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quinta-feira, 11 de julho de 2013

A solução da tragédia humana na Síria depende do envolvimento ocidental

A cada semana que passa na crise da Síria, centenas de vidas adicionais são perdidas, as opções de ação diminuem e as chances de uma estabilidade pós-conflito diminuem. O que começou como uma exigência por reforma interna se tornou uma conflagração regional. Combatentes estrangeiros de todo o Oriente Médio e Norte da África estão entrando na Síria para treinamento e combate, enquanto os refugiados estão seguindo às centenas de milhares para o Líbano, Jordânia, Iraque e Turquia.

O debate político no Ocidente se concentra nas opções militares –e os argumentos são complexos e equilibrados. Mas ninguém acredita que sob qualquer cenário a guerra terminará rapidamente.

Enquanto isso, a desigualdade entre a necessidade humanitária e a resposta internacional cresce dia a dia. Meus três dias na Jordânia, na semana passada, não fornecem um quadro completo, mas permitem que histórias sejam casadas com dados para revelar uma situação profundamente alarmante.

Dentro da Síria, o Comitê Internacional de Resgate tem conversado com os refugiados que relatam que a escassez de medicamentos, alimentos e combustível, que colocam a vida em risco, é uma realidade diária. Médicos me contaram sobre colegas e parentes que foram transformados em alvo e foram mortos na guerra. Há alegações de abusos realmente horrendos de direitos humanos. Quase sete milhões de sírios estão vivendo em condições desesperadas.

Além dos quase 100 mil mortos dentro da Síria (e os outros inúmeros que estão morrendo por falta de atendimento médico), quase um terço da população síria foi deslocada dentro do país ou além. O número de refugiados na Jordânia chega a mais de 10% da população. No Líbano o número se aproxima de 14%.

Logo, o estresse nas comunidades que estão recebendo os refugiados é palpável. Há campos de refugiados na Jordânia, Iraque e Turquia, mas por toda a região a grande maioria dos refugiados está se virando por conta própria nas áreas urbanas.

Eu me sentei com quatro famílias em um apartamento de dois cômodos (mais a cozinha) que elas dividem em Mafraq, no norte da Jordânia, com aproximadamente 15 crianças. Há uma pressão imensa sobre os serviços locais, da educação à coleta de lixo. Os aluguéis estão sendo aumentados pelos proprietários, que sabem que há uma ajuda financeira oferecida pela ONU. As crianças não podem sair de casa.

Em uma clínica do Comitê Internacional de Resgate para refugiados sírios, eu ouvi mães e viúvas falarem sobre filhos e maridos mortos. Uma família beduína explicou que o chefe da família foi baleado por um atirador enquanto estava na fila do pão. A violência contra as mulheres, detalhada no relatório do Comitê Internacional de Resgate de janeiro, "Síria: Uma Crise Regional", é abundante.

Esse custo humanitário agora faz parte da geopolítica tanto quanto o equilíbrio do poderio militar. A escala de mortes gerou represálias sectárias, não apenas na Síria, mas também no Líbano e no Iraque. Enquanto isso, a extensão do fluxo de refugiados é por si só uma fonte de desestabilização. E sob qualquer cenário, há muito mais refugiados a caminho –não menos de 250 mil a 300  mil sírios vivem à beira da fronteira jordaniana.

Os Estados Unidos e os países europeus assumiram compromissos de ajuda substanciais, notadamente a parcela de ajuda de US$ 300 milhões anunciada pelo presidente Obama no mês passado. Também há dinheiro significativo dos países do Golfo: Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos.

Mas a desconexão entre necessidade e ajuda é, segundo a ONU, imensa. O público nos países ocidentais tem se mostrado mais relutante em doar dinheiro do que em crises anteriores. Mas minha viagem à Jordânia me convenceu de que medidas práticas podem ser adotadas para aumentar o valor doado.

Primeiro, aqueles que as apoiam devem pressionar o governo em Damasco e os rebeldes a seguirem as normas e leis internacionais para proteção de civis na condução da guerra. Obama falou a respeito disso em seu discurso na Universidade de Defesa Nacional, e seu pedido deveria ser apoiado por todos os países.

Segundo, há a responsabilidade por ambos os lados de permitir o livre acesso da ajuda humanitária, cruzando as linhas entre as áreas mantidas pelo governo e pelos rebeldes. Os bloqueios ao acesso humanitário são severos –e custam vidas.

Terceiro, há espaço para ajuda externa por parte de todos os vizinhos às comunidades atingidas. Sírios corajosos estão arriscando suas próprias vidas e mais deles estão dispostos a fazê-lo, mas eles precisam de fundos para ajuda médica e alimentos.

Quarto, os países vizinhos precisam ajudar nos fluxos de refugiados. Isso é um investimento básico na resistência deles.

Essas medidas não envolvem apenas doadores ocidentais e o público ocidental. É preciso uma grande mudança em nosso envolvimento se quisermos estancar uma crise regional que é uma tragédia humana em uma escala monumental. Milhões de vidas estão em risco, assim como os valores e interesses do Ocidente.

(David Miliband é ex-ministro das Relações Exteriores do Reino Unido que, em setembro, assumirá a presidência do Comitê Internacional de Resgate)

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