Artur Mas, líder do partido Convergência e União (CiU), discursa para partidários na Catalunha, na Espanha |
As eleições regionais da Catalunha, realizadas no fim de semana passado, deixaram em suspenso o movimento pela independência da região espanhola. A maioria dos eleitores apoia a separação, mas não consegue decidir que partido está mais bem preparado para governar o Estado. Analistas alemães dizem que a confusão não é boa para a Espanha nem para a Catalunha.
“As pessoas disseram o que querem e, agora, a situação está mais clara e mais complicada”. Essa foi a avaliação de Artur Mas, líder do partido separatista catalão Convergência e União (CiU), após os votos terem sido contados depois das eleições do fim de semana passado na região, localizada no nordeste da Espanha. Uma olhada nos resultados faz com que fique difícil argumentar.
Por um lado, está claro que a maioria dos eleitores da região, que inclui Barcelona, a segunda maior cidade espanhola, gostaria que um referendo sobre a independência fosse realizado. Mas eles discordam sobre qual partido separatista está mais bem preparado para governar a Catalunha. No total, quase dois terços dos assentos do parlamento regional foram obtidos por partidos políticos que são favoráveis à realização de um referendo sobre a separação da Catalúnia da Espanha. Mas os 87 assentos foram divididos entre quatro partidos separatistas diferentes, sendo que os dois maiores, o CiU e a Esquerda Republicana, têm posições totalmente opostas.
Dessa forma, para que qualquer referendo possa seguir adiante, os dois partidos provavelmente teriam que formar uma coalizão. Mas isso não parece ser possível no momento. De fato, até os analistas pareciam confusos com o resultado da votação. “Neste momento, não temos certeza sobre o estado do processo de independência da Catalunha”, disse à Associated Press Angel Rodriguez Rivero, professor de ciências políticas da Universidade Autônoma de Madri. “Nós não sabemos se essa nova situação vai acelerar o processo ou sufocá-lo novamente por tempo indeterminado”.
A votação ocorreu no iminente cenário de problemas econômicos e incertezas financeiras que assola a Espanha. O desemprego no país está em 25% e a Catalunha vinha sendo há muito tempo uma das regiões espanholas mais bem-sucedidas economicamente. Na verdade, o movimento separatista tem sido alimentado pelo sentimento de que a Catalunha paga mais impostos para Madrid do que recebe em serviços do governo. Além disso, o dinheiro das regiões mais ricas da Espanha é distribuído para as regiões mais pobres, em um sistema que alguns consideram injusto. Mais recentemente, no entanto, a Catalúnia ficou profundamente endividada e, pouco tempo atrás, precisou de um resgate no valor de 5,4 bilhões de euros de Madrid.
Artur Mas, líder do CiU, que também é chefe do governo regional, tem seguido um caminho de austeridade nos últimos meses, que tem prejudicado sua popularidade. Apesar de seu partido ter obtido 50 cadeiras no Legislativo catalão, que conta com 135 assentos, o CiU perdeu 12 cadeiras em relação à última eleição. O governo central de Madrid tem se oposto totalmente ao movimento separatista, e há dúvidas sobre sua legalidade à luz da Constituição espanhola.
Analistas alemães avaliaram detalhadamente o resultado da eleição de terça-feira (27).
O diário de centro-esquerda Süddeutsche Zeitung publicou:
“A principal razão para a diminuição da base de apoio do partido de Artur Mas não é o rígido programa de austeridade que ele introduziu há dois anos para reduzir a enorme dívida herdada de seus antecessores de centro-esquerda. Ao contrário, seus eleitores ficaram com medo da questão europeia: será que a Catalunha teria que deixar a União Europeia (UE) e a zona do euro caso decida se tornar independente? Artur Mas não tinha uma resposta clara para essa questão”.
“O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, no entanto, tinha uma resposta. Ele gostaria de impedir a independência da Catalúnia, uma região movida a turismo e indústrias... O cenário de horror que ele pintou para uma Catalunha independente se provou bastante útil. Ele disse que a região sofreria um colapso econômico caso saísse da UE e que a classe média empobreceria. E Rajoy foi apoiado pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que afirmou claramente que todo novo Estado deve passar pelo mesmo processo de adesão para entrar na UE”.
“Artur Mas não encontrou resposta para esse dilema europeu, especialmente considerando-se a completa falta de apoio dos líderes europeus para sua marcha rumo à independência. E a maioria esmagadora dos catalães, mesmo que queiram se separar da Espanha, querem continuar fazendo parte da UE”.
O diário de centro-direita Frankfurter Allgemeine Zeitung publicou:
“A votação na Catalunha não fez nada para esvaziar o debate sobre a independência. Os poderes radicais se fortaleceram e a fragmentação do cenário político não foi interrompida. Artur Mas perdeu devido a suas políticas de austeridade. No entanto, qualquer esforço para formar uma coalizão com a Esquerda Republicana terá que incluir uma plataforma separatista. Dessa forma, a dor de cabeça catalã de Rajoy não desapareceu. E a dor de cabeça da UE também continua”.
O diário de negócios Handelsblatt escreveu:
“Depois da algazarra populista das últimas semanas, é hora de os políticos catalães voltarem à realidade econômica. ‘De volta ao começo’, deve ser o lema. O estopim para o agravamento das relações entre Madrid e Barcelona foram as demandas catalãs pela reforma do modelo segundo o qual os ricos Estados espanhóis, como a Catalúnia, transferem dinheiro para os Estados espanhóis mais pobres. Foi só após o. categórico ‘não’ de Rajoy que o líder regional Artur Mas mergulhou no debate separatista”.
“Há um amplo consenso na Espanha que uma reforma fundamental do sistema... se faz necessária. Mas é difícil aprovar uma reforma como essa em meio à crise da dívida do euro, na qual os governos regionais e centrais estão lutando por cada décimo de ponto percentual do coeficiente do déficit orçamentário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)”.
O diário conservador Die Welt escreveu:
“No dia seguinte às eleições na Catalúnia ficou claro que a divisão que perpassa a Espanha está mais profunda do que nunca. À primeira vista, parecia que o líder catalão Artur Mas havia sido punido por seu incentivo à independência, como se os eleitores, devido a seu medo de ter que deixar a União Europeia, tivessem optado por uma postura moderada. O resultado das eleições, porém, demonstra o contrário. A radicalização aumentou em ambos os lados”.
“Artur Mas agiu irresponsavelmente. Ele nunca foi um pioneiro na jornada em direção à independência da Catalúnia. No entanto, ele queria realizar uma revolução em apenas dois meses – principalmente para desviar a atenção de sua terrível gestão da crise no governo. Isso tem se tornado uma espécie de padrão na coitada da Espanha”.
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