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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Direita francesa busca um novo rumo

Palácio do Eliseu (Palais de l'Élysée), sede do governo francês

Seis meses depois de Nicolas Sarkozy se tornar o primeiro presidente da França de um só mandato em três décadas, seu ferido partido de centro-direita está seriamente dividido e, assim como o Partido Republicano nos Estados Unidos, agora precisa decidir se deve se deslocar para a direita ou para o centro, à medida que tenta se recuperar e estabelecer um curso ideológico claro.

A vantagem para o partido, o União por um Movimento Popular (UMP), é que o governo socialista já está caindo em popularidade, à medida que luta para conter o déficit orçamentário e evitar uma recessão. Mas a derrota contundente de Sarkozy, que foi rapidamente seguida pela vitória socialista nas eleições legislativas de junho, deixou o UMP em uma crise existencial que afetará a eleição de sua liderança em 18 de novembro.

O partido enfrenta a escolha entre dois homens de estilos muito diferentes – François Fillon, o elegante primeiro-ministro de Sarkozy, e Jean-François Cope, um agitador que atualmente lidera o partido. O resultado provavelmente determinará se ele continuará sendo o herdeiro político do partido fundado por Charles de Gaulle depois da Segunda Guerra Mundial, ou se ele se deslocará ainda mais para a direita diante do desafio da Frente Nacional de extrema direita.

Fillon, 58 anos, é um conservador tradicional que, como primeiro-ministro, conseguiu permanecer popular mesmo enquanto seu chefe hiperativo despencava nas pesquisas de opinião. Sereno e urbano, levemente maçante, ele deseja guiar o partido para o centro, na esperança de atrair os eleitores que apoiaram Hollande, mas que já estão ficando desiludidos com seu desempenho.

Cope compartilha grande parte das posições de Fillon em política econômica e Europa. Mas o legislador de 48 anos e prefeito de Meaux, ao nordeste de Paris, é claramente mais provocador em sua retórica e franco em seus esforços de atrair os eleitores da Frente Nacional, cujo forte resultado histórico nas eleições deste ano dividiu o voto dos conservadores, selando o destino de Sarkozy.

De baixa estatura e inflamado, Cope se descreve como um “judeu não praticante” e de origem imigrante. Somadas algumas de suas fortes posições a respeito de imigração e do Islã, ele é visto como feito no mesmo molde de Sarkozy. Mas os críticos o chamam de “Sarkozy light”.

Com a aparente vantagem de Fillon, Cope –uma das principais forças por trás da lei de 2011 que proibiu o uso em público da burca, ou véu completo– parece ter adotado um tom mais divisor, concentrando-se em temas como imigração e religião que há muito têm apelo junto à extrema direita.

No mês passado, em “Um Manifesto por uma Direita Desinibida”, ele disse que os subúrbios das maiores cidades da França se transformaram em baluartes do “racismo antibranco”, um termo muito discutido e ridicularizado na imprensa francesa. Ele posteriormente usou sua conta no Twitter para contar o caso de uma criança que teve seu doce de chocolate roubado por “bandidos”, supostamente fiscalizando o jejum do Ramadã.

Os comentários provocaram ultraje na esquerda e incomodaram alguns membros do UMP.

“Todas essas pequenas frases são tóxicas e perigosas”, disse François Baroin, um ex-ministro das finanças de Sarkozy e apoiador de Fillon. Benoist Apparu, um ex-ministro, concordou. “Posições como essa enfraquecem nossa família política”, ele disse.

Outros discordam. “Ele fala a verdade sobre coisas que outros têm medo de dizer”, disse Nadine Morano, uma ex-ministra próxima de Sarkozy que apoia Cope para líder do partido. Sua franqueza tem apelo especial junto aos jovens conservadores “exasperados”, ela disse. “Eles estão muito ligados à linguagem da verdade.”

Para Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, a estratégia de Cope é uma confissão de que os líderes do partido estão fora de contato com a realidade.

“A base do UMP se sente muito mais próxima de nossas posições do que das da liderança do UMP”, ela disse em uma entrevista de rádio. “Cope está correndo atrás de sua base.”

O comparecimento à eleição do UMP neste mês –que é aberta aos seus cerca de 300 mil membros– dará algum indício sobre se, e quanto, o centro de gravidade do partido se deslocou. Mesmo a vitória esperada de Fillon, se casada a um baixo comparecimento, poderia sinalizar o apoio a uma linha mais moderada, mas menos entusiasmo por ele como candidato presidencial potencial.

“Nós teremos uma ideia do equilíbrio de poder”, disse Bruno Cautres, um especialista em opinião pública do Centro para Pesquisa Política, do Institut d’Études Politiques, ou Sciences Po. “Isso determinará a estratégia eleitoral deles –não apenas para 2017, mas também para as eleições interinas de 2014.”

Após perder a presidência e ambas as casas do Legislativo, o UMP está se concentrando nas mais de 300 eleições municipais e comunais –os governos locais são atualmente dominados pela esquerda– daqui a aproximadamente um ano. Com as dificuldades do governo de Hollande, os analistas sugerem que a direita pode conseguir ganhos reais.

Independente de quem venha a se tornar o líder do partido, o UMP provavelmente manterá sua delicada dança tática com os eleitores de extrema direita, evitando ao mesmo tempo uma aliança com a Frente Nacional.

“Marine Le Pen é jovem; ela tem apenas 43 anos”, disse Cautres. “A direita francesa terá que lidar com ela por muito tempo.”

Tanto Fillon quanto Cope rejeitam qualquer parceria com a Frente Nacional, um cenário que é considerado um suicídio político.

O UMP já está exibindo alguma nostalgia por Sarkozy, 57 anos. Após passar o verão nas praias do Marrocos e do sul da França, ele iniciou uma série de aparições públicas que pareciam coreografadas para mantê-lo no quadro para a corrida presidencial de 2017.

A imprensa francesa pareceu feliz em atendê-lo: “Yoo-hoo! Estou de volta!” dizia uma capa recente da revista “Le Point”, sobre uma foto de Sarkozy, bronzeado e com barba por fazer.

Bruno Le Maire, um ex-ministro da agricultura, citou Sarkozy como tendo dito que ele poderia se sentir obrigado a concorrer de novo.

“A pergunta não é se voltei, mas sim se tenho escolha, moralmente falando, de não voltar”, Le Maire citou Sarkozy como tendo dito.

Analistas disseram que se Fillon vencer a eleição para liderança da UMP, ele provavelmente buscará ser o candidato do partido à presidência. Mas Cope deixou claro que daria lugar a Sarkozy –se posicionando como um substituto para um ex-presidente que muitos acreditam não ter a intenção de desaparecer.

“Como qualquer presidente que é derrotado –especialmente após um único mandato e por margem estreita– ele sonha com vingança”, disse Cautres, da Sciences Po. “Oficialmente ele faz parecer que virou a página, que está vivendo outra vida. Mas isso é pura fantasia.”

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