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sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Síria e a renúncia do Ocidente


Ao anunciar um "acordo" com Vladimir Putin destinado a preparar uma conferência internacional sobre a Síria, misturando representantes do regime de Assad e emissários da oposição, o secretário de Estado americano John Kerry atendeu a antigos desejos dos russos: ocupar um lugar de primeiro plano no cenário político do Oriente Médio e conseguir com que os ocidentais abram mão de qualquer postura de mudança de regime por pressões externas.

Kerry foi longe nas concessões para Moscou, comentando que não cabia a ele "se pronunciar" sobre a queda do governo de Bashar Assad como condição prévia para negociações. Foi um recuo notável, se lembrarmos que, já em agosto de 2011, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido e a Alemanha haviam pedido por declarações solenes e concordado com a demissão imediata do ditador de Damasco. Hoje as coisas estão bem diferentes.

Com mais de 70 mil mortos e cerca de 5 milhões de deslocados  e refugiados, a Síria é a Bósnia de nossa época, uma reprise pungente da impotência demonstrada pela diplomacia internacional entre 1991 e 1995 diante das piores atrocidades nos Bálcãs. É um selo de vergonha e de incapacidade exibido nesse início de século, sendo que em 2011 os ocidentais brandiam sua vontade de apoiar as aspirações democráticas que surgiram na região sul do Mediterrâneo, essa Primavera Árabe cujo sentido na época aparecia claramente para todos.

Será que a Síria está sofrendo novos abandonos? Os Estados Unidos, onde o presidente Obama ultimamente vinha sendo criticado por suas hesitações quanto à "linha vermelha" que ele mesmo havia traçado sobre o uso de armas químicas, estão optando por uma retomada da diplomacia. As negociações consideradas serão abertas a membros de um regime acusado por instâncias da ONU de "crimes contra a humanidade" que poderiam levar seus autores direto para o banco dos réus no TPI (Tribunal Penal Internacional).

É possível imaginar a satisfação de Bashar Assad, em seu palácio ou seu bunker, apoiado por seus aliados russos e iranianos. A reação indignada da coalizão síria da oposição não tardou a chegar; ela, que foi reconhecida pela França e outros países como "única representante legítima do povo" sírio.

A radicalização islamita de parte dos rebeldes sírios, muitas vezes evocada para justificar a inação, é fruto de uma longa deterioração da questão que Moscou conseguiu instrumentalizar a seu favor. O sistema Putin é escolado nessa área, por ter praticado durante uma boa década a política da degringolada no Cáucaso do Norte. O atentado de Boston, atribuído a dois jovens de origem tchetchena, teria lubrificado as engrenagens da relação russo-americana: o antiterrorismo voltou ao primeiro plano.

Os europeus estão saudando o novo plano russo-americano para a Síria, abafando timidamente as renúncias que ele comporta.

Especialmente para a França, que pretendia encabeçar o apoio aos "resistentes" sírios. Isso porque o plano consiste em retomar um "comunicado" negociado em Genebra em julho de 2012, texto amplamente ditado por Moscou e que conseguiu a façanha semântica de colocar no mesmo nível vítimas e carrascos.

O que estão tramando? A reaproximação russo-americana, que desde já relega os europeus a um nível subsidiário, faz parte de uma estrutura complexa.

1) A questão síria, por mais sanguinária que seja, só foi "tratada" pelas diplomacias em ligação com a problemática do nuclear iraniano.

2) Os recentes ataques israelenses contra instalações na Síria visavam demonstrar que o Estado judaico defenderia "suas" linhas vermelhas. Estas não têm nada a ver com a dimensão dos crimes perpetrados na Síria (o fator do Hizbollah libanês ligado ao Irã e ativo na Síria). Esses ataques eram uma mensagem dirigida tanto a Teerã quanto a Washington: "Se essas linhas vermelhas para o nuclear iraniano não forem mais bem defendidas do que as para as armas químicas sírias, vamos nos encarregar disso".

3) A difusão intensa de informações sobre um uso de armas químicas, provado ou não, teria "revestido" os ataques israelenses de um verniz de legitimidade. Como se Israel estivesse conduzindo uma miniguerra preventiva que servisse ao interesse de todos --inclusive russos--, acabaria sendo destacada a extrema e atípica moderação da diplomacia russa após esses ataques.

4) A conferência internacional sobre a Síria desejada por Obama prefigura o tratamento que ele pretende reservar à questão nuclear iraniana. É um experimento, de qualquer maneira. A opção militar continua sendo temida pelo presidente americano, que está decidido a evitar qualquer novo atoleiro para seu país. O fantasma da guerra do Iraque e de seu cortejo de mentiras sobre armas de destruição continua a assombrar o sucessor de George W. Bush.

Hillary Clinton, marcada pela tragédia bósnia, pediu no verão de 2012 que o governo americano entregasse armas a grupos de rebeldes sírios para modificar a relação de forças no local --uma posição que depois foi adotada pela França e pelo Reino Unido, ainda que com menos entusiasmo do que hoje.

John Kerry foi encarregado de adotar uma postura menos ofensiva. Isso pode ser explicado. As crises do Oriente Médio se imbricam umas nas outras como uma boneca russa. Ao entrar nessa sequência diplomática, a credibilidade dos ocidentais não é das melhores. A expressão "linha vermelha" foi esvaziada de sentido. Os civis sírios continuam a viver uma tragédia ofuscada por um imbróglio estratégico considerado muito mais grave que o próprio destino das vítimas: o caso iraniano e o perigo de uma proliferação nuclear no Oriente Médio.

4 comentários:

  1. Força Assad!!! Terroristas serão derrotados.

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  2. Essa o eixo do mal se deu mal. A Síria vai vencer essa guerra contra os terroristas financiados pelos EUA e seus aliados.

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  3. Eixo-do-malígno: EUA-Israel-Inglaterra-Arábia Saudita-França !

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