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terça-feira, 16 de julho de 2013

O despertar dos "leões africanos"

A expressão choca, de tão politicamente incorreta. Mas ela é também repleta de esperanças.

A África, continente maldito, humilhado durante tantos anos, poderia se beneficiar com a "vantagem do atraso". A ideia é tão simples quanto sedutora. As economias africanas, que participam de quase nada e são excluídas de quase tudo, queimariam as etapas do crescimento aproveitando "transplantes" tecnológicos, graças às inovações importadas de países desenvolvidos.

Seria um desenvolvimento versão 2.0, que permitiria que os países ganhassem décadas, assim como foram os crescimentos fulgurantes dos países asiáticos --Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura-- na segunda metade do século 20. Algo que os economistas anglo-saxões chamaram de "the advantage of backwardness", a vantagem do atraso.

Depois dos "tigres asiáticos", teria chegado a vez dos "leões africanos"?

O franco-beninense Lionel Zinsou, presidente do fundo de investimentos PAI Partners, diz acreditar nisso. Durante encontros de economia em Aix-en-Provence (departamento de Bouches-du-Rhône) nos dias 5, 6 e 7 de julho, o empresário se espantou com o fato de que economistas tenham tanta dificuldade em imaginar que essa teoria possa ser aplicada aos países africanos. Os investidores e empreendedores não têm os mesmos pudores. Bancos, fundos de investimentos e empresas de consultoria sentem que o continente está prestes a decolar. Eles veem ali uma "oportunidade histórica de investimento", como ressalta o banco Natixis em uma nota de pesquisa de 8 de julho.

Não se trata de negar as dificuldades persistentes da maior parte desses países. São países onde os recém-nascidos muitas vezes não passam de um dia de vida, onde as desigualdades revoltam, onde as democracias frequentemente permanecem muito vagas e onde a corrupção é endêmica.

Mas os clichês miserabilistas precisam ser superados. Após 20 anos de políticas de austeridade infligidas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras instituições de Bretton Woods, a maior parte dos países sanearam suas finanças. O número e a intensidade dos conflitos armados estão se reduzindo, e o crescimento vem se consolidando.

Quando a Europa decai, a África desperta. Segundo o FMI, a região hoje exibe o segundo maior crescimento econômico do mundo. Um crescimento "moderno". A África não é mais aquele continente agrário onde bois famélicos reviram a terra puxando carros com relhas. Hoje, o PIB africano é composto um terço pela indústria, um terço pela agricultura e um terço por serviços, particularmente as telecomunicações, observa o escritor Sanou Mbaye, autor de "L'Afrique au secours de l'Afrique" ["A África em socorro da África", Ed. de l'Atelier, 2009].

Uma prova de que essa "vantagem do retardamento" está germinando é o fato de que tecnologias ainda incipientes na Europa já foram adotadas há tempos pelos empreendedores locais. O exemplo mais citado é o do produtor queniano que, com a ajuda de seu celular, tem acesso direto às oscilações das cotações agrícolas na região para vender sua produção no mercado mais vantajoso.

As disparidades persistem
Em outras partes têm se desenvolvido o pagamento sem contato e caixas automáticos "móveis". O 3G às vezes pode ser acessado em regiões onde ainda não há eletricidade. Para Lionel Zinsou, as telecomunicações serão na África aquilo que outrora a metalurgia foi na Europa. O setor que, através de sua influência, conseguirá exercer o papel de locomotiva.

Nem todos os 57 países e territórios do continente serão os "leões" de amanhã. As disparidades persistem. A diferença de PIB per capita pode variar de 1 a 34 entre dois países, às vezes fronteiriços, observam os especialistas da Natixis, citando o Zimbábue e Botsuana. Além disso, Costa do Marfim, África do Sul, Senegal, Quênia, Nigéria, Angola, Tanzânia e Moçambique fascinam mais que outros. Muitas vezes por causa de seu acesso ao mar e/ou pela riqueza de seus solos: petróleo, ouro, platina, cromo, fosfato, urânio…

Enfim, esse desenvolvimento no modelo de corrida de obstáculos tem seus sérios desafios. As indústrias, os serviços que emergem deles serão eficientes e produtivos, mas pouco ricos em empregos, insuficientes para empregar 1,4 bilhão de africanos em idade ativa que o continente terá em 2050.

Ainda assim, a China entendeu o interesse de investir na África há muito tempo. Por que a Europa ainda duvida? "É a negação", afirma Lionel Zinsou.

Ele diz que, para entender, é preciso se lembrar de que "a vantagem do atraso" foi teorizada inicialmente pelo historiador americano Alexander Gerschenkron para ser aplicada à Alemanha. Ou então ao Reino da Prússia. No estado rural no início do século 19, quando a Inglaterra já havia feito sua revolução industrial, o país conseguiu, com a importação de produtos britânicos, recuperar seu atraso e ainda mais. Por volta do final do século 19, os ingleses foram deixados para trás pelos prussianos. O esquema foi quase o mesmo para a Rússia, que praticamente saiu de uma Idade Média entre o final do século 19 e o início do século 20, antes do recuo.

O que a história nos ensina? Que cada um desses episódios se divide em três fases, afirma Zinsou. Primeiro, uma mistura de ceticismo com condescendência: "Eles nunca conseguirão". Depois vem a hostilidade. O país arrivista é acusado de cópia, de concorrência desleal. Por fim, a terceira e última fase. Aquela em que o ex-líder é superado pelo "ex-atrasado". Para Zinsou, é quase uma certeza. Neste momento, a África está passando por essa primeira fase.

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