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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Rivalidade entre sunitas e xiitas é um dos desafios do futuro premiê do Paquistão


Bandeiras pretas tremulam ao vento de Karachi, que sopra a partir do mar da Arábia. Preto é a cor dos xiitas. A rua principal de Abbas Town voltou à tranquilidade. No dia 3 de março, o clima era totalmente diferente: de morte, sirenes e fúria. Duas bombas colocadas diante de uma mesquita acabavam de matar 48 pessoas e ferir outras 180.

Segundo a polícia, o massacre teria sido obra do Lashkar-e-Jhangvi (LeJ). Oriundo do Sul do Punjab, o LeJ é um grupo sunita radical. Karachi (província do Sul) e Quetta (Baluchistão) são os dois palcos prediletos de seus ataques anti-xiitas, comunidade que representa quase 20% da população paquistanesa e considerada "herege" pelos extremistas de obediência wahhabita.

Neste momento em que o Paquistão se prepara para votar, neste sábado (11), para renovar suas assembleias nacional e provinciais, o antagonismo sectário sunita-xiita é preocupante. Ele será um dos principais desafios enfrentados pelo futuro primeiro-ministro do Paquistão. Embora o Lashkar-e-Jhangvi tenha permanecido discreto durante a campanha eleitoral, quase 250 xiitas foram mortos desde janeiro. O balanço das vítimas xiitas em 2012 --400 mortos-- pode ser ultrapassado.

"Um genocídio anti-xiita está sendo produzido no Paquistão", denuncia Allama Abbas Kumali, líder da Jaffaria Alliance Pakistan, o principal partido que representa os xiitas. Com um gorro de pele enfiado na cabeça e sua barba branca bem rente, o líder xiita nos recebe em sua casa, situada no centro de Mehfil Shah-e-Khorasan, o grande complexo xiita de Karachi onde a mesquita  exibe seu domo dourado. Um fuzil semiautomático é colocado atrás de um armário. Nunca se sabe.

Não é necessário questionar Kumali por muito tempo até que ele comece a despejar sua ira contra o movimento ideológico dos deobandis paquistaneses, que recebem esse nome por causa da escola de Deoband (situada na Índia), onde no final do século 19 se formou uma corrente literalista do islamismo, próxima do wahhabismo saudita.

"Os deobandis eram contra o nascimento do Paquistão, ao passo que os xiitas eram a favor!", ele exclama, querendo contrariar a desconfiança que os círculos sunitas radicais mantêm sobre o patriotismo dos xiitas, muitas vezes apresentados como agentes do Irã. Kumali devolve a crítica, acusando esses grupos de serem instrumentos da Arábia Saudita. "Os sauditas financiaram esses grupos extremistas com o intuito de impor ao Paquistão um Estado wahhabita".

Influência saudita
No início dos anos 1990, o Paquistão foi atingido em cheio pela rivalidade entre a Arábia Saudita sunita e o Irã xiita. Uma organização deobandi radical, a Sipah-e-Sahaba Pakistan (SSP) --rebatizada de Ahle Sunnat Wal Jammat (ASWJ)--, realizava assassinatos sistemáticos de xiitas, os quais haviam montado suas milícias armadas de autodefesa.

Já em 2013, o Paquistão não saiu completamente dessa "guerra por procuração" entre a Arábia Saudita e o Irã. "Os efeitos dessa guerra de influência são até mais profundos hoje", ressalta Ali Khan, professor associado de ciências políticas na Lahore University of Management Sciences (LUMS). "Isso porque toda uma geração cresceu dentro dessa ideologia de intolerância em relação a minorias religiosas". Essa geração fornece militantes para o Lashkar-e-Jhanvi, uma emanação do movimento do Sipah-e-Sahaba Pakistan/Ahle Sunnat Wal Jammat.

Se a campanha que chega ao fim inspira a preocupação dos meios xiitas e dos círculos liberais do Paquistão, é porque membros vindos desse mundo participaram de seu bastião do sul do Punjab. Cerca de quarenta candidatos são ligados ao Ahle Sunnat Wal Jamaat e citados em investigações antiterroristas. Poucos têm chances de serem eleitos, mas a campanha permitiu que eles reforçassem sua influência.

Igualmente preocupante é a atitude em relação a eles do Pakistan Muslim League-Nawaz (PML-N), o partido de Nawaz Sharif, dado como vencedor da eleição. O PML-N, que detém o poder no Punjab, é acusado de ter poupado esse movimento extremista anti-xiita para comprar a paz civil em sua província. Um militante do Lashkar-e-Jhangvi chegou a ser candidato pelo PML-N.

De fato, o Punjab tem sido poupado nos últimos dois anos pelos atentados anti-xiitas que atingiram Karachi e Quetta. "Mas é um jogo arriscado", lamenta Ali Khan. "Agora Nawaz Sharif está lhes devendo." Que preço ele deverá pagar se virar primeiro-ministro? O antagonismo sectário pode ressurgir após a eleição.

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