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segunda-feira, 13 de maio de 2013

China tenta se firmar como potência diplomática e mira questão palestina

Os presidentes da China, Xi Jinping (à direita), e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, participam de cerimônia no Grande Salão do Povo

As coincidências em política na China são um fenômeno raro, e quando se trata de política externa, ainda mais. Daí que as visitas realizadas nesta semana ao país asiático pelo presidente palestino, Mahmud Abbas, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enviaram uma clara mensagem de que o novo governo chinês, liderado pelo presidente Xi Jinping, quer exercer um papel cada vez maior na diplomacia internacional. Pequim incitou os dois dirigentes a reativar o processo de paz, estagnado em 2010 apesar das pressões dos EUA, Rússia e UE, tradicionalmente os principais atores na diplomacia do Oriente Médio.

"Esperamos que Israel e Palestina façam esforços conjuntos e adotem medidas verossímeis para edificar a confiança mútua, passo a passo, e retomar as conversações de paz assim que possível", disse na quinta-feira Xi em seu encontro com Netanyahu no Grande Palácio do Povo, segundo a agência de notícias oficial Xinhua. "Só quando forem protegidos os direitos legítimos de todos os países poderá haver paz e estabilidade permanentes na região."

Na véspera, o primeiro-ministro Li Keqiang afirmou que a China, como "amiga tanto de Israel como da Palestina", quer servir de intermediária para promover o processo de paz.

Xi Jinping apresentou na segunda-feira uma proposta de quatro pontos para solucionar o conflito na reunião que teve com Abbas, enquanto o Ministério das Relações Exteriores se ofereceu para organizar um encontro entre os dois líderes - aproveitando a estada de ambos em Pequim -, que não ocorreu.

As viagens "ao mesmo tempo" de Abbas (de domingo a terça-feira) e Netanyahu (de segunda a sexta-feira) "dizem tudo sobre a crescente influência da China na política internacional", afirma Zhiqun Zhu, professor de relações internacionais na Universidade Bucknell (Pensilvânia). "A China é uma das poucas grandes potências que mantém estreitas relações com Israel e com a Palestina, por isso, o que diz ou faz tem muito peso."

Yuen Pau Woo, presidente da Fundação Ásia-Pacífico do Canadá, concorda. "Que os líderes da Palestina e Israel viajem à China na mesma semana pode ser uma coincidência, mas é um sinal do poder e da sofisticação da diplomacia chinesa e da inclinação de Pequim a entrar nas questões do Oriente Médio, embora com cuidado", diz.

Papel de Pequim
A China se envolveu tradicionalmente pouco no plano político e diplomático no Oriente Médio, onde se concentrou até agora em seus interesses econômicos e em manter um delicado equilíbrio com os diferentes atores; mas "desde o início da Primavera Árabe repensou sua política" na região, segundo o Instituto de Estudos para a Segurança Nacional, um centro de pensadores israelenses. "A Primavera Árabe, que prejudicou os interesses econômicos da China na região, somada à intenção declarada de Pequim nos últimos anos de conseguir uma posição importante na política mundial, conduziram a China a pensar que sua atual política para o Oriente Médio se esgotou", indica o instituto em um artigo publicado na semana passada.

Segundo Zhiqun Zhu, a iniciativa de Xi é "pragmática, realista e realizável se ambas as partes a seguirem de forma estrita". Yuen mostra-se menos entusiástico: "Os quatro pontos não são controversos. O que é interessante é a confiança em si mesma da China ao falar de uma solução de dois Estados, sem medo de que esse mesmo argumento seja utilizado pelos defensores da soberania de Taiwan".
Outros especialistas citados pela imprensa oficial chinesa acreditam que o documento dará impulso aos esforços internacionais para reativar as conversas. O secretário de Estado americano, John Kerry, tem marcada uma viagem na semana que vem para o Oriente Médio, para reunir-se com Netanyahu e Abbas e promover as negociações, paralisadas em 2010 devido às diferenças sobre a construção de assentamentos judaicos na Cisjordânia.

O duplo convite e a proposta "mostram que a nova direção chinesa dá grande importância e adotou uma atitude mais ativa e positiva para o Oriente Médio, com o objetivo de contribuir para a solução da questão palestina", afirma Li Guofu, pesquisador no Instituto de Estudos Internacionais, em Pequim. "A China está animando as duas partes a empreenderem ações práticas para edificar a confiança mútua, e que retomem as conversações de paz. Isto não é só de interesse fundamental para ambos, como também para a paz e a estabilidade no Oriente Médio e em todo o mundo, o que serve aos interesses fundamentais da China."

Os encontros dos líderes chineses com Netanyahu e Abbas também abordaram a economia - com a assinatura de vários acordos comerciais - e a guerra civil na Síria. Mas os ataques aéreos realizados no fim de semana passado por Israel na Síria deixaram clara a dificuldade da estratégia chinesa de manter um equilíbrio em sua relação com todos os atores regionais. A porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, criticou os ataques em várias ocasiões esta semana, sem mencionar Israel. "Somos contra o uso da força e cremos que a soberania de qualquer país deve ser respeitada", disse. E pediu que "todas as partes envolvidas" mostrem "contenção e evitem o uso da força militar e qualquer ação que possa levar a uma escalada da tensão".

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