O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad |
A TV estatal do Irã transmitiu na semana passada um programa ao vivo no qual transeuntes eram colocados em uma cadeira para, então, serem questionados sobre o que fariam se fossem presidente.
Um homem disse que "trabalharia pelo povo". Um segundo pulou quando ouviu a pergunta. "Eu não quero esta cadeira!" disse ele.
De repente, uma mulher jovem agarrou o microfone. "Este programa é uma baboseira", disse. "Aqueles que realmente se sentam nessa cadeira querem apenas encher seus próprios bolsos."
O programa foi rapidamente interrompido para um comercial, mas foi um raro e revelador momento não roteirizado nos preparativos rigidamente controlados para a eleição presidencial de 14 de junho.
A eleição presidencial de 2009 foi um espetáculo exuberante e empolgante que provocou um poderoso aumento de otimismo na população, mas acabou com o trauma da repressão violenta. A eleição deste ano, ocorrendo sob circunstâncias altamente diferentes, promete ser mais contida.
Para a maioria, o entusiasmo de 2009 foi substituído, ao menos por ora, por uma indiferença nascida do medo e alimentada pela falta de candidatos carismáticos. Fala-se pouco em boicote, mas não há entusiasmo ou expectativa de que a eleição fará alguma diferença em suas vidas.
Hoje, a maioria das principais figuras da oposição em 2009 --políticos, dissidentes e jornalistas-- foi silenciada ou fugiu do país. Muitos ainda estão na prisão, enquanto os dois candidatos presidenciais e líderes do chamado Movimento Verde, Mir Hussein Moussavi e Mehdi Karroubi, permanecem sob prisão domiciliar.
Muitos ainda se sentem trapaceados, se não pelo resultado eleitoral, que muitos consideraram fraudulento, então pela forma como as queixas foram postas de lado pelas forças de segurança nas ruas de Teerã.
"Eu dei meu voto a Moussavi há quatro anos, e eles responderam com seus cassetetes", disse Asiye, 32, uma escritutária que, como outros neste artigo, não quis ser identificada por temor de retaliação. "Eu não estou dizendo que não votarei agora, mas, se o fizer, será no candidato que for mais crítico do sistema."
À medida que a eleição de 14 de junho se aproxima, há algumas poucas vozes dizendo abertamente --e com cuidado-- o que muitos dizem há muito tempo por trás de portas fechadas. O ex-presidente Mohammad Khatami, há muito tempo colocado de lado, atacou no sábado o "clima sufocante de segurança" no país. "A confiança entre o governo e a população está rasgada", disse ele. "Os jovens e a classe média perderam toda a esperança."
Mas Khatami é uma figura do establishment, acreditam muitos aqui, talvez tolerado pelo governo como alguém que carece de seguidores e representa pouco mais que um desafio retórico.
Diferentemente do clima festivo de 2009, quando as pessoas iam às ruas toda noite nas semanas que antecederam a votação, agora a maioria dos eleitores potenciais está mais preocupada com a economia em dificuldades, com a inflação de dois dígitos e a insegurança em relação à direção política da república islâmica.
Não há indicação de que as pessoas estejam interessadas em voltar às ruas e, se votarem, muitos dizem, será apenas para buscar vingança contra o sistema.
"Quem é capaz de enfrentar os que estão no poder?" perguntou Ali Akbar, 28, um homem musculoso diante de uma livraria na rua Enghelab, em Teerã. "Eu votarei nele."
Mas, em comparação a outros anos, o campo de jogo está extremamente incerto e as emoções podem mudar assim que os candidatos declararem sua intenção de concorrer, o que acontecerá até o sábado. Os candidatos finais serão posteriormente selecionados pelo Conselho Guardião.
Além dos candidatos apresentados pela poderosa facção tradicionalista de clérigos e comandantes da Guarda Revolucionária, muitos no país estão aguardando para ver se o braço direito do presidente Mahmoud Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, concorrerá. O aiatolá Ali Akbar Rafsanjani, um ex-presidente, estaria considerando concorrer.
Apesar do trauma de quase seis meses de choques de rua sem precedentes em 2009, não se fala em boicote, mesmo entre os ex-membros da oposição. Nem aqueles que apoiavam o Movimento Verde estão se unindo em apoio a um candidato.
"Eu votarei em um deles", disse Asiye, a escriturária. "Eles colocarão um fim a este status quo horrível."
Recentemente, em um casamento perto da cidade de Karaj, a noroeste de Teerã, duas mulheres resumiram o dilema diante daqueles que vivem no Irã, mas são críticos do sistema de governo.
"Nós precisamos eleger o menos ruim dos piores", disse Simin. "Assim, quem sabe, conseguiremos alguma mudança."
Sua amiga Maral não tinha tanta certeza. "Na última vez nós vimos o que eles fizeram com nossos votos. Eu nunca mais vou votar de novo."
Muitos nas maiores cidades do Irã dizem estar se concentrando em suas próprias vidas. A melancolia tomou conta de muitos.
Pouco antes de uma recente apresentação de "Seus Olhos", um monólogo escrito e interpretado pela renomada atriz Bahareh Rahnama, um ex-vice-presidente, Mohammad Ali Abtahi, entrou por uma porta lateral com sua filha adolescente.
Abtahi, com aparência frágil, sorriu timidamente depois que várias pessoas na plateia se levantaram de suas cadeiras em sinal de respeito.
Ele foi um dos primeiros iranianos proeminentes declarados inimigos do Estado depois da eleição de 2009. Meses depois ele apareceu em um julgamento coletivo televisionado, onde confessou ter participado de uma trama para derrubar o governo.
Agora fora da prisão, ele disse que não planeja voltar à política. "De que adiantaria?" disse. "Não há mais lugar para nós. Eles não nos escutam."
A certa altura da peça, Rahnama, 38, olhou ao redor no teatro enquanto lágrimas corriam pelo seu rosto até seus olhos se fixarem nas pessoas nas primeiras filas.
"Maldito câncer chamado nostalgia", ela soluçou. "Maldito seja o passado."
A mesma reportagem que foi feita sobre o Irã, poderia ser feita em qualquer país, aqui no Brasil mesmo, quem está empolgado (tirando uma minoria de fanáticos), com ás eleições do ano que vem? Que diferença tem trocar o 6 pelo meia duzia se for trocar? Na Europa cada eleição, cada show, o que muda, que diferença tem o governante do partido mais conservador, pelo que se diz de esquerda apenas para pegar voto dos que não estão gostando do elitismo gritante que existe? No final das contas o que a democracia é se não um mero circo pra fazer o povo achar que tem poder e disfarçar o poder de quem tem muita grana em paralelo? A única diferença do Irã, ganhe quem ganhe, o Aiatolá continua mandando e acabou, no ocidente ganhe quem ganhar ás empresas e bancos e bancos continuaram mandando na economia e acabou e a única diferença real.
ResponderExcluir* Continuarão
ResponderExcluirEntre as dezenas de candidatos, acho que são 38 não contei, não tem um nome dos reformistas praticamente dizimados pelos expurgos, mas do bloco conservador aparece políticos desafetos do aitolá Khameini como ex-presidente Hashemi Rafsanjani e Esfandiar Rahim (apoiado por Mahmoud Ahmadinejad).
ResponderExcluirIsso deve atrapalhar o controle feito até agora por que são facções e não partidos não são tão divergentes, mas não conseguem se compor como demostrou a pulverização, tudo isso em um quadro complicado que poderá piorar se o petróleo e seus derivados cairem de preço.
Trinta e oito? São 686 candidatos:
Excluirhttp://edition.cnn.com/2013/05/12/world/meast/iran-presidential-election
686 candidatos a presidente pior a menos que seja algum truque para vetar candidatos e demostrar via quantidade que o problema é localizado.
ExcluirSobre o número eu tinha visto apenas a foto da ISNA sobre a quantidade de candidatos.
http://www.enduringamerica.com/storage/blog-post-images/IRAN%2014-05-13%20CANDIDATES%20PRESIDENTIAL%20ELECTION.jpg?__SQUARESPACE_CACHEVERSION=1368518557916
Quem manda por lá é o clérico; aiatolá, presidente é tipo um primeiro ministro. Pouco importa quantos concorrem ou quem será "nomeado" presidente.
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