O Hamas parece meio que anestesiado pelo regime de isolamento, econômico e político, que os militares egípcios infligiram à faixa de Gaza. Oficialmente, os líderes do Movimento da Resistência Islâmica não entendem por que o novo governo do Cairo está se vingando deles pelos erros do ex-presidente oriundo da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi. "Ismail Haniyeh exigiu explicações aos egípcios e provas para as acusações da imprensa egípcia segundo as quais Gaza alimentaria a insegurança no Sinai, e não deram nada", constata Ghazi Hamad, vice-ministro das Relações Exteriores do Hamas.
"Nós pedimos aos serviços de inteligência egípcios os nomes desses combatentes islamitas que supostamente vieram de Gaza", acrescenta Ahmad Youssef, conselheiro político de Haniyeh, "e eles não nos forneceram nenhum". A maior parte dos membros do Movimento da Resistência Islâmica está respeitando a ordem de mutismo oficial. Todos entraram em uma fase de introspecção política: levará tempo até que se adaptem à chegada ao poder do Cairo de um regime que não lhes é favorável.
"É novamente o deep state que está governando", ressalta Ahmad Yousseff, usando uma expressão aplicada com frequência na Turquia. "De qualquer maneira,", ele observa, sem ilusões, "durante a era Mursi nós tínhamos que lidar com os mesmos oficiais dos serviços de inteligência egípcios: eles nunca deixaram de controlar o Egito, especialmente as relações com Gaza e o movimento palestino".
"Enfraquecido pelos acontecimentos no Egito"
O Hamas sabe que suas escolhas políticas e estratégicas o levaram a um impasse. Ele deixou Damasco, cortando seus laços com o regime do presidente Bashar al-Assad. Ao fazer isso, perdeu o apoio do Irã e do Hezbollah libanês. Os líderes do Hamas apostaram em um realinhamento com o eixo Egito-Qatar-Turquia: o Cairo, por razões de proximidade ideológica (o Hamas se originou da confraria da Irmandade Muçulmana); Doha, como financiador; e Ancara como nova defensora da causa palestina. Só que Mohamed Mursi foi varrido pelo exército egípcio, e nada garante que Tamim Ben Hamad al-Thani, o novo emir do Qatar, honrará as promessas financeiras (mais de US$ 400 milhões) de seu pai em Gaza.
O Hamas, pela primeira vez em muito tempo, parece desprovido de apoios políticos, financeiros e militares. Pelo menos à primeira vista. Ahmad Yousseff reconhece que o Movimento "perdeu o Irã ao perder a Síria" e que ele foi "enfraquecido pelos acontecimentos no Egito", mas garante que os laços do Hamas com Teerã, embora nitidamente reduzidos, não foram rompidos.
"Temos relações históricas com o Egito e esperamos que ele continue sendo o grande irmão dos palestinos", confirma Ghazi Hamad. Então o momento é de pragmatismo: está fora de cogitação criticar o bloqueio da faixa de Gaza imposto pelo Cairo, porque o exército egípcio, como sempre, será incontornável. Omar Shaban, diretor do Centro de Reflexão e de Análises PalThink, explica que, se o governo de Gaza nitidamente aumentou seu controle da zona dos túneis que passam sob a fronteira egípcia, foi "para mostrar ao Egito que ele controla os movimentos dos salafistas e que o Cairo pode contar com ele".
Sociedade não organizada e partidos frágeis
Em Gaza, os meios políticos temem que o Hamas, muito enfraquecido, acentue a repressão no território. Faisal Abusalah, parlamentar do Fatah, o principal partido da Autoridade Palestina, e Jameel Mezher, oficial de alto escalão da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), confirmaram para o "Le Monde" que, na segunda-feira (15), receberam uma diretiva que passava a banir qualquer expressão política pública.
O movimento Tamarrod ("rebelião"), que se apresenta como a extensão em Gaza daquilo que deu certo no Egito, se propagou pelo Facebook, mas são poucos os observadores que veem um futuro para ele. Na última vez em que os jovens de Gaza tentaram se fazer ouvir, com o Movimento do 15 de Março, a repressão contra seus principais líderes foi impiedosa. "Não há uma sociedade civil organizada, e os partidos políticos são frágeis, ao passo que o Hamas, que é na prática um regime militar, ainda dispõe de inúmeros intermediários", confirma Omar Shaban.
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Israel em 2012 vendeu quase 7 bilhões e meio de dólares em armas a diversos países, ué Michel vc não dizia que a industria militar de Israel era um lixo? Rsrs, só de curiosidade quanto vendeu o Brasil, será que chegou há 1 bi pelo menos?
ResponderExcluirhttp://portuguese.ruvr.ru/news/2013_07_23/Em-2012-Israel-vendeu-armas-por-uma-soma-recorde-de-7-47-bilh-es-4827/
Por que eu temeria um comentário como o seu?
ExcluirIsrael há muito tempo figura entre os 15 maiores exportadores de material bélico do mundo, isso eu nunca neguei. O fato de Israel vender US$ 7 bilhões em armas e sistemas bélicos não é motivo para você contrariar meu comentário de outrora.
Veja os países que compram as armas israelenses, geralmente são países pobres ou emergentes.
O texto diz claramente que os principais produtos vendidos pela indústria bélica israelense são radares, mísseis e sistemas de defesa aérea. O curioso é que a maioria dos radares, mísseis e sistemas de defesa antiaérea israelense tem tecnologia americana.
Eu duvido que vc vai aprovar o comentário mostrando a força da industria militar de Israel, haha a duvido muito mesmo seu manipulador de quinta categoria
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