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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Rebeldes sírios ganham experiência e mudam de tática


Na segunda-feira (26/11), os rebeldes sírios relaxaram na sala de operações de uma represa hidrelétrica no rio Eufrates, checando a tela do computador, tomando chá e projetando confiança, depois de afugentarem as forças do governo e apreenderem caixas de granadas propelidas por foguetes. Tudo isso foi orgulhosamente gravado e rapidamente postado na Internet, para que o mundo visse.

A invasão da represa fortemente protegida foi o mais recente de uma série de sucessos táticos que vem ocorrendo no último mês, nos quais os rebeldes atacaram instalações do governo, inclusive numerosas bases aéreas, desde o Norte da Síria até os subúrbios de Damasco. Os ataques permitiram que os rebeldes se vangloriassem de sua crescente eficácia, minassem a moral das forças do governo e reforçassem seus arsenais.

Mas os combatentes não necessariamente desejam manter as bases que conquistam. Em vez disso, eles mudaram de tática. Segundo os próprios rebeldes e analistas, eles apreendem os postos, depois os abandonam, para negar às forças aéreas do governo um alvo para retaliação. Os rebeldes dizem que aprenderam com os erros recentes, depois de tomarem bairros e atraírem ataques aéreos devastadores que mataram civis e afastaram seus defensores. Agora, eles se concentram menos em conquistar territórios e mais em usar a guerra fricção para sua vantagem, forçando o Estado a sangrar.

No último mês, os combatentes conquistaram meia dúzia de bases em torno de Damasco, a capital da Síria, duas na região produtora de petróleo, no Leste do país, e a maior instalação militar perto da maior cidade do país, Aleppo. Eles se concentraram em desafiar as forças aéreas, seu inimigo mais mortífero, atacando algumas bases aéreas, saqueando outras e apreendendo armas antiaéreas.

Eles continuam a combater em áreas cruciais para o governo, como o anel de subúrbios em torno de Damasco e o centro comercial de Aleppo e suas rotas de abastecimento.

“Os rebeldes estão aprendendo”, disse Ahmad Kadour, ativista em Idlib, por Skype. Quando capturam uma base, “eles pegam as máquinas e as armas, e partem imediatamente, porque o regime sempre está bombardeando os locais que costumava controlar”, ele disse.

Ainda assim, os ganhos táticos não parecem estar levando a uma súbita mudança que faça o governo cair, segundo os analistas. Em vez disso, a divisão da Síria está se solidificando. O governo está lentamente encolhendo a região que tenta controlar totalmente para um trecho entre Damasco, ao longo da metade ocidental mais populosa do país, até Latakia, a província ancestral do presidente Bashar Assad.

O governo ainda é forte em áreas cruciais e, mesmo quando cede o controle aos rebeldes, em algumas partes do Norte da Síria e áreas crescentes do Oeste pouco populoso, mantém o poder de atacar por ar. E os analistas advertem que, se o exército abandonar certas áreas, isso pode simplesmente abrir caminho para lutas entre facções sectárias e políticas.

Yezid Sayigh, analista de assuntos militares árabes do Centro de Oriente Médio Carnegie, em Beirute, disse que a perda das bases perto de Damasco, como a base de helicóptero que os rebeldes apreenderam no domingo (25), é mais significativa do que as perdas no Norte dominado pelos rebeldes e no Nordeste isolado, onde o exército em parte sumiu, deixando as forças reduzidas e vulneráveis. O principal foco do governo é garantir Damasco e um corredor para o Norte pelas cidades de Homs e Hama, até a cidade costeira de Latakia, segundo os analistas.

“Ao reduzir as áreas que tentam defender, as forças do regime podem estender sua capacidade de batalha”, disse Sayigh. “E as forças do regime ainda não perderam sua capacidade de aumentar o nível de violência”.

As ações dos rebeldes, contudo, têm problemas de coordenação, e não ficou claro se planejavam manter a represa de Tishreen perto de Aleppo. É uma fonte importante de energia elétrica e um dos dois maiores cruzamentos entre Aleppo e as províncias do Leste.

Mesmo enquanto celebravam sua captura, os combatentes receberam um lembrete dos riscos da vitória: aviões de guerra bombardearam a fronteira de Bab al-Hawa com a Turquia, uma região que os rebeldes controlam desde julho. Os ataques afugentaram as pessoas que haviam se abrigado ali depois de fugirem de suas casas em outras partes da Síria, disse um combatente na área, que usa o apelido de Abu Zaki.

As táticas mudaram muitas vezes durante o conflito, que está chegando à marca de dois anos e começou como um movimento de protesto pacífico. Depois que as forças de segurança atiraram contra os manifestantes, ataques esporádicos insurgentes começaram. O governo perseguiu bolsões de rebeldes pelo país, e só fez com que reaparecessem em outras partes. No verão passado, o governo se retirou para pontos fortes, dependendo cada vez mais de suas forças aéreas e de artilharia para esmagar as áreas apreendidas pelos rebeldes.

Os rebeldes também mudaram de tática. O coronel Qassem Saadeddine, chefe do conselho militar em Homs do Exército Livre da Síria, que abriga vários grupos, disse que havia uma estratégia conjunta de atacar bases importantes e bater em retirada com as armas. Mas, onde é possível, os rebeldes deixam guardas para impedir que as tropas voltem a usar as bases.

“Eles só controlam as áreas em que estão os tanques”, disse ele em entrevista da Turquia. “O regime está retirando suas forças das províncias para a capital”.

As vitórias rebeldes criam oportunidades, mas também riscos.

Depois de tomarem a base 46, uma base grande em torno de Aleppo, os rebeldes ganharam uma vitória política restaurando a energia que tinha sido cortada nas áreas pró-rebeldes.

“O aquecedor, a Internet ou a televisão? –estou correndo de um lado para o outro, confuso. Queria poder guardar a energia em caixas, como água”, disse Najid, ativista em Binnish, na província de Idlib.

Mas quando os rebeldes tomaram os campos de petróleo na província de Deir al-Zour, no Leste, houve caos, com os moradores vendendo gasolina sem precauções de segurança e por um preço abaixo do seu valor, disse um ativista por Skype.

Majed, ativista em Aleppo, ficou irritado com os rebeldes que capturaram a represa. Ele duvida que eles consigam pagar os especialistas e técnicos estrangeiros que operam a represa, e teme que grandes regiões fiquem sem luz. Pior, disse ele, que o governo a bombardeie, alagando aldeias.

“O regime destruiu metade do país”, disse ele. “Não vai parar em uma represa”.

Um comentário:

  1. Pelo que eu venho lendo, o Assad vem racionando o arsenal dele,ele pode estar derrepente sacrificando certas regiões em troca de proteger outras, na batalha por aleppo dizem que o Assad enviou somente 100 tanques, pode parecer muito para uma única cidade, mais se formos levar em conta que a Síria tem quase 5.000 tanques (4850 pelo globalsecurity e globalfirepower e 4950 pelo wikipédia), enviar por mais de 3% apenas dos tanques para a segunda cidade mais importante da Síria revela racionamento de equipamentos. Também me chama atenção que não se ouve falar muito dos MLRS da Síria, segundo fontes são entre 500 a 1200, os obuses que seriam mais de 2000 também vem sendo pouco falados, estariam na região alauita para a proteção de um possível estado tampão que garantiria a permanência do partido Baath da família Assad e dos Alauitas? Segundo fontes na região Alauíta á Shabiha milícia do Assad foi treinada nos moldes do PASDARAN do Irã e estaria em torno de 60.000 paramilitares fieis ao Assad. Essa guerra na Síria pode não levar há um desmembramento oficial da Síria, mais há um desmembramento na prática o país pode vir a ocorrer sim.

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