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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Indianos ainda hesitam em investir no Afeganistão; cresce temor por volta de grupo radical

Sentados o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh

Há oportunidades no Afeganistão, e os indianos deveriam prestar mais atenção a isso. Foi essa a mensagem repetida pelo presidente afegão, Hamid Karzai, durante sua visita entre nove e 12 de novembro à Índia, quando ele convidou os investidores indianos a superarem suas reticências em relação a Cabul. Com o início da retirada da Otan, e agora que a incerteza paira sobre a viabilidade do regime afegão, essa viagem visa consolidar o apoio de um país amigo historicamente.

“Os empresários indianos não deveriam ser tímidos quando pensam em Afeganistão”, disse ele no sábado (10), em Mumbai, diante de uma plateia de industriais. “Gostaríamos de recebê-los com um tapete vermelho. Mas se vocês não vierem, ele acabará ficando empoeirado.” Para reacender o interesse indiano, Karzai mencionou a presença concorrente dos chineses no Afeganistão, sobretudo no setor de minas e hidrocarbonetos.  

Essa visita indiana de Karzai se enquadra nas grandes manobras diplomáticas que visam preparar o pós-2014, fase nova em que a retirada da Otan obrigará o Estado afegão a se encarregar tanto do plano securitário quanto financeiro. Diante desse vazio que se abre, os indianos estão preocupados. Será que o Estado afegão resistirá à insurreição dos talibãs?

Em Nova Déli, não foi esquecida a época em que os talibãs dirigiam o Afeganistão (1996-2001), que se tornou então uma terra receptiva a grupos jihadistas pró-paquistaneses que atacavam a Índia, sobretudo a Caxemira. “Nossa preocupação é que após a retirada da Otan, a história se repita, e que o Afeganistão volte a se tornar território de grupos extremistas com os quais já sofremos”, explica sob condição de anonimato um alto funcionário indiano envolvido na questão afegã.

Além disso, uma certa urgência começa a tomar conta da diplomacia indiana. Até hoje, o envolvimento político da Índia no Afeganistão havia se mantido até modesto, uma vez que Nova Déli se contentava com uma ajuda para o desenvolvimento – eletricidade, estradas, agricultura, educação (mais de R$ 4 bilhões em dez anos).

No plano militar, Nova Déli preferiu delegar seus interesses securitários à Otan, cujo combate à AlQaeda e ao domínio dos talebans convinha perfeitamente às prioridades estratégicas da Índia, ameaçada pelo islamismo radical. Além disso, os americanos sugeriam aos indianos que continuassem se mantendo discretos, para não alarmar o rival paquistanês. Em Islamabad, uma visão paranoica da situação atribuída à Índia no Afeganistão por muito tempo serviu para justificar o apoio da Inter-Services Intelligence (ISI) – os serviços secretos do exército – aos insurgentes afegãos, usados como peões anti-indianos.

Mas está surgindo um novo quadro. Agora que a relação entre americanos e paquistaneses está sendo minada pela suspeita e pela desconfiança – sobretudo desde a incursão contra Bin Laden em dois de maio de 2011 - , Washington está levando a Índia a se envolver mais no Afeganistão.

Foi nesse contexto que se assinou em outubro de 2011 um “acordo estratégico” entre Cabul e Nova Déli, o primeiro do gênero que Karzai assinou com um Estado estrangeiro. Ele comporta duas seções principais: um treinamento indiano dado ao exército afegão, e sobretudo a perspectiva de investimentos industriais no setor de mineração. “É algo novo, agora estamos apostando no setor privado”, explica o alto funcionário indiano.

Uma prova desse novo caminho é que um consórcio de empresas indianas venceu em 2011 uma licitação para a exploração de uma jazida de ferro em Hajigak (província de Bamiyan). Mas esse elemento do setor privado é frágil. Ele se depara com um certo medo dos meios empresariais indianos, preocupados sobretudo com a degradação da segurança em território afegão.

Nesse contexto, a Índia está se preparando para todas as opções – inclusive a hipótese de uma volta ao poder dos talibãs, que em sua visão constituiriam um cenário de pesadelo. Em off, os diplomatas indianos exprimem seu profundo ceticismo em relação a um processo de “reconciliação” com os rebeldes.

“Não vejo as comunidades pashtuns aprovando uma reconciliação com os talibãs”, diz o alto funcionário indiano. “Na pior das hipóteses, ou seja, no estouro de uma guerra civil, será a Índia levada a apoiar política e militarmente esses grupos tadjiques, hazaras ou uzbeques – concentrados no norte do Afeganistão -,  a fim de conter o avanço em Cabul de talibãs a partir de suas bases no sul pashtun? Em Nova Déli, a questão por enquanto é tabu, pelo menos oficialmente.

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