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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Para Brasil, pacto com Irã continua valendo


Para enviado de Dilma ao Oriente Médio, texto de 2010 tem de ser atualizado, mas segue viável

Mahmoud Ahmadinejad (dir.) e Lula em 2009

Para o governo brasileiro, a proposta de acordo formulada na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã, em maio de 2010, "continua sobre a mesa". "Para nós, os termos do acordo turco-brasileiro-iraniano são os mesmos e continuam valendo", diz o enviado da presidente Dilma Rousseff ao Oriente Médio, embaixador Cesário Melantonio Neto.

"A (negociação) não depende de nós, o Brasil não pode fazer isso sozinho", afirmou ao Estado Melantonio. "Ela depende da comunidade internacional, de um grande número de países voltar a examinar essa proposta e das Nações Unidas. Mas o esforço conjunto feito pela Turquia, Brasil e Irã continua sobre a mesa."

Ele admite que a oferta feita em Teerã precisa ser atualizada. "Passaram-se dois anos e a proposta deve ser revista e coordenada com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os volumes mudam, mas o que vale é o princípio", defende.

O plano de 2010 previa a troca de urânio levemente enriquecido pela substância processada a 20%. O Irã repassaria parte de seu estoque à Turquia e, em contrapartida, receberia de um terceiro país uma carga que pudesse ser utilizada no reator de pesquisa de Teerã.

A chamada "Declaração de Teerã" tinha por base uma oferta feita pelos EUA oito meses antes e recusada pelo Irã. Horas depois de Lula celebrar o acordo com o turco Recep Tayyip Erdogan e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, os EUA afirmaram que a proposta havia perdido a validade, pois o Irã não suspendera o enriquecimento de seu urânio durante a negociação.

O desentendimento sobre o Irã azedou as relações entre os governos Lula e Barack Obama. Dois meses depois, o Conselho de Segurança da ONU adotou sua sexta resolução contra a república islâmica. O secretário-assistente de Relações Públicas do Departamento de Estado dos EUA, Mike Hammer, afirmou esta semana que Obama "pretende ouvir" a posição de Dilma sobre o programa iraniano quando os dois líderes encontrarem-se na Casa Branca, no dia 6 de abril. O governo brasileiro não reagiu oficialmente à informação e Melantonio não quis comentar o caso.

Conexão argentina. O anúncio feito ontem por Ahmadinejad pode fechar uma brecha importante usada na Declaração de Teerã.

O acordo turco-brasileiro referia-se ao fornecimento de urânio enriquecido especificamente ao reator de pesquisas de Teerã, equipamento doado em 1967 ao xá Reza Pahlevi pelos EUA. Com a Revolução Islâmica, em 1979, Washington cortou o suprimento de combustível nuclear. A Argentina, então, fechou um contrato com Teerã em 1987 para modernizar o aparelho e fornecer 120 quilos de urânio com o grau de enriquecimento necessário para fazer funcionar o aparelho.

O estoque fornecido pelos argentinos, entretanto, está praticamente esgotado. Com base nessa brecha, primeiro americanos e depois brasileiros e turcos tentaram "atrair" o Irã para um acordo de troca de urânio.

Ontem, Ahmadinejad afirmou que o reator de pesquisa de Teerã - alvo da proposta turco-brasileira - passará a ser abastecido com varetas de combustível produzidas no próprio país persa. Se o Irã realmente conseguir ser autossuficiente no abastecimento do equipamento, o acordo perderá parte de seu sentido. Especialistas, porém, duvidam que Teerã tenha alcançado esse estágio.

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