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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Itália enfrenta com a lei o pacto de silêncio da máfia

Membro da máfia italiana Vito Roberto Palazzolo (ao centro) é escoltado algemado por agentes penitenciários tailandeses em sua chegada ao Tribunal Penal de Bancoc (Tailândia), onde participa de audiência de extradição
Há 20 anos, entre a primavera de 1992 e o inverno de 1993, enquanto os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino eram assassinados junto com seus guarda-costas, altos personagens do Estado italiano e da máfia siciliana estavam negociando. Quem? Para quê? Em troca de quê? São algumas das respostas que um tribunal de Palermo tenta responder desde segunda-feira (27).

No banco dos réus, pela primeira vez na história, sentam-se lado a lado representantes do Estado, pistoleiros, mafiosos arrependidos e grandes chefes da Cosa Nostra.

Os promotores que desde 2009 investigam a misteriosa "trattativa Stato-Mafia" (a negociação entre o Estado e a Máfia siciliana) também chamaram a depor 176 testemunhas. O número 63 é o próprio Giorgio Napolitano, atual presidente da República.

Napolitano foi citado porque durante 2011 Nicola Mancino, ministro do Interior entre 1992 e 1994, soube que estava sendo investigado pelos promotores de Palermo, sentiu-se encurralado e decidiu pedir ajuda ao presidente Napolitano.

Telefonou várias vezes para o Palácio do Quirinale e em algumas ocasiões falou com o assessor jurídico Loris D'Ambrosio, em outras com Napolitano. O que Mancino não sabia era que seu telefone já estava grampeado por ordem judicial.

As conversas com D'Ambrosio - que morreu de infarto no último verão - foram publicadas logo depois, enquanto Napolitano apelou à inviolabilidade do chefe de Estado e as fitas foram destruídas.

Mancino, que já passou sua primeira manhã no banco dos réus, pediu para ser julgado separadamente. "Não posso estar no mesmo processo junto com membros da Máfia." Em resposta, o promotor Nino Di Matteo disse: "O Estado não pode esconder sua responsabilidade".

Mas a verdade é que a esconde há duas décadas. A teoria dos promotores sicilianos é que no final de 1992, depois dos assassinatos do político Salvo Lima - próximo da Cosa Nostra e colaborador de Giulio Andreotti - e do juiz Giovanni Falcone, altos representantes políticos e policiais do Estado italiano tiveram conhecimento de que a Cosa Nostra tinha uma longa lista negra de alvos, entre os quais se encontravam alguns ministros.

Segundo essa versão, e com o fim de salvar a pele, o Estado propôs um pacto a Salvatore Totò Riina, chefe do sanguinário clã dos Corleonesi.

Em troca de conter os atentados, o Estado estaria disposto a suavizar as duras condições carcerárias de 400 detidos. Por isso, apesar dos protestos do ex-ministro Mancino, agora estão sentados no mesmo banco personagens como o senador Marcello Dell'Utri, grande amigo de Berlusconi e seu suposto contato com a máfia; os generais Antonio Subranni e Mario Mori junto de mafiosos como Giovanni Brusca - um dos assassinos do juiz Falcone - ou o próprio Totò Riina, o último "capo dei capi" (chefe dos chefes).

Também está imputado Massimo Ciancimino, filho de Vito, prefeito de Palermo, que levou à justiça uma série de documentos herdados de seu pai, graças aos quais os promotores puderam armar a acusação.

Em um desses documentos estavam os 12 pedidos que, ao que parece, Totò Riina fez ao Estado para ordenar o cessar-fogo. Com exceção do ex-ministro Mancino (acusado de falso testemunho) e Ciancimino (de associação mafiosa), os outros são acusados de violência contra o Estado e de favorecer a Cosa Nostra. O julgamento começará na sexta-feira (31). A Itália enfrenta com a lei à mão um de seus mais dolorosos mistérios.

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