Dois meses depois de retirarem o embargo sobre a exportação de armas para a Síria, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia se reúnem para tentar coordenar sua resposta diante da crise síria, cujas repercussões vêm desestabilizando continuamente a região.
Esse encontro ocorre na véspera da primeira visita a Paris, nesta terça-feira (23), de Ahmed Assi Jarba, o novo líder da Coalizão Nacional Síria, a principal plataforma da oposição ao regime de Bashar Assad, que será recebido na quarta-feira pelo presidente François Hollande.
A concomitância desses dois encontros é significativa. Para a França, trata-se de demonstrar um apoio político à oposição síria, ao mesmo tempo em que observa uma grande prudência quanto à forma que esse apoio poderia assumir. Enquanto o trágico balanço da guerra civil só se aprofunda –5.000 mortos por mês, quase 100 mil vítimas em dois anos e 1,8 milhão de refugiados nos países vizinhos, segundo a ONU--, os países europeus permanecem divididos e amplamente contrários a qualquer forma de assistência militar aos rebeldes.
''Homs virou Grozny"
Até a França e o Reino Unido, responsáveis pela retirada do embargo, no dia 27 de maio, têm se mantido muito reservados. "Temos essa possibilidade, mas não entregamos armas letais, é essa a nossa posição", declarou, no dia 18 de julho, Laurent Fabius, o chefe da diplomacia francesa. Desnecessário dizer que os apelos por ajuda militar, lançados por Ahmed Assi Jarba, correm o risco de serem ignorados. "Estamos enfrentando bandos que conduzem uma guerra de extermínio contra o povo sírio. As armas são o único meio de enfrentar isso e pôr um fim aos massacres", repetiu, no sábado, na Arábia Saudita.
Em poucas semanas, houve uma nítida inflexão do debate sobre a Síria. A retirada do embargo europeu sobre as armas, seguida de revelações feitas pela França, no dia 4 de junho, sobre a utilização de armas químicas por parte do governo de Damasco, visavam aumentar a pressão sobre Bashar Assad para levá-lo a entrar em um processo político. Desde então, a mobilização maciça dos aliados iranianos e russos permitiu que o regime marcasse pontos. A ofensiva que ele vem conduzindo contra a cidade de Homs é particularmente brutal. "A situação é tenebrosa, a cidade foi destruída por bombardeios de saturação", observa um diplomata. "Homs virou Grozny", lamenta, referindo-se à capital tchetchena, arrasada pelos bombardeios russos nos anos 1990.
Embora ninguém mais aposte na convocação a curto prazo de uma conferência de paz --a chamada "Genebra 2"--, os aliados ocidentais da oposição adotaram um tom menos ofensivo. As declarações feitas no domingo pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, refletem essa mudança de tom. Em uma entrevista à BBC, Cameron ressaltou que a evolução no local não permitia prever uma solução rápida para o conflito. "Acho que talvez esteja mais intenso do que alguns meses atrás. Eu descreveria a situação como um impasse."
"Assad lutará até o fim"
Diante do aprofundamento do conflito, das divergências da oposição e do ceticismo da opinião pública ocidental, a alternativa de uma intervenção armada maior junto aos rebeldes parece se afastar a passos largos. Na segunda-feira, em Bruxelas, não se esperava nenhum avanço quanto à questão da entrega de armas. "Imaginem a campanha, se anunciarem que só serão entregues três kalashnikovs aos combatentes sírios", afirma um diplomata francês. A isso se soma uma constatação mais prosaica: "Não haverá solução militar, Assad lutará até o fim, essa guerra ainda pode durar anos", constata um especialista local.
"A prioridade hoje não é o quê, mas sim quem", resume a comitiva de Laurent Fabius. Em outras palavras, enquanto a oposição não representar todas as garantias consideradas necessárias, sobretudo quanto à rastreabilidade das armas, não poderá haver um engajamento militar assumido ao seu lado. "Não queremos reproduzir os mesmos erros cometidos na Líbia, quando as armas que fornecemos se espalharam em seguida pelo Sahel, voltadas contra nós", afirma um diplomata de alto escalão.
Por falta de assistência militar, a ênfase está sendo colocada sobretudo na estruturação da oposição. "Nossa estratégia é clara: é do interesse dos sírios, assim como nosso, sustentar um espaço entre o regime e os jihadistas", afirma Eric Chevallier, ex-embaixador da França em Damasco. Daí a importância dada em Paris para a visita do novo líder da coalizão síria, Ahmed Assi Jarba, apresentado como um interlocutor moderado, laico e confiável. "A curto prazo", diz um diplomata, "reforçar a atratividade da oposição, dentro e fora da Síria, é tão importante quanto entregar armas".
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