O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, se deparou com um ciclo de negatividade à medida que se esforça para dar início à diplomacia para atingir uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino. Críticos afirmam que ele está numa missão de tolos com pouca chance de sucesso e pedem que ele passe mais tmepo em outros assuntos.
O jornal israelense "Haaretz" diz que Kerry é um "freyer" – gíria israelense para otário ou ingênuo. Uma análise de primeira página do New York Times questiona o foco de Kerry na paz israelense-palestina à medida que o "caos no Oriente Médio cresce". A Reuters chama os seus esforços de "quixotescos". A "classe especialista" parece unida em sua crença de que as chances de sucesso são tão baixas que o secretário não deveria nem tentar. O momento não é adequado. Os líderes não estão prontos. O secretário deve se concentrar na Ásia ou se envolver mais na Síria e no Egito.
Eu não fico surpreso quando essa negatividade vem da parte daqueles que se opõem a uma solução de dois Estados. Eles não vêem a resolução do conflito como uma necessidade existencial para Israel ou um interesse nacional norte-americano. Mas me irrita quando tanta negatividade e cinismo vêm daqueles que dizem compartilhar do objetivo final do secretário.
Certamente, a crise no Egito demanda uma atenção urgente dos EUA. Mas o papel dos EUA na política interna deste país crítico é limitado, e por bons motivos. Mas, mesmo em meio ao caos no Cairo, a diplomacia norte-americana voltada para a resolução do conflito israelo-palestino é um passo importante a nosso alcance para garantir a estabilidade regional.
Não importa como se desenrolem os acontecimentos no Egito, a força do tratado de paz de 1979 entre Israel e Egito é um interesse americano, e viabilidade do tratado a longo prazo permanece ligada à resolução do conflito israelense-palestino.
Então, o que os céticos da diplomacia israelense-palestina de Kerry estão de fato dizendo? Que só vale a pena assumir tarefas fáceis e indolores de política externa, ou aquelas em que o sucesso está garantido?
O que os opositores têm a dizer sobre os prováveis custos da inação? Imagine que o secretário simplesmente se retirasse, e os palestinos fossem ao Tribunal Penal Internacional e a outros organismos internacionais, buscando o reconhecimento de seus direitos e ação internacional contra Israel. E então? O Congresso dos EUA ameaçou cortar a ajuda à Autoridade Palestina (e talvez aos órgãos da ONU que reconhecem a mesma); pode-se esperar que os israelenses lancem uma nova onda de construção de assentamentos e receitas fiscais palestinas poderiam voltar a ser retidas.
O que acontecerá, então, quando a Autoridade Palestina não puder mais se sustentar? As Forças de Defesa israelenses reentrarão nas cidades da Cisjordânia? Se a AP deixar de recolher o lixo, Israel vai assumir a plena responsabilidade pelos serviços na Cisjordânia? Através de tudo isso, a tensão aumentará, manifestações podem sugir e poderíamos nos ver no caminho de uma terceira intifada.
O que os especialistas diriam se a Cisjordânia caíssem no caos e na violência? Sem dúvida criticariam o governo Obama e o secretário Kerry por sua incapacidade de se envolver e por sua sua abordagem de lavar as mãos.
As chances de sucesso para os esforços do secretário são indiscutivelmente muitas. Se resolver o conflito fosse fácil, teria sido feito há muito tempo. E aqueles que têm trabalhado há décadas para acabar com este conflito estão compreensivelmente frustrados com o fato de que continua inflamando, apesar de seu trabalho duro.
Faz sentido e talvez até minimize alguns dos riscos de fracasso se as expectativas de sucesso forem baixas.
Mas e se aqueles que parecem dizer que não vale a pena sequer tentar - e muito menos se esforçar – tivessem dito isso àqueles que atacaram os grandes desafios da história da humanidade? O que teriam dito a Martin Luther King ou Nelson Mandela ou Gandhi? Não vale a pena, as forças que você está enfrentando são muito poderosas? Não desperdice o seu tempo?
Os negativistas deveriam saber que a atmosfera em torno dos esforços do secretário afeta suas chances de sucesso. E estou começando a pensar que um dos maiores obstáculos que ele enfrenta pode não ser a minoria que se opõe a seu trabalho, mas sim o flagelo do ceticismo daqueles que o apoiam.
O que precisamos daqueles que reconhecem a importância do trabalho do secretário não é um relato das razões pelas quais isso pode não funcionar, mas sua ajuda na construção do que ele chamou de "grande eleitorado para a paz" e em fazer pressão sobre os líderes de todos os lados para torná-lo um sucesso.
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