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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Opinião: ex-premiê palestino teve de lidar com a divisão palestina e a intransigência israelense

Salam Fayyad

As ruas da capital palestina na Cisjordânia estão tranquilas em um sábado, mas Salam Fayyad, que deixou o cargo de primeiro-ministro há três semanas, ainda está no seu gabinete, elegante como sempre em terno e gravata –incapaz de seguir em frente, mas mesmo assim, ao que parece, impossibilitado de partir. Seu limbo é um reflexo da paralisia e desarranjo palestinos.

Mahmoud Abbas, o presidente palestino com quem Fayyad brigou, sabe que precisa da competência rigorosa de seu primeiro-ministro de saída. Ele precisa da posição de Fayyad junto aos Estados Unidos e à Europa, grandes fontes de recursos para a Autoridade Palestina em dificuldades. Ele precisa do controle de Fayyad sobre a segurança.

Mas a velha guarda do Fatah, com suas negociatas, querem a partida de Fayyad; o Hamas o odeia como sendo um suposto fantoche americano, e Abbas está cansado desse "padre turbulento" educado nos Estados Unidos. Logo, o presidente hesita. Ele resmunga sobre um "governo de união" com o Hamas. Ele faz pouco. E Fayyad está diante de sua mesa, quando poderia estar comendo doces com sua família.

"Nossa história é uma história de liderança fracassada desde o início", me diz Fayyad. "É incrível que o destino do povo palestino esteja nas mãos de líderes tão casuais, guiados por decisões de impulso do momento, sem seriedade. Nós não temos estratégia, nós fechamos acordos de modo tático e ficamos reféns de nossa própria retórica."

Fayyad entregou sua carta de renúncia em 23 de fevereiro. Abbas fez objeção. O presidente Obama, citando a grande reputação de Fayyad junto ao Congresso americano e na região, pediu que ele permanecesse durante o encontro "executivo" (o primeiro entre eles) em março. O secretário de Estado, John Kerry, deu três ou quatro telefonemas em seguida. Mas sem resultado: Fayyad, após quase seis anos no cargo, estava cheio da dança que não leva a lugar nenhum, o "processo de paz" que é um escárnio dessas palavras infelizmente casadas. Em 13 de abril, ele renunciou.

Ele foi uma revolução: de atos em vez de narrativa, de construção de Estado em vez de slogans, de pragmatismo em vez de pose. O pensamento central dele era simples: "Se você se parece com um Estado e age como um Estado, ninguém poderá no final negar que você é um Estado". Tamanha foi a transformação institucional que o Banco Mundial declarou a Palestina pronta para se tornar um Estado. Como diz Fayyad, "nós fizemos a prova e passamos".

Mas o primeiro-ministro se deparou com um muro. Ele tem dois elementos: a divisão palestina e a intransigência israelense. Qual deles o minou mais? Ambos foram devastadores. É claro, eles também alimentam um ao outro. A hesitação americana também não ajudou.

O Fatah, o maior movimento político na Cisjordânia, é um partido revolucionário que se esgotou; ossificado e nebuloso, carente de um mandato popular ou de uma estratégia para chegar ao Estado, comandado por um velho de 78 anos, Abbas, que não teve a coragem de abraçar o programa político de uma pessoa de fora, Fayyad, apesar desse programa ter proporcionado crescimento, prestação de contas e segurança.

Abbas, formado em Moscou, e Fayyad, formado no Texas, nunca superaram o abismo cultural legado por essas educações. A abordagem "posso fazer" não estava presente no currículo soviético. Abbas se recusou a alavancar as realizações de Fayyad. Ele se recusou a usar a probidade e ética de trabalho de Fayyad como exemplos transformadores. O casamento deles foi turbulento e de conveniência. Fayyad reconhece que o partido passava mais tempo se preocupando com o que ele estava fazendo do que resolvendo algo.

"Este partido, o Fatah, vai se desfazer, há desencanto demais", prevê Fayyad. "Os estudantes perderam 35 dias neste ano por causa de greves. Nós estamos falidos. O status quo é insustentável." Ele olha para mim com forte convicção: "No final, não importa que alguma potência estrangeira me diga sobre as coisas estarem mudando para melhor, porque eu estou vivendo isso. Eu já passei pelo inferno. Mas basta. Tanto veneno está fadado a causar algo catastrófico. O sistema não está lucrando, o país está sofrendo. Eles não vão mudar seus modos, portanto eu devo partir."

E então ocorreu o "maior problema" –a ocupação israelense, nunca relaxada, apesar da situação transformada da segurança; na verdade, intensificada por meio da expansão dos assentamentos, demolições, despejos e incursões militares mesmo em áreas nominalmente sob controle palestino.

Fayyad, convencido da necessidade de dois Estados convivendo lado a lado em paz e segurança, viu o duplo aspecto de Israel, o interlocutor do céu e do inferno. Ele foi responsável e resoluto em sua oposição à violência. Ele também foi o palestino que desfez todas as caricaturas convenientes de um povo casado com o terrorismo, com a corrupção e o caos. Mas Israel não o abraçou mais do que ao Fatah.

"Eu disse ao presidente Obama que o barracão deve vir antes do arranha-céu", Fayyad me diz. "Os israelenses não reverteram o gene da ocupação. Vamos assegurar que a população beduína no Vale do Jordão tenha acesso a água potável antes de discutirmos os arranjos finais. Trata-se de uma questão de direito à vida para os palestinos."

Ele acha que os Estados Unidos, agora tentando conjurar negociações diretas por meio de osmose em vez de novas ideias, deveriam fazer ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu uma pergunta direta: O que significa para você um Estado palestino?

Segundo as poucas indicações de Netanyahu, esse Estado não incluiria os grandes blocos de assentamentos israelenses, nem controle sobre o estratégico Vale do Jordão (aproximadamente 25% da Cisjordânia). Toda a Grande Jerusalém permaneceria israelense. A Palestina seria desmilitarizada.

"Um Estado de sobras não funcionará", declara Fayyad.

Mas Netanyahu, um homem do Likud que se opôs ao acordo de Oslo do falecido Yitzhak Rabin, não está profundamente convencido da necessidade de manter toda a Eretz Israel (um termo bíblico amplamente usado em referência à área entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, abrangendo toda a Cisjordânia)? E não há ministros em seu novo governo, incluindo Naftali Bennett, o ministro da Economia, que gostam de desdenhar a ideia de uma Palestina como sendo uma piada?

Bem, Fayyad reflete, talvez o primeiro-ministro israelense devesse dizer algo assim para os israelenses: "Sim, é verdade que temos um contrato com Deus Todo-Poderoso que nos deu a terra, mas por acaso há 4,4 milhões de outras pessoas nessa terra que desejam exercer seu direito de autodeterminação, de modo que talvez devêssemos ajustar um pouco o contrato divino".

Isso não acontecerá, é claro. O que acontecerá? Fayyad chama a nova iniciativa do governo Obama de "altamente arriscada". O secretário de Estado, John Kerry, está tentando facilitar as negociações entre israelenses e palestinos com iniciativas econômicas como empreendimentos de turismo no Mar Morto. Mas do ponto de vista palestino, parece haver muito pouco que melhoraria as condições humanas –abastecimento de água, o fim da violência dos colonos, o fim das demolições– e pouco para impedir Netanyahu de simplesmente protelar novamente.

"Israel diz não para isso, não para aquilo, e é tratado como algo inevitável", diz Fayyad. "Não há nada para escorar a iniciativa americana. Como alguém pode investir nisso?"

Apesar de seu ceticismo, Fayyad acredita que os palestinos não tem um momento a perder na pressão por um Estado. O ingrediente essencial que falta é a unidade. Precisa haver um único governo na Cisjordânia (atualmente controlada pelo Fatah) e em Gaza (controlada pelo Hamas). "Vamos ser clínicos", ele diz. "Não teremos um Estado a menos que primeiro estejamos unidos."

A pré-condição essencial para isso, ele diz, é uma "doutrina de segurança baseada na não-violência". O Hamas deve inequivocamente renunciar à violência. Então haveria "condições para a decolagem que não seriam perfeitas, mas quando é que o perfeito prevalece?"

Um governo de união poderia administrar os assuntos cotidianos e, acima de tudo, preparar as eleições nacionais necessárias para saber qual a posição de fato dos palestinos. Sete anos sem uma eleição é tempo demais. Nem o Fatah e nem o Hamas conta com legitimidade democrática. A posição deles é indefensável mesmo apesar de se agarrarem ao poder.

Os Estados Unidos e a Europa deveriam tornar uma eleição palestina uma prioridade diplomática. Caso contrário, as negociações de paz são apenas uma conversa no vazio. É claro, um governo de união –mesmo um que tenha renunciado formalmente à violência– representaria um dilema diplomático severo. O Hamas está comprometido com sua doutrina de destruição de Israel.

No geral, é do interesse dos Estados Unidos promover uma união palestina, desde que com base na renúncia da violência. Há, afinal, membros do governo israelense comprometidos com a não existência da Palestina. Um lado não escolhe o interlocutor do outro em negociações de paz. A Organização para a Libertação da Palestina reconhece Israel; Abbas, como líder da OLP, pode fazer uso disso nas negociações. O que importa não são slogans, mas a vontade de avançar –e por ora há pouco indício dessa vontade.

Abbas está atado. Ele fez um apelo às facções para que deixassem de lado as diferenças e disse que deseja um governo de união para preparar eleições. O Hamas não se interessa pela ideia. Fala-se em Ramallah sobre a nomeação de um assessor de confiança, Mohammad Mustafa, o presidente-executivo do Fundo de Investimento Palestino, como substituto de Fayyad. Fala-se em Abbas nomeando a si mesmo como substituto de Fayyad. Fala-se nele não nomear ninguém e torcer para que Fayyad continue se apresentando no gabinete.

Fayyad me diz que não permitirá que a inércia presidencial o mantenha no cargo. Em três ou quatro semanas ele partirá –mas não completamente. Apesar dos rumores espalhados por seus inimigos sobre um retorno ao Fundo Monetário Internacional, ele ficará por aqui. "Eu vou refletir e, se ocorrerem eleições, como devem, por serem vitais, eu verei como melhor participar delas", ele diz.

Os palestinos chegaram ao seu momento "Altalena". Após a fundação do Estado de Israel em 1948, o grupo militante extremista judeu Irgun resistiu a se juntar às Forças de Defesa de Israel e insistiu em receber armas sendo enviadas de Marselha a bordo do Altalena. Uma batalha ocorreu; vários foram mortos. Ben Gurion declarou: "Não pode haver dois exércitos e não pode haver dois Estados".

Igualmente, não pode haver duas Palestinas. Uma já é difícil. Se o Hamas não ceder suas armas ao Fatah –se o Estado putativo não tem, na famosa definição de Weber, o monopólio do uso legítimo da força dentro de um território– não haverá Estado.

"Eu renuncio ao meu cargo, isso é tudo", diz Fayyad. "Eu não estou resignado, mesmo que me doa muito quando a falta de progresso é autoinfligida. Eu morrerei sem mudar de ideia de que nós palestinos podemos mostrar para que aqueles que duvidam que eles estão errados."

3 comentários:

  1. Michel, esse seu blog é impressionante....parabéns,qual é a sua formação???Militar???

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    1. Sou do ramo da T.I., mais especificamente da aérea de redes.

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  2. Um excelente negociador, honesto, e q além de visar o bem estar do s Palestinos queria uma paz harmonisosa e sem ressentimentos c os nefastos judeuss...+ cadê o apoio dos nefastos ianglesess? Lamentável.sds.

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