Chanceler brasileiro defende que ações militares sejam adotadas apenas em último caso
Chanceler Antonio Patriota |
Enquanto a comunidade internacional estuda formas de agir com relação à crise da Síria, o Brasil defendeu ontem, em um debate na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, que uma intervenção estrangeira não deve ser tomada antes que se esgotem todas as possibilidades diplomáticas. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, sustentou que as intervenções para a proteção de civis em casos extremos devem se basear em uma "análise abrangente e criteriosa de todas as consequências possíveis" que ela possa causar. A ideia de um maior critério para a norma da ONU conhecida como Responsabilidade de Proteger (R2P) foi apresentada pela presidente Dilma Rousseff em seu discurso de abertura da última Assembleia Geral da ONU, em setembro.
O evento de ontem foi realizado no North Lawn Building, um dos edifícios da sede do organismo, e teve a participação do assessor especial do secretário-geral da ONU para a Responsabilidade de Proteger, Edward Luck, além de acadêmicos, organizações não governamentais
(ONGs) e representantes dos países membros das Nações Unidas. Em sua fala, Patriota defendeu que antes de se iniciar uma ação militar, a responsabilidade de proteger os cidadãos deve ser, primeiro, do governo daquele país. O papel de ajuda estrangeira deve ser restrito e uma intervenção militar deverá ser a última opção. "A comunidade internacional deve ser rigorosa em seus esforços para esgotar todos os meios pacíficos disponíveis na proteção dos civis sob a ameaça de violência", disse o ministro.
Em entrevista ao Correio, Abiodun Williams, vice-presidente do Centro de Gerenciamento de Conflito do United States Institute of Peace (Washington), afirmou que, com a medida, o Brasil tenta resgatar a "confiança quebrada na R2P". "A iniciativa do Brasil representa uma proposta construtiva que merece séria consideração pela Assembleia Geral", disse. "A ideia é implementar os acordos existentes, o que poderia ajudar a superar a profunda divisão entre os defensores e os céticos desse tipo de medida."
A situação da Síria tem dominado os debates sobre uma possível intervenção estrangeira ou outras formas de ação para solucionar a crise, que se agrava a cada dia. A ONU estima que mais de 5 mil pessoas já morreram no país desde o início dos protestos, em março. Grupos de ativistas e da oposição afirmam, porém, que o número já alcançou os 9 mil. Os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que coordena as manifestações no país, informou, em comunicado à imprensa, que 106 morreram ontem na repressão às demonstrações ontem. O regime insiste em atribuir as mortes a ações de grupos armados terroristas.
Cessar-fogo
A Casa Branca demonstrou apoio ao pedido de um cessar-fogo na Síria, feito pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, para fazer com que a ajuda humanitária chegue à população. A Cruz Vermelha pediu uma trégua de, pelo menos, duas horas diárias no combate para levar ajuda aos civis isolados pelo conflito e para a retirada de doentes e feridos. Até ontem, contudo, não havia uma posição de Damasco ou da oposição sobre o pedido.
No dia 14, o Ministério das Relações Exteriores repatriou três brasileiros — pai e duas crianças — que viviam na Síria. Dois dias depois, uma operação da Embaixada do Brasil com autoridades locais retirou cinco brasileiros de Homs: uma mulher e seus dois filhos, além de outras duas crianças, cujos pais são sírios, como explicou o embaixador brasileiro no país, Edgar Antonio Casciano. O Itamaraty confirmou ontem que as crianças brasileiras aguardam em Damasco e ainda não há uma decisão sobre a vinda delas para o Brasil.
Iêmen encerra a era Saleh
O Iemên oficializou ontem a saída de Ali Abdullah Saleh do poder, após 33 anos, ao votar no presidente interino e candidato único, Abdu Rabu Mansour Hadi. A participação dos eleitores superou as expectativas, segundo jornais locais, mas nenhum número oficial foi divulgado. Episódios de violência marcaram o sufrágio e uma onda de ataques no sul do país deixou pelo menos cinco mortos. Após as eleições, o Iêmen entra em uma nova fase na transição democrática, que prevê um diálogo de unidade nacional e a elaboração de uma nova Constituição.
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