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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Seria o princípio de um pluralismo político "à moda russa"?


Vladimir Putin, atual primeiro-ministro da Rússia


Sem chegar ao ponto de considerar uma derrota para Vladimir Putin nas próximas eleições presidenciais, o questionamento da supremacia eleitoral do Rússia Unida por determinadas camadas da população nas últimas legislativas poderia sugerir que o país está entrando em uma fase de reformulação progressiva de seu sistema político, ao mesmo tempo em que conserva certas invariantes da cultura política putiniana.

Durante os acontecimentos que se sucederam após as eleições legislativas russas do dia 4 de dezembro de 2011, a imprensa francesa tendeu a focar no movimento de manifestações contra as fraudes, bem como sobre seu líder  - o blogueiro Alexis Navalny. A mobilização do dia 24 de dezembro de 2011 na Avenida Sakharov para denunciar o “partido dos escroques e dos ladrões” certamente foi algo que não se via desde 1993, em um país que muitos diziam ser politicamente amorfo. Mas a espontaneidade do movimento, bem como sua dimensão espetacular, não devem fazer com que se esqueça que os manifestantes constituem somente uma parte ínfima do eleitorado russo, do qual uma maioria continua apoiando a “vertical do poder”, o modelo político instaurado por Vladimir Putin no início dos anos 2000, e muitas vezes associado à ideia de estabilidade e de crescimento reencontrados após o “caos” dos anos 1990. No entanto, uma real contestação do partido governista Rússia Unida ocorreu nas urnas nas eleições legislativas, e isso apesar das fraudes. Mais do que as próprias manifestações, ela poderia ser um prenúncio de grandes mudanças políticas durante as presidenciais de março de 2012.

Nas eleições legislativas de dezembro passado, em muitas partes da Rússia ocidental e, muitas vezes pela primeira vez, o Rússia Unida chegou em segundo – ou até terceiro – lugar atrás do partido comunista e da coalizão Rússia Justa (centro-esquerda). Essa reviravolta eleitoral ocorreu principalmente em cidades bem precisas, onde se concentra uma classe média provinciana de um gênero bem particular. Essas cidades, geralmente de tamanho médio, eram os carros-chefes do gigantesco aparelho de produção da URSS. Centros de pesquisa nuclear, fábricas estratégicas, núcleos de ciência... Esses territórios têm em comum uma história muitas vezes feita de privilégios, mas também de segredos.

Logo no início de seu primeiro mandato, Vladimir Putin liberou somas imensas para incentivar a retomada econômica dessas cidades especializadas e multifuncionais, para delas fazer as vitrines de uma potência tecnológica e científica ressuscitada. Embora persistam sérias dúvidas quanto à rentabilidade desses investimentos, continua sendo verdade que o dinheiro público – que foi investido de forma maciça ali graças aos dividendos do gás e do petróleo – contribuiu para a emergência de uma verdadeira classe média nessas municipalidades que são como um arquipélago no imenso oceano de uma “Rússia rebaixada” (termo emprestado de J.R. Raviot).

Foi justamente nessas ilhotas que o Rússia Unida sofreu os maiores reveses durante as últimas legislativas, uma vez que os eleitores preferiram amplamente o partido comunista e a coalizão Rússia Justa. Na cidade de Dubna, fundada em 1947 em torno do primeiro acelerador de partículas da URSS e capital dos físicos, o voto no Rússia Unida caiu para 21% em 2011, contra 48% nas eleições parlamentares de 2007, por exemplo. O mesmo aconteceu em Korolev, cidade que abriga o centro de controle de voos da agência espacial russa (22% para o Rússia Unida em 2011, contra 59% em 2007), ou ainda na famosa Cidade das Estrelas, onde os cosmonautas treinavam antes de suas missões (20% para o Rússia Unida em 2011). Nessas três cidades, o partido governista chegou em terceiro lugar, uma vez que o primeiro ficou com o partido comunista, e o segundo com a coalizão Rússia Justa. O mesmo fenômeno pôde ser observado em dezenas de cidades de perfil similar.

Longe das agitações da Avenida Sakharov, mantidas principalmente por movimentos liberais e nacionalistas, a contestação silenciosa dessa classe média provinciana altamente qualificada poderia ser o sinal premonitório de grandes mudanças políticas na Rússia. O Partido Comunista, bem como a coalizão “Rússia Justa” (centro-esquerda, apoiou Medvedev nas últimas eleições presidenciais), são formações políticas importantes que partilham de um certo número de valores. Ambos são a favor de um modelo de Estado-providência fundado em uma concepção vertical do poder, e eles de fato adotam uma visão da Rússia compatível com os discursos de Vladimir Putin, enquanto nacionalistas e liberais presentes nas ruas de Moscou propõem modelos alternativos às vezes muito afastados do modelo putiniano e pouco representativos das aspirações da maioria do eleitorado.

A mudança de comportamento eleitoral dessa classe média provinciana corresponderia então à expressão de um cansaço em relação ao sistema clientelista em torno do qual se organiza o Rússia Unida, bem mais que a um questionamento fundamental de princípios políticos ainda considerados a panaceia para a catástrofe econômica, social e moral que atingiu o país nos anos 1990. A classe média provinciana poderia então estar na vanguarda de um amplo movimento eleitoral de condenação do Rússia Unida. Isso sugeriria a reformulação de um poder que, embora ainda esteja baseado na ideia de verticalidade, poderia fazer eclodir um embrião de pluralismo entre o Rússia Unida, o Rússia Justa e os comunistas. Portanto, a saída de Vladimir Putin, exigida pelos manifestantes, não seria a condição fundamental para o advento de um modelo como esse; o ex-presidente poderia conseguir reformular suas redes de poder com base nessas novas aspirações afastando-se aos poucos de sua criatura, o Rússia Unida. O país poderia então entrar no caminho de uma alternância “à moda russa”.

* Kevin Limonier é pesquisador no Instituto Francês de Geopolítica (Universidade Paris-8) e membro da redação da revista “Regard  sur l’Est”.

Um comentário:

  1. Russia Unida ate o nome ja diz , CAPACHOS dos Yankes,
    .
    decada de 90 bem lembrado os capitalista la so afundarao o pais a abrirao pro dominio Yanke.
    Putim leve ese eleicao e mantenha Russa como um poder mundial
    .
    nao subordinado como Russia Unida quer ,

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