Bashar al- Assad |
O Exército Sírio Livre (ESL) e outros grupos armados aumentaram o número de operações visando as forças de segurança do regime. Esses grupos de desertores – recrutas, em sua maioria – agora são reconhecidos pelo Conselho Nacional Sírio (CNS). A pressão internacional sobre o regime baathista vem se acentuando. Vários países árabes, após a reunião da Liga Árabe, anunciaram seu apoio à oposição e as últimas declarações dos dirigentes ocidentais são inequívocas em relação ao presidente sírio. Por outro lado, o ministro do Interior iraquiano, Adnan el-Assadi, anuncia que jihadistas, armas e munições estão entrando na Síria para ajudar a insurreição armada. Estariam os dias de Bashar el-Assad realmente contados? Ou estamos diante de uma encenação macabra totalmente inventada por um regime que está distribuindo os papeis para manter o controle? Uma encenação que permitiria introduzir uma “solução” securitária em uma “solução” militar.
O fato de que certas cidades tenham de fato caído nas mãos dos opositores faz com que algumas pessoas acreditem que os dias do regime estão contados. Mas esses acontecimentos podem estar escondendo um estado de fato bem diferente.
Se tomarmos como exemplo a cidade de Zabadani – precipitadamente comparada a Benghazi – percebemos que é inconcebível Assad não conseguir retomar o controle desse enclave a alguns quilômetros da capital Damasco, perto da fronteira libanesa e adjacente a uma zona (do lado libanês) sob controle da Frente Popular de Libertação da Palestina-Comando Geral (FPLP-CG) há décadas, mesmo que o regime tenha se recusado a ceder cidades e vilarejos nos confins do país (Jisr-el-Shughur, Hama, Deir el-Zur...). Se o 4ª regimento, comandado por Maher el-Assad, irmão do presidente, aceitou negociar sua retirada de Zabadani, foi por saber que a cidade será fácil de ser retomada uma vez que ela tiver servido de “álibi” para uma campanha militar em todo o território. Essa campanha militar em escala nacional começou na noite de 3 de fevereiro em Homs (com o bombardeio do bairro de Khaldyé) e continuou com a ofensiva para retomar Zabadani.
Todos esses acontecimentos nos levam a constatar que o regime baathista conseguiu conduzir os opositores até a arena de sua escolha. Ao final de nove meses de manifestações pacíficas, Assad conseguiu desviar seus opositores do plano inicial deles para obrigá-los a constituírem uma oposição armada. Desde que apareceu pela primeira vez (1º de abril de 2011) o presidente sírio não mudou de discurso. Ele afirma combater “terroristas e grupos armados”. Portanto, a militarização da revolução serve, em parte, aos desígnios de Assad.
Esse novo paradigma permite que o presidente sírio retome o controle no local. Uma parte da comunidade internacional reconhece que há dois lados disputando o poder na Síria. Isso em si é uma vitória para Assad, um golpe de mestre que Muammar Gaddafi não conseguiu: o Guia continuou sendo o opressor e as potências ocidentais ocultaram a realidade de uma guerra civil que ainda hoje continua nas ruas de Trípoli.
O drama sírio está em seus primeiros episódios, mas paradoxalmente a “internacionalização” da questão síria também faria o jogo de Assad. O presidente sírio afirmou continuamente que seu país estava enfrentando um complô ocidental. Então, se a questão síria for assumida pelo Conselho de Segurança – sob a 7ª cláusula, que permitiria o uso da força – Assan terá sua “prova” de que a ONU está a serviço das potências ocidentais.
Notamos que os países árabes onde os movimentos revolucionários tiveram sucesso foram aqueles onde a teoria da “ameaça externa” não era mais convincente para a população. Foi o caso da Tunísia, do Egito e até da Líbia, apesar da intervenção da Otan. Ao passo que nos países pioneiros onde essa ameaça infelizmente era “real” – como no Líbano, em 2005, onde as manifestações levaram à saída do exército sírio após trinta anos de ocupação, ou no Irã, em 2009, com a revolução verde – a revolução não vingou. A Síria está nessa mesma situação: parte da população continua convencida de que o “perigo externo” é bem verdadeiro. Em caso de intervenção estrangeira, será difícil dissuadir aqueles que apoiam Assad, ou até mesmo aqueles que ainda não se posicionaram, em prol da revolução. Mais: os shabihas, que lutam a favor de Assad, verão sua “causa” sendo legitimada. Também entraremos em uma guerra civil comparável àquelas que devastaram o Iraque ou o Líbano.
Por fim, podemos constatar que na atual situação, todas as hipóteses continuam sendo possíveis. A Síria está somente no início de um túnel, que promete ser longo, sombrio e cheio de armadilhas. Assad volta a conduzir a dança, seguindo suas próprias regras, até na assembleia da ONU: o representante da Síria nas Nações Unidas considera loucura “um dirigente bombardear suas cidades às vésperas de um exame de situação no Conselho de Segurança” e acusa a oposição de bombardear Homs “para influenciar na decisão” desse mesmo Conselho. O mesmo acontece com o assassinato de Gilles Jacquier: o que era inconcebível até alguns meses atrás, agora se torna possível... Assad semeia a dúvida, ele simplesmente retomou o controle.
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