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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Iraque sofre onda de violência inédita desde a retirada americana

A Al-Qaeda no Iraque pode comemorar. O ataque de grande magnitude, conduzido na segunda-feira (22) contra duas prisões de Bagdá, que permitiu que centenas de detentos fugissem, remete às horas mais sombrias do país. Reivindicado pelo Estado Islâmico no Iraque e no Levante, a franquia local da rede jihadista, o duplo ataque fez cerca de 40 mortos e mostrou mais uma vez a negligência do governo do primeiro-ministro Nouri al-Maliki. Esse xiita, no poder há sete anos, parece incapaz de conter o surto de violência que fez mais de 620 mortos em julho, um dos saldos mais sangrentos desde que os americanos se retiraram, em dezembro de 2011.

O caráter niilista desses atentados, que atingiram tanto comboios militares quanto campos de futebol ou cafés, lembra os anos de guerra civil, entre 2006 e 2009, quando milicianos xiitas e combatentes da Al-Qaeda cometiam massacres aleatoriamente e em sequência. "Voltamos à estaca zero", analisa Pierre-Jean Luizard, historiador do CNRS. "O país voltou a ser prisioneiro de grupos que querem fazer dele terra arrasada, propagar o caos, com o único intuito de comprometer a potência americana".

A Al-Qaeda tomou como alvo as duas maiores prisões do Iraque: a de Taji, no subúrbio norte de Bagdá, e a de Abu Ghraib, na periferia oeste, que ficou famosa pelas torturas cometidas ali por soldados americanos em 2004 contra detentos iraquianos. Os ataques, que começaram simultaneamente no domingo à noite e continuaram até a manhã seguinte, mostraram um raro grau de sofisticação. Barreira de foguetes contra os estabelecimentos, explosão de homens-bomba e carros-bomba em frente às suas portas, tudo combinado com presos amotinados, em colaboração com carcereiros.

Revés devastador para Maliki
Planejada há meses, a operação permitiu a evasão de pelo menos 500 prisioneiros, entre eles vários membros sêniores da Al-Qaeda condenados à morte. Um revés devastador para o primeiro-ministro Nouri al-Maliki, que há seis meses enfrenta protestos da minoria sunita, que se julga discriminada. "O fato de as duas prisões mais bem protegidas do país, situadas a alguns quilômetros da sede do governo, terem sido bombardeadas durante horas não é mais um erro, é o sinal de uma disfunção estrutural do Estado", afirma Hosham Dawod, um pesquisador residente no Iraque.

Essa operação de impacto ocorreu em um contexto de recrudescimento muito forte da violência. Quase todos os dias trazem algum atentado ou emboscada. No sábado (20), a explosão de dez carros-bomba nas ruas comerciais de Bagdá, de maioria xiita, fez 60 mortos e 190 feridos, ou seja, a ofensiva mais sangrenta na capital desde o início do ramadã. As deflagrações ocorreram no início da noite, após o iftar, a refeição de quebra do jejum, enquanto a multidão andava pelas ruas para fazer compras ou aproveitar um pouco de frescor depois de um dia escaldante. Na véspera, vinte pessoas haviam morrido em um atentado perpetrado em uma mesquita sunita em Wadjihiya, uma cidade ao norte de Bagdá.

Os cafés e os campos de futebol, que eram os raros lugares de coexistência entre comunidades, não são mais poupados. Segundo contagem da AFP, cerca de 50 pessoas morreram nos últimos meses em uma dezena de ataques contra jogadores. Em fevereiro, a irrupção de um homem-bomba no estádio de Shoula, no norte de Bagdá, custou a vida de 18 pessoas, em sua maior parte jovens jogadores de futebol. O ataque a cafés tem o mesmo objetivo: semear pânico entre a população e aumentar a raiva da opinião pública contra o governo. Em meados de julho, cerca de quarenta clientes de um café de Kirkouk, no norte do país, morreram em um atentado suicida enquanto jogavam dados, após o iftar. Os cafés, que costumam ficar lotados, sobretudo nessa época de ramadã, hoje estão abandonados, sinal do medo e da desconfiança que corroem a sociedade iraquiana.

"Cada lado está se entrincheirando"
A radicalização do lado sunita, como mostra a volta da Al-Qaeda, e que está sendo combatida pelo despertar das milícias xiitas, é alimentada pelo conflito na Síria. "O desencadeamento da revolta contra o regime Assad foi visto pelos sunitas iraquianos como o sinal da revanche, a prova de que eles podem escapar de seu status de minoria marginalizada", explica Pierre-Jean Luizard.

Estaria o país fadado a mergulhar novamente na guerra civil? O nível de violência por ora continua abaixo do registrado nos anos de 2006 e 2007, quando ocorreram mais de 3 mil mortes por mês. Mas a galopante confessionalização do cenário político, que pode ser vista no fim das chapas que reúnem diversas etnias, desperta muita preocupação, assim como a intransigência de Nouri al-Maliki, contrário a qualquer ideia de demissão.

"Cada lado está se entrincheirando", observa Hosham Dawood. "O pouco de Estado que foi construído nesses últimos anos está ruindo. Al-Maliki fracassou em produzir uma alternativa ao sectarismo e em unir a população em torno de valores em comum".

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