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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Entenda por que a Rússia apoia o ditador sírio

Na foto, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia e opositor ferrenho de uma intervenção militar na Síria

Duas importantes autoridades russas, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o diretor de inteligência estrangeira, Mikhail Fradkov, estiverem recentemente em Damasco.

A missão deles não era convencer Bashar al-Assad a deixar o poder e lhe oferecer exílio na Rússia. Em vez disso, a conversa foi sobre dialogar com a oposição, oferecendo um referendo sobre uma nova Constituição e a retomada da missão de “estabilização” pela Liga Árabe. A Rússia, por sua vez, permaneceria firmemente ao lado da China no Conselho de Segurança da ONU, impedindo uma condenação formal do regime sírio, qualquer intervenção militar externa ou qualquer sanção contra ele.

Ocorrendo tão tarde no jogo, a tentativa de reconciliação está fadada a fracassar. A guerra civil de fato já começou na Síria, e não acabará tão cedo. Estados Unidos, Europa, Turquia e os países do Golfo já condenaram Assad.

Mas a mediação russa poderia ter tido alguma chance caso Lavrov e Fradkov tivessem visitado Damasco em meados do ano passado, ou mesmo no final do ano passado, e a visitado com frequência em um exercício de diplomacia. Dado o papel da Rússia como apoiadora tradicional e fornecedora de armas à Síria, Moscou poderia ter tido mais sucesso como pacificadora do que Ancara. Hoje, a missão de Lavrov e Fradkov parece mais um gesto para salvar as aparências.

A posição da Rússia em relação à Síria é frequentemente explicada nos termos da importância desta para Moscou. É verdade que a Síria está posicionada no coração estratégico do Oriente Médio e que os laços de Moscou com a família Assad já duram quatro décadas.

Mas nada disso deve ser exagerado. A Síria não é uma aliada; Tartus é uma instalação de reabastecimento naval, não uma base; e o valor total do comércio de armas da Rússia com a Síria durante a década anterior foi de cerca de US$ 1,5 bilhão, o que torna Damasco o sétimo maior cliente de Moscou.

Para entender a atitude de Moscou em relação à Síria, e as fontes de seu desacordo com o Ocidente e vários países árabes, é preciso ter uma visão mais ampla.

No ano passado, a Rússia se absteve no Conselho de Segurança na votação da zona de exclusão aérea na Líbia, permitindo, portanto, a aprovação da resolução. Logo, aquilo que foi rotulado como proteção a vítimas inocentes de um massacre em Benghazi se transformou em uma guerra no exterior da Otan contra o governo líbio, que finalmente resultou na derrubada do regime de Gaddafi e a morte do ditador, juntamente com muitos de seus apoiadores e provavelmente um grande número de civis. O fato das ações militares da Otan terem ido muito além dos termos da resolução da ONU não parece incomodar os governos ocidentais.

O governo russo é abertamente conservador; ele abomina revoluções. Isso, entretanto, é mais do que uma posição ideológica de interesse próprio. Quando o Kremlin –ou o gabinete de Fradkov– olha para o Despertar Árabe, ele vê a democratização levando diretamente à islamização.

Se a analogia histórica do Ocidente for a Europa de 1848 ou de 1989, a dele é a Rússia de 1917. Ele cita os resultados eleitorais recentes na Tunísia e especialmente no Egito. Ele aponta que a Líbia pós-Gaddafi é caótica, com muitos dos armamentos do antigo regime caindo em mãos desagradáveis. No seu entender, o levante na Síria poderia levar a consequências ainda piores em termos de violência sectária e potencial de afetar os países vizinhos, particularmente o Líbano e Israel.

Revoluções são ruins, na visão do Kremlin, mas tentativas de interferir em guerras civis de outros países só podem piorar as coisas.

Os russos apreciam o fato de que os Estados Unidos e outras potências ocidentais só interviriam militarmente se pudessem sustentar nenhuma perda eles mesmos, como na Líbia. A Síria, entretanto, é um caso mais difícil. Armar o Exército Livre da Síria e fornecer a ele inteligência não bastaria para sobrepujar as forças de Assad. A perspectiva de uma guerra maior com participação árabe e turca paira no horizonte.

Uma guerra como essa só faria sentido se fosse o primeiro ato de um drama mais sério. Os russos suspeitam que o verdadeiro motivo para a pressão do Ocidente sobre Damasco é tirar de Teerã seu único aliado na região. Por trás da atividade dos países do Golfo, particularmente o Qatar, na questão da Síria, Moscou vê a crescente influência regional da Arábia Saudita, a rival amarga do Irã na região. As ambições “neo-otomanas” da Turquia também exercem um papel. Mas os russos mais se preocupam com a possibilidade de Israel atacar o Irã, arrastando os Estados Unidos e assim causando uma grande guerra com Irã ainda neste ano.

Os autores de política russos podem ter razão em um ponto ou outro quando discutem as políticas dos outros. Mas eles precisam dar um passo para trás e olhar para suas próprias políticas.

Fornecer armas para um país que está entrando em guerra civil é danoso, tanto política quanto moralmente. Confrontar tanto os Estados Unidos quanto a Europa, mesmo se as políticas ocidentais forem equivocadas, claramente contraria os interesses maiores da Rússia. Mandar o Qatar calar a boca não é apenas não diplomático, mas também não inteligente. E brigar abertamente com a Turquia e com a Arábia Saudita precisa ser evitado.

Por isso, alguns diriam que, tendo perdido US$ 4 bilhões em contratos de armas líbias e outros e enfrentando a perspectiva de perder um valor igual em comércio potencial com a Síria, Moscou não tem outra escolha a não ser assumir uma linha dura. Será uma pena se, no final, este argumenta prevaleça.

2 comentários:

  1. Deste ponto de vista então,o certo seria deixar que os EUA e OTAN pratiquem essa política de derrubada dos governos locais. Com a morte de milhares de civis,e destruindo sua infra-estrutura,para depois trazerem suas empresas para reconstruir o país destruído. Esse é um enredo que se repete,e alem disso o que a Russia está fazendo não é apenas preserval o seu comércio de armamento com a Síria. O que moscou parece deixar bem claro,é que essa onda de ingerência no mundo árabe,e mais precisamente nessa parte do orinte médio está chegando ao fim. Isso parece muito difícil de ser reconhecido pelo ocidente,acostumado a ter a Russia acuada num canto,sem poder de barganhar com o ocidente,e consequentimente abaixar a cabeça para os desmandos da OTAN e EUA. Toda essa retórica da Russia nessa questão da Síria,não tem nada à ver com a base que os russos mantem em tartus isso é claro. Tem á ver com algo maior,tem á ver com o plano americano de cercar os países aliados de moscou na região,tem a ver com a preparação para uma intervenção no Irã. Está bem claro que Russia e China não talerarão essa política do ocidente rumo as suas fronteiras e zona de influência,mais como já disse é muito difícil para ocidente acreditar nessa revira volta. Parece absurdo afirmar,mais a OTAN não irá confrontar a Síria e os EUA's não atacaram o irã,sem uma retaliação da Russia. O desfecho desse enredo pode ser diferentemente do que tem acontecido na região,muito catastrófico.

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  2. Os países ocidentais, os EUA à frente, estão esticando ao máximo a corda, a fim de laçar o maior número possível de países para o seu jogo. Mas a tensão parece estar indo além da conta. Se a corda arrebentar, não ficará longe o Armagedom. Se é isso o que estão querendo, é isso o que vão encontrar. A Rússia e a China não vão ficar de braços cruzados vendo os seus aliados serem retirados do poder um a um.

    Lívio Luiz Soares de Oliveira

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