Os ataques ousados a duas prisões no Iraque nesta semana foram importantes não só pelas centenas de prisioneiros libertados, mas também por que indicaram a capacidade crescente do braço iraquiano da Al-Qaeda, disseram as autoridades americanas e especialistas de fora do governo nesta terça-feira (23).
Os ataques contra as prisões de Abu Ghraib e Taji foram operações cuidadosamente sincronizadas, nas quais os membros da Al-Qaeda utilizaram morteiros para deter as forças iraquianas, enviaram suicidas para furar suas defesas e, em seguida, enviaram uma força de assalto para libertar os detentos, segundo especialistas ocidentais.
"Estamos preocupados com o aumento do ritmo e da sofisticação das operações da Al-Qaeda no Iraque", disse um alto funcionário do Departamento de Estado, que pediu anonimato por não querer comentar publicamente assuntos internos do Iraque.
James F. Jeffrey, que era o embaixador dos EUA em Bagdá quando as últimas tropas dos Estados Unidos partiram em dezembro de 2011, disse que as forças iraquianas têm tido um desempenho fraco e que ficou claro que suas habilidades se deterioraram com a partida das tropas de treinamento americano.
"Este é o primeiro exemplo que vi do impacto no campo de batalha gerado pela ausência das tropas norte-americanas, que teriam fornecido treinamento tático", disse Jeffrey, que atualmente é professor visitante no Instituto Washington para Política do Oriente Próximo.
A audácia dos ataques marcou a deterioração das condições no Iraque, onde a estabilidade tem sido prejudicada por carros-bomba e outros tipos de violência ligados a um ressurgimento das tensões sectárias, principalmente entre a maioria xiita e a minoria sunita.
A filial da Al-Qaeda no Iraque é uma organização de militantes extremistas sunitas, em sua maioria locais, mas que inclui combatentes estrangeiros e tem alguns líderes estrangeiros. "Este ataque é diferente dos outros, que em geral têm como alvo um café ou um mercado público", disse Hamid Fadhil, professor de ciência política na Universidade de Bagdá. "Eles atacaram o lugar mais seguro, com grandes números de forças de segurança".
Outros iraquianos disseram que a fuga das prisões intensificou seus temores de serem mortos ou feridos apenas se aventurarem fora de casa na hora errada. "Se a Al-Qaeda pode atacar uma prisão, isso significa que eles podem fazer o que quiserem quando quiserem", disse o advogado Meluk Abdil Wahab, 45.
Milhares de detentos estavam em Taji e Abu Ghraib, a prisão que se tornou infame pelo escândalo de tortura de prisioneiros iraquianos durante os oito anos de ocupação dos EUA. Houve relatos conflitantes quanto ao número de fugitivos e de baixas entre os membros da Al Qaeda e os oficiais de segurança.
Contudo, ninguém parece discordar que centenas de prisioneiros, alguns dos quais capturados pelas forças norte-americanas antes de sua retirada, agora estão à solta, um resultado que atiçou o medo em Bagdá e além.
A Al Qaeda disse que 500 presos escaparam das duas prisões, todos mujahedins, ou guerreiros sagrados. As autoridades iraquianas disseram que 800 prisioneiros haviam fugido de Abu Ghraib, mas 400 tinham sido recapturados ou mortos.
Eles disseram que nenhum prisioneiro havia escapado de Taji, mas que um certo número havia morrido.
Há outros sinais da ameaça crescente da filial da Al-Qaeda. Cerca de 80 carros-bomba e ataques suicidas foram realizados em maio, um tipo de assalto geralmente associado à organização. Esse foi o maior número de tais ataques desde março de 2008.
Mas Jeffrey considerou a fuga da prisão especialmente preocupante, pois reforçará os combatentes extremistas na região e incentivará alguns iraquianos em áreas sunitas a assumirem uma postura mais militante, pois o episódio será visto como um sinal de que o ramo da Al-Qaeda está ficando mais forte e que as forças do governo são ineficazes.
"Isso vai proporcionar líderes experientes e um impulso moral à Al Qaeda e seus aliados no Iraque e na Síria", disse Jeffrey. "E deve ter um impacto eletrizante sobre a população sunita no Iraque, que estava em cima do muro".
É provável que a fuga dos prisioneiros da Al-Qaeda também aumente a ameaça aos líderes tribais sunitas que se alinharam com as tropas americanas durante o aumento das forças estrangeiras, em 2007 e 2008, e lutaram contra o grupo extremista.
Kirk Sowell, editor do boletim "Inside Iraqui Politics", disse que o episódio danificou ainda mais a imagem cuidadosamente promovida do primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki de homem que trouxe ordem ao Iraque -ainda mais porque al-Maliki controlou a nomeação de altos oficiais militares e manteve um firme controle dos ministérios da defesa e do interior.
"O verniz que Maliki tinha de líder forte que reconstruiu o Iraque se foi", disse Sowell.
Segundo o relato da Al Qaeda, os planejadores dos ataques iniciados no domingo à noite coordenaram a detonação de 12 carros-bomba e uma rodada de morteiros e foguetes para matar sentinelas do lado de fora das prisões, enquanto grupos de militantes fortemente armados, que tinham jurado não saírem vivos até que os prisioneiros fossem libertados, invadiram as entradas.
Um comitê de emergência formado por al-Maliki para investigar os ataques declarou que suas informações iniciais sugeriam que "alguns guardas estavam envolvidos nos ataques terroristas".
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