Alexis Tsipras |
Antes da interrupção, o jornalista Michael Martens havia perguntado ao líder da oposição grega o que ele quis dizer quando afirmou, em junho de 2012, que os partidos atualmente no poder na Grécia, o Nova Democracia e o PASOK, "tinham denegrido a bandeira grega e a entregado a Angela Merkel".
Tsipras se ofendeu com a pergunta. O político grego disse que "nunca" fez essa afirmação. O jornal alemão, no entanto, afirma que existem provas de que ele fez. A frase estaria documentada em imagens gravadas pela TV grega durante um comício do Syriza realizado em 14 de junho de 2012, em Atenas, e também foi divulgada em um comunicado à imprensa emitido pelo partido oposicionista Syriza.
Tsipras e o Syriza se opõem aos programas de austeridade que os parceiros europeus da Grécia impuseram em troca da ajuda financeira para salvar o país da crise do euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, em especial, se transformou em uma figura odiada por muitos na Grécia, onde a culpam pelo sofrimento que os cortes causaram à população.
Em editoriais anteriores, o jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung já havia criticado Tsipras e defendido a continuidade das políticas de austeridade na Grécia, além de ter argumentado, em editorial publicado em maio 2012, que a saída da Grécia da União Europeia poderia ter um "efeito disciplinador para outros países".
Schäuble, o "Gauleiter"
Por sua vez, o Avgi, jornal do partido Syriza, publicou charges mostrando Merkel recebendo ordens de Adolf Hitler. Recentemente, a publicação também descreveu o ministro da Fazenda da Alemanha, Wolfgang Schäuble, como um "Gauleiter", termo usado para descrever os líderes regionais do partido nazista. Essas referências nazistas, divulgadas pela imprensa grega e mencionadas durante comícios contra as políticas de austeridade, nas quais Merkel é retratada vestindo um uniforme nazista, têm irritado os alemães.
Após a entrevista ter sido encerrada, a porta-voz de Tsipras, que faz a interface com a imprensa, enviou um e-mail para um dos principais editores do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, acusando Martens de "ter ido muito além das fronteiras da ética do trabalho jornalístico" e de trabalhar com "boatos, declarações de terceiros e informações aceitas sem verificação".
Tsipras decidiu encerrar a conversa por não conceder entrevistas à "imprensa sensacionalista", acrescentou o e-mail.
Posteriormente, o Avgi, jornal do partido Syriza, publicou um artigo sobre o correspondente do Frankfurter Allgemeine Zeitung:
"Martens parece ter se inspirado no estilo de um procônsul, que seus compatriotas, os políticos alemães e os funcionários da troika tendem a adotar quando andam pelos gabinetes do governo grego (...) Por isso, o jornalista pensou que o líder da oposição grega estaria disponível para entrevistas de natureza politicamente irresponsável."
O Frankfurter Allgemeine Zeitung reagiu publicando uma transcrição da entrevista e perguntando:
"Se Alexis Tsipras e seu séquito dizem que um jornalista é antiético devido ao fato de eles terem sido confrontados com suas próprias declarações, será que, no fim das contas, isso não diz mais sobre eles mesmos e sobre a cultura de seu diálogo político do que sobre a pessoa que reproduziu as falas de Tsipras?"
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