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terça-feira, 14 de maio de 2013

Entrevista com Ali Akbar Salehi, chanceler iraniano


O ministro de relações exteriores iraniano, Ali Akbar Salehi, discute a guerra civil na Síria, o repúdio de seu governo a armas químicas e sua crença de que Teerã está em forte posição para iniciar negociações entre a oposição e o governo em Damasco.

Ali Akbar Salehi parece exausto. Nas últimas 48 horas, o ministro de relações exteriores iraniano teve uma longa reunião na Jordânia com o rei Abdullah 2º antes de voar para Damasco, a capital sitiada da Síria, para discutir a situação com o presidente Bashar Assad. Ele mal voltou a Teerã quando partiu em viagem de campanha dentro do Irã, acompanhando seu próprio presidente, que está no meio de uma disputa eleitoral.

Ainda assim, Salehi encontrou tempo para se reunir com os editores do "Spiegel" em Teerã na última quinta-feira (9). Israel havia bombardeado alvos em Damasco apenas dez dias antes. A luta pelo poder na Síria vem se agravando desde o início do ano, e é possível que armas químicas tenham sido utilizadas.

O Irã, grande aliado de Assad, está desempenhando um importante papel, tanto abertamente quanto nos bastidores. Depois de duas conferências com a Síria no ano passado, Salehi agora planeja outra reunião para pôr fim ao banho de sangue.

Moscou compra tempo
Moscou e Washington compartilham esse mesmo objetivo e anunciaram uma reunião de cúpula internacional para tratar da crise na Síria. Os russos, porém, vêm fazendo todo o possível para apoiar o regime de Assad. Além de fornecer armas e munição, Moscou posicionou tropas em sua base naval na cidade portuária síria de Tartus e em posições de defesa aérea.

Na realidade, Moscou parece estar comprando tempo, principalmente para impedir que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, intervenha militarmente. Diante das alegações de uso de gás venenoso contra civis, Obama pode ser forçado a fazer exatamente isso, apesar de não ter o desejo de se envolver na guerra. Segundo o "Wall Street Journal", Obama atualmente prefere alcançar uma solução negociada em vez de derrubar Assad. O presidente americano quer preservar o aparato do governo na Síria, de forma a evitar o caos total.

Enquanto o Ocidente está observando com preocupação o fortalecimento dos fanáticos sunitas entre os rebeldes na Síria, os alawitas, que estão lutando por Assad, estão pedindo uma campanha contra seus adversários muçulmanos. O Hezbollah xiita do Líbano também está se envolvendo na guerra, com milhares de seus homens já posicionados na Síria.

De acordo com informações de inteligência ocidental obtidas pelo "Spiegel", o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e o general da Guarda Revolucionária Qasem Soleimani decidiram, no início de março, transferir o mais rápido possível seu escritório de liaison de Damasco para Teerã. Eles também querem enviar mais combatentes para ajudar Assad.

Salehi, 64, é uma figura crucial no Oriente Médio e um dos poucos políticos iranianos a contar com a confiança de muitas figuras importantes na região enquanto ao mesmo tempo desfruta de apreciação pelo Ocidente. Físico nuclear, Salehi é considerado relativamente aberto. Ele recebeu o título de PhD pelo prestigiado MIT e tem mais familiaridade com o programa nuclear iraniano do que a maioria dos políticos.

Acima de tudo, Salehi, como poucos membros do governo, tem pleno apoio do líder revolucionário aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final em todas as principais políticas de Teerã.

Pergunta: Ministro, o senhor acaba de voltar de Damasco, onde conversou com o presidente Bashar Assad. Jatos israelenses bombardearam vários alvos sírios dez dias atrás. Como Assad reagiu aos ataques israelenses?
Salehi: Ele não se espantou com o ataque militar. O homem que encontrei está extremamente determinado e mantendo seu rumo. Eu tive a mesma impressão há seis meses, mas desta vez o presidente parecia ainda mais resoluto. Quem acha que Bashar Assad está enfraquecendo ou que seu governo está desmoronando está iludido. O presidente está satisfeito com o progresso que suas forças armadas estão fazendo. Ele diz que seus líderes militares estão no controle da situação.

Pergunta: Isso contradiz todas as informações que temos. Os rebeldes parecem estar avançando.
Salehi: Não acredito que Assad esteja retratando a situação de forma pouco realista. Quando o conflito começou, há dois anos, muitos disseram que seu governo não duraria. E agora? Ele ainda está lá. Não subestime Bashar Assad.

Pergunta: Qual é a sua avaliação da reação contida de Assad aos ataques aéreos de Israel?
Salehi: Não é sinal de fraqueza. O presidente reagiu com tranquilidade. Da próxima vez, a Síria vai contra-atacar, ele me disse.

Pergunta: Assad está ameaçando Israel com guerra?
Salehi: O presidente disse que seu povo o está exortando a se defender, feroz e imediatamente. A situação vai piora,r se o outro lado não se detiver e continuar a bombardeando os militares e as instalações de pesquisa sírias.

Pergunta: Essa é a versão de Assad. De acordo com informações obtidas por serviços de inteligência ocidentais, os alvos dos ataques foram carregamentos de armas para o grupo libanês Hezbollah, que é alinhado ao regime sírio.
Salehi: Vocês sabem que eles podem alegar que tudo é uma instalação da Hezbollah, como forma de justificar uma intervenção em assuntos internos sírios.

Pergunta: Mas o senhor certamente não está negando que o Irã fornece armas à Hezbollah, algumas das quais são transportadas pela Síria.
Salehi: Eles nem precisam disso. O líder da Hezbollah, Sayyid Hassan Nasrallah, disse recentemente que está muito bem fornido e que não tem necessidade (de armas). Independentemente disso, a Hezbollah está envolvida em uma resistência que apoiamos. E os sírios têm pouca necessidade da nossa ajuda. O presidente Assad tem um grande exército com centenas de milhares de homens armados. Durante as décadas, seu governo se armou contra seu inimigo implacável, Israel, e ele não precisa de algumas armas daqui ou dali.

Pergunta: Agências de inteligência ocidentais dizem que o Irã já tem um plano B caso Damasco não possa mais servir como centro de transporte de armas iranianos para a Hezbollah: um carregamento aéreo entre Teerã e Beirute.
Salehi: Estou cansado de ter que negar constantemente acusações que são completamente absurdas. Quem alega isso deve fornecer provas.
Pergunta: Então como o senhor explica os ataques israelenses?

Salehi: Foi uma campanha coordenada entre os rebeldes, que estão perdendo terreno, e o regime sionista. Os israelenses tentaram ajudar os rebeldes atacando o exército sírio. Não teve nada a ver com suas posições ou com depósitos de armas da Hezbollah. Soube que um comandante rebelde até expressou publicamente sua gratidão pelo apoio israelense.

Pergunta: Então Assad não sofre mais pressão do que a oposição armada?
Salehi: O presidente tem a situação completamente sob controle. Ele está muito bem informado sobre tudo o que acontece. Bashar Assad acredita na vitória e seguirá seu caminho resolutamente.

Pergunta: Ele acredita seriamente que pode sobreviver a este conflito?
Salehi: Não tive a impressão que Damasco estava sitiada. A cidade parece vibrante e limpa, as ruas estão cheias, há trânsito, e as pessoas estão indo trabalhar. Em nossa chegada ao aeroporto, vi os agricultores trabalhando nos campos. Até eu fiquei impressionado como parecia tudo normal.

Pergunta: Sua descrição soa muito distante do que nossos colegas estão informando. Eles dizem que os rebeldes já estão nos subúrbios da cidade.
Salehi: Eu tenho uma avaliação diferente. De acordo com nossas informações, a população não apoia a porção armada da oposição. Cada vez mais, as pessoas estão entendendo que muitos dos insurgentes são mercenários controlados por forças estrangeiras…

Pergunta: … o senhor quer dizer a Arábia Saudita e outros países do Golfo?
Salehi: Como ministro de relações exteriores, não posso citar nomes. Contudo, há países apoiando esses mercenários. Poucos meses atrás, talvez houvesse alguma simpatia por esses rebeldes entre os sírios, mas isso mudou. As pessoas acordaram e agora se opõem a eles.

"A luta pela Síria em parte é uma guerra por tabela"
Pergunta: O senhor está condenado ao otimismo. Afinal, seu governo não pode sustentar a queda do regime de Assad.
Salehi: De fato, a Síria é uma importante parceira para nós, que não queremos perder. Mas alguns países simplificam muito as coisas. Eles acreditam que ao atacarem a Síria vão nos enfraquecer. Neste sentido, a luta pela Síria em parte é uma guerra por tabela. E nós admiramos o governo sírio por impor tamanha resistência.

Pergunta: Mas cresce uma ameaça a toda a região.
Salehi: Haverá sérias consequências se Israel não se contiver. Você pode incendiar uma floresta inteira com um único fósforo. Entretanto, a expansão do conflito seria extremamente perigosa para os sionistas, e por isso vão pensar com cuidado sobre o que fazer.

Pergunta: O regime de Assad tem o seu apoio incondicional, mesmo se usar armas químicas na guerra civil?
Salehi: Nós também fomos alvo de muitos ataques por gás venenoso na guerra de oito anos com o Iraque. Condenamos o uso de armas químicas.

Spiegel: Então vocês teriam que abandonar o apoio a Assad, se houvesse evidências de uso de armas químicas.
Salehi: Definitivamente, somos contra armas de destruição em massa de todos os tipos.

Pergunta: Mas o regime tem enormes estoques. E há indicações que gás venenoso foi usado na Síria, apesar de em pequenas proporções.
Salehi: Mas não pelas tropas do presidente. Foi o governo sírio que chamou a atenção da Organização das Nações Unidas para as vítimas de ataques de gás. Estou convencido que os mercenários estrangeiros foram os culpados. Ainda assim, escrevi uma carta ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, instando-o a investigar esses incidentes horríveis. Nós pedimos à ONU que enviasse inspetores.

Pergunta: Há civis entre as vítimas. Por que os rebeldes fariam algo assim?
Salehi: Para culpar Assad. E talvez para ver como os EUA reagiriam. O presidente Obama disse que não toleraria o uso de armas químicas pelo governo sírio. Os rebeldes querem trazer os EUA para a guerra.

Pergunta: Vocês têm o mesmo limite que os EUA –"o Grande Satã", em uma aliança estranha.
Salehi: É uma questão que envolve um de nossos princípios fundamentais: nunca toleraremos o uso de armas de destruição em massa, não importa por quem. Se outros compartilham nossos princípios, achamos bom, não importa quem seja.

Pergunta: Moscou e Washington querem organizar uma conferência internacional para tratar da Síria. Vocês participarão?
Salehi: Ainda não recebemos um convite. Mas evidentemente que participaríamos. Somos um fator importante na região. Podemos iniciar negociações entre a oposição e o governo na Síria. Mas o conflito só pode ser resolvido se todos buscarem uma solução sem restrições. Para nós, isso significa que o fim de Assad não pode ser uma pré-condição para as negociações.

Pergunta: Então quais soluções Teerã propõe?
Salehi: Não estamos agindo sozinhos, e sim em contato constante com nossos amigos no Cairo. Os egípcios têm um plano e, mesmo não concordando com todos os detalhes, apoiamos a proposta deles.

Pergunta: Há um novo eixo Cairo-Teerã se formando?
Salehi: Estamos expandindo nosso relacionamento e acreditamos que o Egito pode fazer muita coisa no mundo árabe com sua influência política. Compartilhamos três demandas no caso da Síria: não deve haver intervenção estrangeira, a integridade e a soberania do país devem ser preservadas e o governo e a oposição devem formar uma liderança interina compartilhada. Essa liderança deve liderar o país para uma nova era. Não há alternativa.

Pergunta: Vocês também têm uma solução para outro importante conflito, a disputa em torno do programa nuclear iraniano?
Salehi: Temos direito ao uso civil de energia nuclear. Nosso país inteiro quer que defendamos esse direito.

Spiegel: O presidente Mahmoud Ahmadinejad provocou repetidamente o Ocidente. O Irã será mais receptivo à comunidade global depois que eleger um novo presidente, no dia 14 de junho?
Salehi: Certamente não haverá cessões nesta questão, independentemente do viés político do novo presidente. Ainda assim, espero que possamos encontrar um território comum nas próximas rodadas de negociação e chegarmos a uma solução que beneficie os dois lados.

Pergunta: Parece a mesma velha história. Teerã está tentando comprar tempo para que possa continuar perseguindo seu programa nuclear.
Salehi: Vejo movimentos dos dois lados. Estou confiante que vamos fazer um progresso substancial. E o próximo presidente sem dúvida vai abordar o problema com novo vigor. Sua tarefa mais importante será melhorar os relacionamentos internacionais do Irã. Temos muitos políticos experientes. Meu desejo é que o novo presidente supere os problemas que existem há décadas.

Pergunta: Aqui em Teerã, estamos ouvindo que é provável que o senhor seja o ministro de relações exteriores também do próximo governo.
Salehi: Essa decisão caberá ao novo presidente, mas eu ficaria feliz em continuar a servir o meu país.

2 comentários:

  1. È bom ouvir outro lado também. Ta na cara que os terroristas estão loucos para que os EUA entrassem na guerra. Atém usaram arma química para forçar a barra.

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  2. Olha retorica a parte de todo político, essa reportagem me pareceu bem realista, vejamos dizerem que Damasco está sitiada é uma piada, confrontos esporádicos em suburbios de Damasco já existe desde do início do levante. Outra questão quando ele citou chamou o exército sírio, de o grande exército sírio, temos que levar em conta que não estamos falando dessas miniaturas de exércitos fajutos ocidentais ( a maior parte da própria OTAN hoje), que escondem suas fragilidades apenas por terem pequenas quantidades de equipamentos de ponta,e no final das contas se escondem debaixo da saia americana para se acharem protegidos, o exercito sírio possui um arsenal vasto e operacional, além de ter passado por uma modernização em alguns setores das forças armadas, principalmente na defesa antiaérea. Além do exército regular, o Assad possui duas divisões de elite (Guarda Republicana e 4a divisão blindada), o Assad possui duas forças forças paramilitares ( a força de defesa nacional e os shabihas), além de possuir um dos maiores arsenais químicos do planeta, definitivamente o Assad não depende tanto de segundos e terceiros como a mídia ás vezes gosta de fazer parecer para desmerecer o fato dele ter conseguido manter uma guerra de desgaste como vem mantendo, sabendo racionar bem o vasto arsenal que possui.

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