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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Putin se esforça para se transformar no super-patriota da Rússia (1ª Parte)


Um ano atrás, Vladimir Putin voltou ao Kremlin depois de um breve intervalo. Desde então, ele reduziu acentuadamente a liberdade que manifestantes tinham para organizar protestos, minou o Poder Judiciário e apresentou-se como um patriota do povo. Agora ele quer se libertar de seu partido e do Parlamento.

É claro que ele está chegando atrasado. Ele sempre chega. Desde as primeiras horas da manhã, centenas de pessoas aguardam em uma gélida fábrica de propriedade da Rosvertol, uma fabricante de aeronaves que produz helicópteros há 73 anos na cidade de Rostov-on-Don, localizada no sudeste da Rússia. As arquibancadas erguidas para acomodar o público parecem ter sido construídas para uma luta de boxe, pois circundam o palco. As câmeras de televisão estão prontas para iniciar a transmissão, e um bando de guarda-costas foi posto de prontidão. Em seguida, o convidado entra, com quase uma hora de atraso: o presidente russo, Vladimir Putin. Ele está vestindo um terno azul escuro, uma camisa branca e uma gravata vermelha – e seu cabelo fino foi cuidadosamente penteado sobre sua cabeça. Os aplausos são ensurdecedores.

Putin fez uma aparição-relâmpago na primeira conferência realizada pela Frente Popular de Toda a Rússia, movimento que ele fundou em 2011. Entre os espectadores estão trabalhadores dos Urais, professores da região do Volga, artistas de Moscou e funcionários públicos que residem na ilha de Sakhalin, localizada no Oceano Pacífico – além de ministros do governo, autoridades militares e homens vestidos com uniformes cossacos coloridos. Putin diz que está feliz por estar ali, e acrescenta que a Frente Popular tem uma missão especial: "ela tem como objetivo reunir pessoas com uma ampla e diferenciada gama de pontos de vista para que elaborem uma estratégia para a nova Rússia". O tema da agenda de hoje é a justiça social.

As pessoas presentes no salão da fábrica se prepararam para este momento após se reunirem em grupos de trabalho que prepararam relatórios descrevendo o que está errado na Rússia: os professores de Moscou ganham 48 mil rublos por mês (o equivalente a US$ 1.530), enquanto seus colegas das zonas rurais só recebem um terço dessa quantia; não existem livros didáticos padronizados de história e ninguém sabe exatamente como abordar o papel de Stalin na União Soviética; o presidente da estatal Rostelecom foi recentemente agraciado com 233 milhões de rublos, a maior indenização por desligamento sem justa causa da história da Rússia, enquanto os salários dos trabalhadores estão diminuindo em várias regiões. Eles falam sobre a pobreza infantil, sobre oportunidades para o avanço social e as contribuições para a previdência social pagas pelos pequenos empresários.

Como sempre, a apresentação do Kremlin é impecável. O pano de fundo colocado atrás das arquibancadas é de um azul radiante e moderno, e uma jovem atraente foi colocada ao lado de Putin. Tudo foi projetado para refletir a nova Rússia, que é o foco do dia – mesmo que a velha União Soviética surja ocasionalmente. Os oradores, por exemplo, pedem a reintrodução dos títulos honoríficos para os trabalhadores-modelo – incluindo o prêmio de "Mãe Heroína" para as mulheres responsáveis por famílias numerosas – e também pedem o uso de uniformes escolares.

O papel favorito de Putin
O presidente acena com a cabeça em concordância. Ele não vê razão para se opor. Ele permite que as pessoas falem e ouve com atenção até mesmo o orador mais prolixo. Ele faz perguntas, elogia, debate, critica o ministro apropriado e sabe quase todas as principais estatísticas de cor.

"Como é que você consegue fazer isso, Vladimir Vladimirovich?", pergunta um médico da plateia, que está absolutamente impressionado com o presidente. Putin acaba de desembarcar de um voo de 12 horas proveniente da África do Sul – mas não demonstra nenhum cansaço.

Putin estava desempenhando o seu papel favorito em Rostov-on-Don no final de março passado: o de pai dedicado da nação. Ninguém perguntou sobre os boatos de suas ligações com mulheres mais jovens nem sobre questões políticas incômodas. Ninguém quis saber sobre a banda feminista russa Pussy Riot, sobre os ataques a organizações não-governamentais nem sobre a proibição da adoção de crianças russas por cidadãos norte-americanos. Ao contrário das visitas de Putin ao Ocidente, ele não teve que justificar as coisas que ele acredita estarem certas. Ninguém desafiou sua autoridade.

Já se passaram exatamente 12 meses desde que Putin foi reeleito presidente e ele está iniciando seu 10º ano como o chefe do Kremlin – e parece mais confiante e seguro de si do que nunca. Aparentemente as pessoas esqueceram-se que, pouco mais de um ano atrás, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o Kremlin. Putin ainda pode contar com o apoio acrítico de metade da população russa, e ele recuperou a aura do governante aparentemente invulnerável.

Mas, ainda assim, o homem que apareceu em Rostov-on-Don não era mais o Putin que entrou no Kremlin pela terceira vez no dia 7 de maio de 2012. Em vez disso, este ano Putin mudou radicalmente de rumo e alterou seu estilo de liderança.

Para descobrir quem é este novo Putin, e saber o que ele quer, é bom conhecer três homens: Gennady Gudkov, ex-funcionário da KGB que foi marginalizado e se juntou à oposição, Dmitry Badovski, o ideólogo do Kremlin, e Alexander Prokhanov, um stalinista que Putin trouxe de volta para o cenário político.

"Putin finalmente percebeu o sinal dos tempos", diz Prokhanov, 75. "Durante anos, ele falou sobre a necessidade de dar uma sacudida no país, mas nada aconteceu. Agora, isso aparentemente está mudando, e eu vou usar meus modestos poderes para ajudá-lo a alcançar esse objetivo".

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