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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Livro sugere que Merkel era mais próxima do regime comunista do que se imaginava


Merkel
Uma biografia que enfatiza o tempo que a chanceler alemã Angela Merkel viveu na Alemanha Oriental está ganhando as manchetes, porque sugere que ela era mais próxima do sistema comunista do que se sabia até então. Seu porta-voz negou que ela tenha escondido alguma informação.

A nova biografia que abrange a vida da chanceler Angela Merkel na Alemanha Oriental tem causado polêmica ao sugerir que ela era mais próxima do aparelho comunista e de sua ideologia do que se pensava.

Escrita pelos jornalistas Gunther Lachmann e Ralf Georg Reuth, o livro cita Gunter Walther, um ex-colega dela na Academia de Ciências de Berlim Oriental, dizendo que ela tinha sido secretária de"Agitação e Propaganda" na Freie Deutsche Jugend (FDJ), organização juvenil do instituto. Merkel, física de formação, trabalhou na academia de 1978 até 1989.

Trechos do livro, "The First Life of Angela M." ["A Primeira Vida de Angela M."], foram publicados na revista de notícias Focus. O jornal de grande circulação Bild também deu ao livro uma cobertura de destaque nos últimos dias.

O livro explora a vida de Merkel na República Democrática Alemã (RDA), onde seu pai Horst Kasner era um pastor protestante e um socialista comprometido. Ele se mudou da Alemanha Ocidental para a Alemanha Oriental em 1954.

Merkel disse no passado que seu papel no FDJ na academia era mais de uma secretária cultural e que seus deveres incluíam comprar ingresso de teatro e organizar leituras de livros.

Proximidade com o sistema
Mas o ex-ministro dos Transportes alemão Günther Krause – um político alemão oriental que trabalhou com ela nos últimos meses do GDR e como colega ministro no governo do ex-chanceler Helmut Kohl no início dos anos 90 – contradiz no livro as declarações dela e diz que ela propagava o marxismo-leninismo.

"Com a Agitação e Propaganda, você é responsável pela lavagem cerebral no sentido do marxismo", disse ele. "Essa foi a sua tarefa e isso não era trabalho cultural. Agitação e Propaganda, este era o grupo que se destinava a preencher o cérebro das pessoas com tudo o que se deveria acreditar na Alemanha Oriental, com todos os truques ideológicos. E o que me irrita nessa mulher é simplesmente o fato de que ela não admitiu sua proximidade com o sistema na RDA. Do ponto de vista científico, ela não era indispensável na Academia de Ciências. Mas era útil como a filha de um pastor no contexto do marxismo- leninismo. E ela está negando isso. Mas é a verdade."

Merkel disse que não havia encoberto nada sobre seu passado. "Eu só posso confiar na minha memória", disse ela numa sessão pública de seu filme favorito, um popular filme de amor feito na Alemanha Oriental. "Se alguma coisa se mostrar diferente, posso viver com isso."

Seu porta-voz, Steffen Seibert, negou que a chanceler tenha encoberto aspectos políticos de sua vida na Alemanha Oriental. "A chanceler vem fazendo declarações sobre sua vida na RDA há anos, em livros e entrevistas", disse ele. "Ela sempre respondeu as perguntas abertamente e com base em suas memórias honestas."

O livro acrescenta que Merkel e seu pai reusaram todas as tentativas do Ministério de Segurança do ou da Stasi, a temida polícia secreta, de recrutá-los como informantes.

Retardatária no Movimento de Reforma da Alemanha Oriental
Merkel, que fala bem o russo, estava bem informada sobre a Perestroika e o distanciamento do governo soviético do regime da Alemanha Oriental, diz o livro. Ela leu os discursos do presidente soviético Mikhail Gorbachev no jornal do Partido Comunista, Pravda, e fez contatos com grupos de reforma da Alemanha Oriental apenas alguns meses antes da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989.

O livro diz que ela, seu pai e seu irmão Marcus, discutiram os acontecimentos políticos com outras pessoas em setembro de 1989. Para eles, diz a biografia, a unificação alemã ainda era inconcebível naquele ponto "não só porque não cabia dentro da ordem mundial bipolar porque mas porque eles rejeitavam duramente o sistema de sociedade ocidental."

Ele cita Merkel como tendo dito na época: "Se reformarmos a GDR, não será nos termos da República Federal"

A ascensão política de Merkel depois disso é bem documentada. Ela se juntou ao movimento de oposição política Demokratischer Aufbruch (Despertar Democrático) em dezembro de 1989, tornou-se vice-porta-voz do governo transicional democraticamente eleito do leste da Alemanha depois das eleições de maio de 1990 e se juntou ao partido fortemente conservador União Democrata Cristã nos anos 90 – uma atitude surpreendente dadas suas aparentes inclinações políticas anteriores.

Poucos sabem o que ela está realmente pensando
O chanceler na época, Helmut Kohl, viu seu potencial e a tornou sua ministra de Assuntos da Família no gabinete depois das eleições alemãs de 1990. O resto é história.

"Só Angela Merkel pode responder o quanto de sua antiga vida ainda está presente nela", escreveu a revista Focus.

Seu passado pode ter contribuído para torná-la inescrutável. A Focus cita Werner Schulz, membro do Parlamento Europeu para o Partido Verde que cresceu na Alemanha Oriental, que teria dito: "Seu segredo é um legado da RDA, acredito. Na época era necessário ter cuidado para não deixar escapar suas opiniões sem pensar primeiro. (...) Ainda hoje são poucas as pessoas que sabem o que ela está realmente pensando".

No poder desde 2005, Merkel está concorrendo a um terceiro mandato nas eleições gerais de setembro. As expectativas são que ela vença. Seu jeito insondável e sua astúcia política são lendários. Ela marginalizou cada potencial rival no CDU, amplamente católico e dominado por homens. Não há nenhum sucessor óbvio para ela em seu partido e ela é muito mais popular do que seu adversário do Partido Social Democrata, de centro-esquerda, Peer Steinbrück.

Livro é criticado
Segundo o jornalista da Spiegel Stefan Berg, o livro não esclareceu os primeiros 35 anos da vida de Merkel. Em vez disso, escreveu Berg, ele lança um novo véu sobre esse período – um véu de suposta conspiração. "Uma quantidade desproporcional de desconfiança permeia este livro", escreveu Berg, que nasceu em Berlim Oriental em 1964. "Enquanto as próprias declarações de Merkel são colocadas em dúvida, relatórios de inteligência são tomados pelo seu valor nominal e frases socialistas são levadas mais a sério do que eram nos tempos da RDA."

O livro faz a sugestão "pérfida" de que poderes secretos auxiliaram a ascensão de Merkel na política, e que "ela é uma espécie de planta Soviética", escreve Berg.

"Quem viveu na RDA podem se lembrar que tudo estava em desordem no outono de 1989, quando carreiras terminavam e novas outras surgiram – muito disso por acaso, de forma não intencional, surpreendente. Mas a coincidência é inimiga dos jornalistas que – primeiro – não estavam lá e – segundo – costumam ver espiões ou outras forças ocultas em atuação. Quando não encontram pistas ou não conseguem interpretar as pistas que encontram, eles vêem isso como mais uma prova de sua teoria".

O livro, escreve Berg, pinta um cenário no qual "apenas as pessoas ingênuas podem acreditar que Merkel não foi orientada por forças desconhecidas." Na verdade, ele não apresenta novos fatos significativos, acrescenta.

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