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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Parada de líder da China na Irlanda intriga europeus e irlandeses


Em tour pelo mundo, vice-presidente da China,
Xi Jinping, faz uma parada na Irlanda, único
país europeu incluído na rota

Os clichês culturais foram virados do avesso no final de semana passado quando o vice-presidente Xi Jinping, o homem que deverá se tornar o próximo líder da China, disse aos irlandeses numa visita ao país: alegrem-se!

A ironia de um representante de um dos países mais pragmáticos do mundo dizer aos maiores otimistas do mundo para se alegrarem não foi perdida entre os irlandeses, afetados por uma das piores crises econômicas da Europa endividada.

Como é típico, eles fizeram uma piada com isso: "os chineses estão aqui – finjam estar ocupados" dizia uma manchete do The Irish Times no sábado (18), no dia em que Xi chegou para sua visita de três dias, no meio de uma viagem que começou nos Estados Unidos e continuou para a Turquia.

Mas a questão que surgiu na mente de muitos foi: por que o homem que pode se tornar um dos líderes mais poderosos da terra escolheu a Irlanda para sua única parada na União Europeia em sua viagem de "debutante"?

Um dos principais motivos pode ser uma espécie de peregrinação de comércio-livre – à Zona Livre de Shannon, que primeiro recebeu a visita de Jiang Zemin, ex-chefe do Partido Comunista e na época vice-ministro do Ministério de Importações e Exportações, em 1980.

Funcionários chineses costumam dizer que a área de comércio livre, estabelecida em 1959, foi um modelo para suas próprias e bem sucedidas Áreas Econômicas Especiais no sul da China, que incentivaram a reforma econômica no país a partir de 1980. A China agora quer melhorar suas indústrias, e a Zona Livre de Shannon, de alta tecnologia, interessa enquanto modelo regional, dizem os comentaristas irlandeses.

Outros líderes que visitaram Shannon incluem dois primeiros-ministros, Wen Jiabao e Zhu Rongji, e dois vice primeiros ministros, Huang Ju e Zeng Peiyan. Durante sua visita, Xi pediu uma orientação pessoal de Vincent Cunnane, diretor-executivo da Shannon Development, que comanda a área, disse a companhia numa declaração.

Outro motivo para visitar a Irlanda pode ser o que Jonas Parello-Plesner, um integrante sênior de política no Conselho Europeu de Relações Exteriores, chamou de "diplomacia multi-direcional da China".

"Quando o Ministério de Exterior e o Conselho Estatal planejam as viagens de líderes sêniores, eles tentam ampliar sua abrangência, incluindo países pequenos e insignificantes", disse Parello-Plesner num e-mail.

A China também quer melhorar os laços com nações europeias individualmente – a União Europeia é seu principal parceiro de comércio – e aumentar o investimento num continente enfraquecido.

A delegação de Xi , com 150 funcionários e empresários, compareceu a um banquete no Castelo Bunratty em County Clare, tomou café irlandês numa fazenda familiar no vilarejo de Sixmilebridge (onde um novilho recém-nascido recebeu seu nome), visitou os precipícios de Moher, visitou o consagrado campo da Associação Atlética Gaélica no Croke Park em Dublin, assistiu a uma apresentação de "Riverdance" e assinou acordos de comércio, investimentos e educação no Castelo Dublin.

Defensores dos direitos tibetanos e membros da Falun Gong fizeram manifestações, mas em pequenos números. Mais impressionante foi um protesto de uma mulher nos precipícios de Moher. A polícia interceptou Sinead Ni Ghairbhith, enquanto ela andava na direção de Xi segurando uma placa "Liberte o Tibete" e gritando "Pare de Matar Tibetanos Inocentes!".

Na maior parte do tempo, entretanto, Xi usou seu charme por onde passou, pedindo aos irlandeses para fazerem comércio e investirem mais profundamente na China, e prometendo a criação de mais empregos num país em que o índice de desemprego é de 14%.

Ele disse aos irlandeses e outros europeus para não "falarem mal" de suas economias, em comentários que foram transformados em manchetes pala mídia estatal da China, onde a visita teve ampla cobertura.

"A China não acha que se deva 'subestimar' ou 'reduzir' a Europa, porque acreditamos que as dificuldades que a Europa enfrenta são temporárias, e a EU, os governos e povos da Europa têm a capacidade, a sabedoria e os meios para resolver o problema da dívida soberana e conquistar a recuperação econômica e o crescimento", disse Xi em uma entrevista escrita para o The Irish Times, publicada no sábado (18).

Durante os últimos 15 anos, a Irlanda conquistou algo que fascina os oficiais chineses – a transição de uma nação pobre e agrícola para uma nação rica e de alta tecnologia.

Mesmo enquanto o voo 747-400 da Air China de Xi pousava em Shannon, um discurso feito por ele foi distribuído para os jornalistas que o esperavam, descrevendo a Irlanda como um "país de sucesso por passar, em um curto período de tempo, de uma economia agropastoril para uma economia do conhecimento."

Parello-Plesner apontou para outro fator importante: "é o último dos países da UE atingido por uma crise que ainda não havia recebido a visita de um líder importante", disse ele.

Líderes -incluindo o primeiro-ministro Wen, o presidente Hu Jintao e o vice-primeiro-ministro Li Keqiang, o homem que deve suceder Wen -visitaram a Grécia, Portugal, Hungria, Espanha e Itália recentemente, "então a Irlanda esperava por isso faz tempo", disse Parello-Plesner.

"Há o mesmo interesse geral para abrir a porta dos investimentos", disse ele. "Posso imaginar que a Irlanda, com orçamentos austeros nos próximos anos, possa precisar de alguns investimentos chineses."

Os investimentos da China hoje em dia também são multidirecionais, um reflexo de seu poder crescente nos primeiros anos de um século, que bem poderá ser considerado o século chinês.

Em janeiro, a China fez seu primeiro investimento direto na infraestrutura fraturada da Inglaterra, informou o The Guardian, quando seu fundo de riqueza soberana de US$ 410 bilhões, o China Investment, comprou um holding de 8,68% em Kemble, o grupo privado que controla a Thames Water, uma companhia de serviços, num negócio que os analistas avaliaram entre 600 e 700 milhões de libras, ou cerca de US$ 940 milhões e US$ 1,1 bilhão.

Também em janeiro, a fabricante de maquinários chinesa Sany Heavy Industry, junto com a firma de equidade privada Citic, comprou a fabricante de bombas alemã Putzmeister Holding, num acordo no valor de 360 milhões de euros, ou quase US$ 480 milhões, de acordo com a Xinhua, a agência de notícias estatal chinesa.

Em dezembro, a China Three Gorges Corp., controlada pelo estado, comprou 21% da companhia portuguesa EDP por 2,7 bilhões de euros, informou a Reuters.

A Irlanda, com apenas 4,6 milhões de pessoas, é um dos poucos países que têm um superávit comercial com a China. Isso intriga os chineses.

Mesmo assim, pouco se falou sobre um paralelo mais preocupante – as bolhas econômicas.

A bolha imobiliária alimentada por dívidas da Irlanda estourou em 2009. A economia chinesa, alertam alguns economistas, enfrenta uma dívida de rápido crescimento, além de uma variedade de bolhas possíveis, desde o setor imobiliário até o de arte e o preço dos mastins tibetanos.

Por enquanto, entretanto, os olhos chineses estão sorrindo na Irlanda.

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