mas outros, mesmo dentro do governo, não querem reconhecer que cometeram o erro de apoiar Ali Abdallah Saleh. Eles pensavam que Saleh trabalhava para eles, ao passo que ele trabalhava para si mesmo."
Durante anos o ex-autocrata se apresentou como um aliado indefectível dos Estados Unidos na linha de frente da luta antiterrorista. Mas muitos iemenitas acusavam o ex-presidente de brandir a ameaça da Al-Qaeda para se aproveitar de uma ajuda bilateral em constante aumento.
Para Mounir Mawari, que voltou ao Iêmen para participar do diálogo nacional, a política americana no Iêmen também está pagando o preço das antigas relações travadas pelo antigo regime com as agências de inteligência americanas. "John Brennan mantém relações pessoais com Saleh desde os anos 1990, quando ele era chefe local da CIA na Arábia Saudita", ele alega. "Se as pessoas não virem uma mudança de verdade, elas procurarão o Irã ou a Al-Qaeda. Os Estados Unidos precisam mudar sua abordagem, a menos que queiram sabotar seus próprios objetivos."
Mana al-Mathari, uma figura da juventude revolucionária, também está participando do diálogo nacional. "Os Estados Unidos sabem que Saleh pertence ao passado. Mas eles se recusam a cortar contato com o antigo regime para poderem controlar melhor as forças islamitas, e também os movimentos que surgiram com a mudança."
Será que Washington conseguirá ouvir a impaciência do povo iemenita? Mounir Mawari, o especialista que voltou do exílio, recorre às palavras de Winston Churchill: "Sempre podemos contar com os americanos para fazerem a coisa certa. Depois de terem esgotado todas as outras opções."
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