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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Der Spiegel: Obama tem vantagem e força, diz ex-funcionário da Casa Branca

John Podesta

O ex-chefe de Gabinete da Casa Branca e atual consultor político John Podesta está apostando na capacidade do presidente Barack Obama de superar o impasse no Congresso. Em uma entrevista para a “Spiegel”, ele diz que a reeleição do presidente é um mandato para aumentar os impostos sobre os ricos e investir na classe média.

Spiegel - Sr. Podesta, a reeleição do presidente Barack Obama foi uma vitória difícil. Ela será suficiente para um recomeço em Washington?
Podesta - Ele se saiu melhor do que a maioria dos democratas esperava, mas o país ainda permanece bem dividido. O público claramente escolheu manter o programa que ele apresentou aos americanos e rejeitou as plataformas sugeridas pelo governador Romney. Eu acho que isso lhe dá uma vantagem importante.

Spiegel - Mesmo assim, quase 50% do país votou contra Obama e os republicanos ainda dão o tom na Câmara dos Deputados.
Podesta -  Essa não é mais uma posição crível. Após a derrota eleitoral clara, eles terão que abandoná-la. Eles resistiram nos últimos dois anos à estrutura orçamentária apresentada, que exige aumento da receita, particularmente aumentos de impostos para pessoas que ganham mais de US$ 250 mil por ano.

Spiegel - Obama pode conseguir com que o Congresso aprove aumentos de impostos para pagar pelos investimentos tardios em infraestrutura e educação?
Podesta - Ele concorreu prometendo uma mudança de foco do país para o investimento na classe média, e isso exige impostos mais altos e impostos mais justos sobre os ricos. A maioria dos americanos e claramente a maioria do Colégio Eleitoral votou a favor disso. Então eu acho que ele tem a vantagem e a força para exigir que os republicanos aceitem isso.

Spiegel - Mas primeiro Obama deve chegar a um acordo com a direita sobre como impedir que os Estados Unidos caiam no “precipício fiscal”, o pacote de aumento de impostos e cortes orçamentários radicais que, caso contrário, entrarão automaticamente em vigor em janeiro, provavelmente deixando o país em recessão.
Podesta - O presidente dispõe de boas cartas nas mãos para essas negociações. Se os republicanos se recusarem a ceder, então o resultado será aumento de impostos para todos os americanos. Isso os deixaria na posição do partido que aceitou aumento de impostos para milhões de americanos de baixa renda visando manter alguns poucos privilégios para os super-ricos. Nem mesmo seus próprios eleitores entenderiam isso.

Spiegel - Como vocês estão se preparando para as negociações?
Podesta - Nós estamos trabalhando atualmente nas recomendações para reforma tributária e cortes de gastos –em particular reduzindo os custos do atendimento de saúde. Há algumas poucas posições em que o presidente insiste, como fazer com que os super-ricos paguem uma quantia mais justa de impostos.

Spiegel - Em seu discurso da vitória, Obama disse que estenderia sua mão aos republicanos e trabalharia junto com eles. Mas isso não funcionou no passado.
Podesta - Essa foi a situação antes da eleição. Mas os republicanos foram massacrados entre minorias como latinos, afro-americanos e asiáticos. Eles perderam as mulheres com ensino superior. Eu acho que as pessoas mais sábias e mais políticas no partido dirão: esse sujeito foi reeleito, então temos que encontrar uma forma de trabalhar com ele.

Spiegel - O senhor soa altamente otimista.
Podesta - Mas foi isso o que aconteceu em 1997, quando eu fui chefe de Gabinete do ex-presidente Bill Clinton. Após paralisar o governo em várias ocasiões, o Congresso sob Newt Gingrich encontrou um modo de trabalhar com o presidente Bill Clinton após sua reeleição em um grande acordo orçamentário que foi implantado em agosto de 1997.

Spiegel - O Partido Republicano mudou significativamente de lá para cá, com os membros do radical Tea Party (movimento que faz referência à Festa do Chá de Boston, um protesto antitaxação no século 18) estabelecendo o tom no Congresso.
Podesta - Eu acho que eles saberão o que é de seu melhor interesse político. Mas ainda resta saber se eles sentirão que têm espaço para se deslocarem para uma posição mais moderada.

Spiegel - Obama pode fazer algo para aliviar a situação?
Podesta - Primeiro, ele tem que resolver o precipício fiscal. Mas depois disso, há algumas questões em que democratas e republicanos podem trabalhar juntos –como as leis de imigração, que são muito importantes para os eleitores latinos. Nesse ponto, Romney era bastante retrógrado, até mesmo George W. Bush era mais liberal nesse assunto.

Spiegel - O que o senhor quer dizer com isso?
Podesta - O Partido Republicano continuou explorando o medo das pessoas que estão aqui hoje. Romney queria que os imigrantes ilegais se “autodeportassem”. Esse foi um motivo para ele ter perdido. Eu acho que Obama tem a oportunidade de encontrar espaços para trabalhar com o Partido Republicano na reforma da educação, por exemplo, e na transformação da matriz de energia, fazendo com que o país passe a ter uma base de energia limpa.

Spiegel - Será? Muitos republicanos negam a existência da mudança climática. Obama também não discutiu o assunto durante a campanha.
Podesta - Eu gostaria que ele tivesse falado mais a respeito. Eu acho que o furacão Sandy reforçou nas pessoas a ideia de que temos um problema e ele tornou a mudança climática mais saliente. Um indício foi o apoio do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, a Obama, quando ele disse que ele seria melhor do que Romney na questão da mudança climática.

Spiegel - Quanto tempo o presidente tem em seu segundo mandato até se tornar um “pato manco” (um político sem força, apenas aguardando o término de seu mandato)?
Podesta - Não se trata apenas de iniciar as reformas. A situação passa de tentar a aprovação de uma grande legislação para a consolidação do que já foi conseguido –como a reforma da saúde de Obama– e ao uso, como eu disse, dos poderes do Executivo para implantar e conduzir o país à frente. Mas muita água ainda vai rolar até que o próximo presidente tome posse em 20 de janeiro de 2017.

Spiegel - Obama pode abrir o caminho para um sucessor democrata?
Podesta - É muito difícil prever o que acontecerá daqui a quatro anos. Quem sabe o que acontecerá com a China, com a crise do euro ou com o programa nuclear iraniano. E não é possível ter plena certeza se os republicanos continuarão ou não levando seu partido ainda mais à direita. De certa forma, eu acho que os desafios mais difíceis na frente econômica para Obama já ficaram para trás. Agora ele conta com algum espaço de manobra. Esse é um motivo para o candidato democrata de 2016 poder estar em uma boa posição.

Spiegel - E então Hillary Clinton, que em breve deixará o cargo de secretária de Estado, se apresentará?
Podesta - Ela tem sido um ativo incrível para Obama e realizou um ótimo trabalho no Departamento de Estado. Ela também tem a vantagem de um dos agentes mais valiosos nesta campanha ter sido Bill Clinton. Ele emoldurou a escolha em seu discurso na convenção melhor do que qualquer um, então saiu em campanha de modo incansável.

Spiegel - Ao fazer campanha para Barack Obama, Bill Clinton pode ter ajudado sua esposa na próxima eleição. O senhor concorda?
Podesta - Eu o conheço bem. Bill Clinton acorda toda manhã pensando no que a política fará pelas pessoas comuns neste país. Ele viu este como sendo um momento crítico, onde seria desastroso se voltássemos com Romney às políticas do governo Bush. As pessoas gostam de analisar o quanto disso é um cálculo. Mas o cálculo dele foi simplesmente que o povo americano precisava permanecer nos trilhos estabelecidos por Obama.

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