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terça-feira, 2 de julho de 2013

Merkel compara espionagem norte-americana às táticas da Guerra Fria

A chanceler alemã Angela Merkel comparou a espionagem americana às táticas da Guerra Fria e Bruxelas quer que as instalações da UE sejam revistadas em busca de equipamento de espionagem americano. Cresce a preocupação de que o escândalo possa danificar seriamente as relações transatlânticas.

O governo alemão reagiu fortemente na segunda-feira (1º) aos relatos na mídia de que os Estados Unidos passaram anos espionando a União Europeia e países europeus específicos. Enquanto isso, os líderes da UE ficaram ultrajados com os Estados Unidos por supostamente grampearem as missões diplomáticas da UE em Washington, DC, e Nova York, assim como ordenaram que as instalações do bloco sejam revistadas em busca de equipamento de espionagem americano.

"O monitoramento de amigos –isso é inaceitável, não pode ser tolerado", disse a chanceler alemã Angela Merkel na segunda-feira, por meio de seu porta-voz, Steffen Seibert. "Nós não estamos mais na Guerra Fria." Seibert disse que Merkel já comunicou seu descontentamento aos Estados Unidos. "Confiança precisa ser a base de nossa cooperação", disse Seibert. "Em relação a este caso, a confiança precisa ser restabelecida."

Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha está realizando uma checagem da segurança de suas comunicações com as embaixadas no exterior, enquanto o Ministério do Interior, em Berlim, está examinando a segurança dos canais de comunicação utilizados pelo governo alemão.

As reações são a indicação mais clara de que Berlim e Bruxelas estão levando a sério os relatos de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) da inteligência americana espionou a UE e coletou vastas quantidades de dados de cidadãos alemães.

A "Spiegel" publicou no fim de semana uma reportagem sobre a vigilância, após ter visto os documentos secretos fornecidos pelo delator Edward Snowden. Esta é apenas a mais recente de uma série de alegações feitas por Snowden em relação ao vasto alcance da inteligência americana. Além disso, o jornal "The Guardian" noticiou que a NSA espionou vários países europeus, incluindo França, Grécia e Itália, além de outros aliados estrangeiros.

'Uma grande inquietação'
Em consequência, os europeus estão profundamente incomodados. "Nós esperamos um rápido esclarecimento por parte de nossos parceiros americanos", disse uma porta-voz do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso. "É claro que estamos preocupados, porque se as alegações forem verdadeiras, isso criaria grande inquietação."

Os diplomatas da UE, com envolvimento ativo do ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, passaram grande parte da segunda-feira elaborando uma resposta e reação conjuntas à possível espionagem americana. Segundo uma declaração do Ministério das Relações Exteriores em Berlim, Westerwelle conversou longamente com Catherine Ashton, a chefe da diplomacia da UE, na segunda-feira. "Ambos concordam que essa atividade entre parceiros e amigos é inaceitável", diz a declaração.

Ashton, que está em Brunei para um encontro da Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), falou sobre as alegações de espionagem com o secretário de Estado americano, John Kerry, nos bastidores daquele encontro na segunda-feira. Em comentários aos repórteres em Brunei, Kerry pareceu minimizar as alegações. "Eu direi que todo país no mundo envolvido em assuntos internacionais e em segurança nacional realiza muitas atividades para proteger sua segurança nacional, e todo tipo de informação contribui para isso", Kerry disse aos jornalistas ali. "Tudo o que sei é que não é incomum para muitos países."

Em Berlim, o Ministério das Relações Exteriores alemão chamou o embaixador americano, Philip Murphy, na segunda-feira para consultas. Bruxelas igualmente chamou o embaixador americano para a União Europeia, William Kennard.

'Uma questão sensível'
O presidente da França, François Hollande, também expressou revolta com as alegações publicadas pelo "The Guardian" de que Paris foi alvo da vigilância e atividades de espionagem americanas. "Nós não podemos aceitar esse tipo de comportamento entre parceiros e aliados", disse Hollande. "Nós pedimos que isso pare imediatamente." O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, acrescentou que "essa é uma questão sensível, que exige respostas satisfatórias".

Além das palavras duras, há preocupações de que as alegações de espionagem possam resultar em um piora imediata das relações transatlânticas e talvez tenham até mesmo consequências negativas para as negociações do tratado de livre comércio transatlântico, que tiveram início no mês passado. Vários diplomatas sugeriram que as negociações devem ser suspensas temporariamente, incluindo a comissária europeia Viviane Reding, no domingo.

Na segunda-feira, a ministra dos Assuntos do Consumidor alemã, Ilse Aigner, expressou sua própria preocupação, dizendo à "Spiegel Online" que "nós precisamos de uma melhor proteção de nossos dados privados, não de mais vigilância pelo Estado. Caso contrário, nosso acordo de livre comércio não faz nenhum sentido". O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, também indicou na segunda-feira que o acordo de livre comércio está em risco. "Como europeu e representante de uma instituição europeia, eu me sinto ameaçado como o representante do inimigo. Esta é base para um relacionamento construtivo...? Eu acho que não." Ele também comparou as atividades da NSA às realizadas pela agência de inteligência soviética KGB durante a Guerra Fria.

Schulz também convocou uma reunião dos representantes de todos os partidos representados no Parlamento Europeu, para discutir os termos de uma resolução potencial da UE em resposta às alegações de espionagem. O Partido Verde no Parlamento Europeu está pedindo ao corpo legislativo da UE que exija que a Comissão examine uma possível ação legal contra o Reino Unido e os Estados Unidos relacionada à vigilância e espionagem. Outros estão exigindo a criação imediata de um comitê parlamentar de inquérito na esfera da UE.

As palavras incomumente duras de Merkel parecem ter aberto a porta para mais reações de seu Gabinete em Berlim. O ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, em particular, pareceu ávido em reverter os comentários anteriores que fez sobre o programa Prisma, no qual ele disse que os críticos da vigilância americana da Internet agiam com uma "mistura de antiamericanismo e ingenuidade".

Que Obama forneça informação
Na segunda-feira, ele mudou o tom. "Se as suspeitas forem confirmadas, seria um fardo à confiança entre a UE e os Estados Unidos", ele disse à revista alemã "Focus". "Um pedido de desculpas seria inevitável", ele acrescentou.

O ministro da Economia alemão, Philipp Rösler, que também é vice-chanceler de Merkel, igualmente expressou sua fúria na segunda-feira. "A coleta enérgica de dados por nossos parceiros, que estamos vendo atualmente na Europa e no exterior, é ultrajante", ele disse aos repórteres em Frankfurt. "Nós temos um entendimento para o combate ao terrorismo", ele acrescentou, mas não "espionagem a esmo, indiscriminada e sem restrição dos cidadãos".

A ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, comentou sobre as alegações de espionagem americana no domingo.

Enquanto isso, os Estados Unidos estão ganhando tempo. O presidente Obama disse no domingo em Dar-es-Salam, Tanzânia, que seu governo ainda está checando as revelações publicadas pela "Spiegel". Ele disse que assim que a checagem estiver completa, os Estados Unidos fornecerão aos seus aliados toda a informação que desejam.

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