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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

UE reflete sobre opções para ajudar Mali

Militantes da Al-Qaeda em Mali

A  UE (União Europeia) quer ajudar o exército malinês a retomar dos terroristas o norte renegado, por meio de uma missão militar. Mas franceses e americanos já operam há anos na região sem sucesso. Poderia uma missão da UE realmente fazer diferença?

Quando o ministro das Relações Exteriores francês fala sobre a África no Conselho Europeu, seus pares de outras capitais europeias ouvem atentamente. Devido ao seu passado colonial, os diplomatas franceses são vistos como especialistas em África.    

Esse também foi o caso  há duas semanas, quando os ministros das relações exteriores dos países membros da União Europeia se reuniram em Luxemburgo para discutir a divisão de Mali, um país do Oeste da África. O ministro francês Laurent Fabius usou linguagem drástica para alertar sobre o desenvolvimento de uma “ameaça terrorista” no norte do país. Ele defendeu uma missão militar da UE no país, dizendo: “A Europa não pode simplesmente permanecer de lado”.  

O presidente da França, François Hollande, já tinha apresentado argumentos semelhantes para persuadir a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Mas o que os políticos franceses escondem é que a França já enfrenta os fundamentalistas islâmicos no Sahel há anos –com seus próprios soldados de elite, com instrutores para o exército malinês, com dinheiro e equipamento e, acima de tudo, sem sucesso.

Merkel mal deu uma espécie de sinal verde aos altos oficiais em Strausberg, perto de Berlim, lhes dizendo que “as forças armadas de Mali precisam de apoio”, quando teve início o debate político em Berlim. O ministro da Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Dirk Niebel, um membro do Partido Democrata Livre (FDP) pró-negócios e membro da coalizão de governo de centro-direita de Merkel, alertou que o país poderia se transformar em um “segundo Afeganistão”, e disse acreditar que “interesses fundamentais da Alemanha” estão em risco no Sahel.

O ministro da Defesa, Thomas de Maizière, um membro da União Democrata Cristã (CDU) conservadora de Merkel, foi mais reservado, mas deixou claro aos seus generais que mesmo uma missão de treinamento poderia durar “alguns anos”. Oficiais militares como Harald Kujat, o ex-inspetor geral das forças armadas alemãs, a Bundeswehr, expressaram preocupações com o risco elevado “disso se transformar em um conflito armado”.

O ceticismo também predomina no Parlamento alemão, o Bundestag. “Não vamos nos apressar”, alerta Florian Hahn, um especialista em defesa da União Social Cristã (CSU), o partido conservador bávaro, irmão da CDU. “Nós devemos descobrir o que queremos em Mali antes de seguirmos os interesses de Paris”, diz o parlamentar do FDP, Elke Hoff.

De fato, os franceses são os mais entusiasmados com a realização de uma missão militar. O Palácio do Elysée acredita há anos que os interesses franceses na zona do Sahel estão sob ameaça. Diante de tiroteios, ataques e sequestro de cidadãos franceses, o antecessor de Hollande, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, já tinha percebido que a região era um de seus principais desafios na frente da política externa. Em julho de 2010, o então ministro das Relações Exteriores, François Fillon, anunciou: “Nós estamos em guerra com a Al Qaeda no Magreb islâmico”.

Agora, o restante do Ocidente também está preocupado com os desdobramentos no dividido Mali. Os islamitas tomaram o poder no norte do país, onde estabeleceram um sistema legal arcaico que inclui apedrejamento, chicotadas e amputação, além de forçar centenas de milhares a fugirem da região.

O governo de transição na capital, Bamaco, apelou por ajuda, assim como a União Africana e a Comunidade Econômica dos Estados do Oeste da África (Cedeao). Até mesmo o Conselho de Segurança das Nações Unidas é a favor da intervenção.

A França e os Estados Unidos querem que toda a UE participe. O governo alemão está se preparando para enviar várias dezenas de soldados como parte da missão, e o ministro da Defesa, De Maizière, diz que não descarta a possibilidade de se envolverem em combate armado.

Os planos estão sendo tratados com grande discrição em Bruxelas. Catherine Ashton, a alta representante da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança, descreve as opções de envio de tropas em um relatório confidencial de oito páginas. A situação em Mali, diz o relatório, constitui uma ameaça direta à segurança geral da União Europeia, assim como um crescente risco de ataques terroristas em solo europeu.

Especialistas militares concordam que unidades de combate europeias não intervirão em Mali, ao menos não por ora. A UE planeja fornecer ao governo malinês instrutores, dinheiro, equipamento militar e imagens de reconhecimento. Mas isso basta? Será que os instrutores da UE podem melhorar suficientemente as tropas da Cedeao e os soldados malineses para que sejam capazes de expulsar os islamitas da região?    

Pouco sucesso nos últimos anos    
Para estabilizar a região, especialistas franceses e americanos tentam há anos melhorar a condição do exército malinês. Mas o esforço não tem sido bem sucedido, como o golpe militar que derrubou o presidente Amadou Touré, em março, deixou evidente. O norte declarou sua independência logo depois.

O Estado desolador do exército malinês é revelado em relatórios da embaixada americana em Bamaco, publicados pelo WikiLeaks. Os oficiais de comando estavam interessados em muitas coisas, não apenas em melhorar rapidamente a capacidade de combate de seus soldados. Há uma longa lista de fracassos e deficiências, incluindo unidades de elite mal equipadas e usando sandálias, tropas desmoralizadas do sul, que demonstram pouco entusiasmo em serem enviadas para serem massacradas no norte, e falta de munição para fins de treinamento.

Quando observadores americanos visitaram um posto avançado militar no norte de Mali, eles o descreveram como um quadro de miséria: “As condições de vida na base são... duras. As refeições das tropas consistem de um arroz arenoso com caldo de feijão. Carne é extraordinariamente difícil de encontrar”. A situação para as tropas mobilizadas é “consideravelmente pior”, prossegue o relatório dos observadores. “Carentes de abrigo, as tropas dormem sob seus veículos, e frequentemente ficam sem água para beber.”    

Opções de missão     
Agora esses mesmos soldados serão treinados, em parte por instrutores de Bruxelas, e elevados a um nível em que possam vencer os combatentes altamente armados do deserto. Oficiais militares e especialistas em segurança de Bruxelas estão trabalhando febrilmente nos preparativos da missão, que pode consistir de uma dentre três opções prováveis:

Uma missão consultiva, conhecida como Eusec no jargão dos especialistas de Bruxelas. Sua meta seria instruir os oficiais e suboficiais malineses em três escolas militares, incluindo uma na cidade de Gao, no norte, que está atualmente nas mãos dos islamitas. Isso exigiria cerca de várias dezenas de treinadores militares da UE. Outro aspecto incluiria a profissionalização do trabalho do pessoal em geral.

Uma missão de treinamento (Eutm), que exigiria o envio de cerca de 150 instrutores para Mali por pelo menos dois anos. Cada um deles treinaria um batalhão (até 800 soldados) em um dentre quatro locais. Os europeus também estão considerando treinar uma unidade de elite que lideraria o combate no norte.

Uma missão de treinamento com envolvimento em operações de combate (Eutm+), que acompanharia as unidades malinesas até a zona de guerra após a conclusão do treinamento. A UE empregaria de 400 a 500 de seus próprios soldados para esse fim. Segundo a UE, consistiria de “uma presença militar em campo, com envolvimento direto nos combates”.    

Fracasso potencial    
O problema com isto é que os governos da UE querem minimizar o risco para seus soldados. Mas esse envio modesto teria “pouco efeito a curto prazo”, alertam especialistas do Serviço Europeu de Ação Externa.

As propostas sobre o que fazer a respeito de Mali também geram dúvidas significativas em outros lugares. “Uma intervenção militar é acompanhada de riscos enormes”, diz Philippe Hugon, diretor de pesquisa do Instituto para Relações Estratégicas e Internacionais, em Paris. “Mesmo após uma retomada do norte, os efeitos de uma campanha militar no país seriam imprevisíveis.”

Os tuaregues, que já estão sofrendo enormemente nas mãos dos islamitas, também alertam contra uma intervenção estrangeira. Os representantes deles disseram a membros do Parlamento Europeu em Estrasburgo, na semana passada, que a Al Qaeda não é mais popular no norte do país, mas que uma ofensiva apoiada pelo Ocidente poderia reviver o grupo terrorista.

A missão ameaça se tornar um fracasso, em particular devido ao tempo estar se esgotando. Se o exército malinês e a força de intervenção do Oeste da África quiserem invadir o norte antes do calor do verão, os europeus terão que iniciar suas atividades de treinamento no inverno. E se adiarem a missão, os islamitas terão bastante tempo para reforçar suas posições.

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