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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Der Spiegel: Israel investe em relações públicas em nova ofensiva contra Gaza

Soldados israelenses dormem próximos a veículos blindados

O major Arye Sharuz Shalicar parece genuinamente preocupado. “Por favor entrem no prédio. Se vierem foguetes, vocês estarão mais seguros ali”, ele diz aos jornalistas estrangeiros reunidos em um pequeno posto do exército na travessia de Erez, entre Israel e a Faixa de Gaza.

Erez é o portal da imprensa do Ocidente para Gaza –e Shalicar é o porteiro. Como ele mesmo diz, ele é a “única pessoa em Israel com autoridade para permitir a entrada de civis na Faixa de Gaza”. Ele então sorri e pede desculpas se isso soa um pouco arrogante. É quase impossível não considerar o major de 35 anos encantador. De fato, ele parece ter sido moldado perfeitamente para o cargo de porta-voz do exército israelense.

Israel, ao que parece, aprendeu uma lição com o desastre de mídia durante a última guerra na Faixa de Gaza, em 2008. Há quatro anos, o governo proibiu os jornalistas de viajarem à região palestina e apenas um punhado de repórteres estava presente durante a ofensiva.

Além disso, o “New York Times” noticiou que Israel também bloqueou o sinal de telefonia móvel, para impedir a transmissão de fotos de Gaza. Essas medidas de mão de ferro, entretanto, não impediram o mundo de saber que milhares de civis morreram na guerra e Israel passou a imagem de um criminoso pego no flagra. Apesar de o país ter vencido a guerra, a resistência internacional às políticas israelenses nos territórios palestinos aumentou.

Desta vez, entretanto, a situação é bem diferente. As portas foram abertas para os jornalistas ocidentais e parece que um tapete vermelho também foi estendido. Shalicar diz que centenas de jornalistas viajaram nos últimos dias para a Faixa de Gaza. É até mesmo oferecido café e chá aos jornalistas que chegam a Jerusalém para receber suas credenciais para a região. “Você aprende com seus erros”, diz Shalicar. “Não se trata apenas do que acontece no campo de batalha, mas também da 'Dat Kahal', a opinião pública.”

'Nós somos como a Alemanha'
Shalicar foi contratado como porta-voz do exército seis meses depois da última guerra em Gaza, por causa de sua habilidade de servir de ligação entre os jornalistas estrangeiros e Jerusalém. Originalmente de Berlim, ele se encontra em uma posição única para ajudar os ocidentais a entenderem Israel. “Nós somos como a Alemanha”, ele diz. O significado –de que Israel faz parte do Ocidente– é claro.

O major israelense nem sempre considera a Alemanha como sendo um país que Israel deva buscar imitar. Shalicar nasceu e foi criado no distrito imigrante de Wedding, em Berlim, filho de imigrantes iranianos. Na adolescência, ele se envolveu em apuros por um pequeno crime antes de concluir com sucesso o ensino médio. Ele diz que não se sentia aceito em toda parte. Para os alemães, ele era um estrangeiro. Para os jovens de origem turca ou árabe em Wedding, ele era judeu. Ele até mesmo escreveu um livro sobre suas experiências crescendo lá.

Então, uma visita a um kibutz mudou a vida de Shalicar –e ele finalmente encontrou um lugar onde se sentia aceito. Aos 22 anos, Shalicar decidiu emigrar para Israel, tornando-se o único membro de sua família a fazê-lo. Shalicar já tinha cumprido o serviço militar obrigatório nas forças armadas alemãs, mas então decidiu servir uma segunda vez nas forças armadas israelenses. Enquanto estava nas forças armadas, ele continuou seus estudos, aprendeu hebraico e no final conseguiu o emprego de porta-voz do exército.

“No meu departamento europeu, nós temos pessoas cuja língua natal é dinamarquês, norueguês, inglês, francês e alemão –e essas são as línguas mais importantes para nós”, diz Shalicar. Como ele, todos são jovens imigrantes. “É preciso soldados que não apenas falem a língua, mas que também entendam a cultura”, ele diz.

Sucesso no fronte de mídia
A nova estratégia de mídia de Israel leva em consideração as diferenças culturais e tenta assegurar que nada se perca na tradução. E o próprio nome da mais recente ofensiva em Gaza, "Pilar de Defesa", já é mais fácil de processar do que o título oficial mais desajeitado, "Operação Amud Anan", uma referência bíblica ao pilar de nuvem em que Deus se transformou para conduzir os israelitas para fora do Egito e protegê-los do exército do faraó.

Quando lhe é pedido para que comente sobre a raiz do conflito ou sobre as políticas de bloqueio de Israel à Faixa de Gaza, Shalicar diz apenas: “Eu não sou um político”. No momento, os israelenses estão concentrando seu esforço de relações públicas apenas no curso da atual ofensiva. Qualquer coisa fora disso está sendo deixada de lado –perdida na enxurrada de vídeos, tweets e declarações tratando dos mais recentes ataques com foguetes.

Até o momento, Israel não está se saindo mal no front de mídia. Cerca de 120 palestinos já foram mortos e outros mil já foram feridos, a maioria civis, mas o tipo de ultraje internacional visto em 2008 não se materializou.

De fato, foi difícil desta vez para o Hamas exercer um papel na guerra de propaganda. Seus membros tiveram que se esconder no subterrâneo em consequência dos bombardeios israelenses enquanto os jornalistas estão livres para circular dentro da Faixa de Gaza.

Com frequência, é uma única imagem que determina como a guerra será lembrada. Mas no atual conflito em Gaza, nenhuma foto óbvia despontou como candidata. Serão imagens das mulheres e crianças feridas nos bombardeios? Ou será as dos suspeitos de traição, que foram executados pelo Hamas e arrastados pelas ruas?

De sua parte, Shalicar espera que Israel no final lucre com sua nova abertura. Resta saber se isso acontecerá.

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