É um erro que muitos cometem quando chegam ao Líbano. Ao longo da estrada entre o aeroporto e o centro da cidade, veem retratos de um homem gordo pendurados em edifícios, outdoors e lâmpadas de rua. Ele usa um turbante preto e óculos, tem os lábios geralmente encurvados num sorriso sob sua espessa barba grisalha. Visitantes muitas vezes me perguntam se este é o presidente do Líbano.
Mas Hassan Nasrallah não detém nem o cargo de presidente, nem qualquer outro cargo político no país. No entanto, ele é um homem poderoso em sua terra natal – talvez até mesmo o mais poderoso – como líder do Hezbollah, o grupo militante e partido político xiita que comanda a coalizão mais forte no parlamento do país. Nasrallah também dirige milhares de combatentes de elite que estão à procura de recrutas simpatizantes na região. Por causa do exército privado de Nasrallah, que está lutando ao lado do regime sírio, o presidente Bashar Assad tem a vantagem contra os rebeldes mais uma vez.
Na segunda-feira, ministros de Exterior da União Europeia concordaram em colocar esse braço armado do Hezbollah na lista de grupos terroristas do bloco. O movimento marca uma impressionante reviravolta na posição política europeia quanto aos militantes xiitas. Anteriormente, líderes europeus haviam argumentado que o Líbano, já num estado vulnerável, ficaria ainda mais desestabilizado se grupos influentes fossem declarados proscritos.
Sanções não serão sentidas
Mas a Inglaterra, Holanda e França fizeram passar exatamente uma medida como esta, argumentando que ao interferir na guerra civil da Síria, o Hezbollah também está ameaçando a frágil paz do Líbano. A postura contida da Europa em relação ao assunto não faz mais sentido, argumentam.
Esta mudança de ideia foi provocada por um ataque terrorista em solo europeu que foi associado ao grupo militante. Em julho de 2012, cinco turistas israelenses e um motorista de ônibus foram mortos num atentado suicida num ônibus num aeroporto na cidade turística búlgara de Burgas, no Mar Negro. Defensores da decisão de segunda-feira, de colocar o Hezbollah na lista negra, argumentaram que o grupo deve ser coibido antes que se tornou ativo na Europa novamente.
O Hezbollah não reagiu imediatamente à decisão tomada em Bruxelas na segunda-feira, mas um porta-voz havia declarado anteriormente que a decisão não deteria o "Partido de Deus".
"O Hezbollah é uma organização grande e única, não temos alas separadas umas das outras", disse o porta-voz Ibrahim Mussawi à Spiegel Online. "O que está sendo dito em Bruxelas não existe para nós."
É verdade que o Hezbollah administra e paga suas muitas instituições sociais e as forças armadas a partir da mesma fonte. "O trabalho político e social, além da jihad, são operados pela mesma liderança", diz uma explicação do Hezbollah em resposta a uma pergunta sobre a divisão do trabalho dentro do partido. Desta forma, o grupo conseguiu se esquivar habilmente de sentir as sanções da UE, porque os 28 membros do bloco concordaram em aplicar medidas punitivas exclusivamente contra as tropas do Hezbollah, por temer que de outra forma desestabilizaria o Líbano.
Divisão obscura entre ala civil e militar
O fato de que os estrangeiros são incapazes de discernir onde termina a ala civil do Hezbollah e onde começa a militante provavelmente significa que a organização escapará ilesa das sanções da UE, dizem diplomatas ocidentais em Beirute. A decisão em Bruxelas foi puramente simbólica, servindo apenas para apaziguar os Estados Unidos, que declarou o Hezbollah como uma organização terrorista em 1995, após dois ataques devastadores contra a embaixada de Israel e uma organização judaica na capital argentina de Buenos Aires. Desde então, os EUA vêm pressionando seus aliados a fazerem o mesmo.
Hezbollah foi formado em 1982, após a invasão do Líbano por Israel. O Irã havia enviado algumas centenas de membros de sua Guardto Revolucionária do sul do país, dominado pelos xiitas, para ajudar a resistir à ocupação. O Hezbollah cresceu a partir deste núcleo, parcialmente financiado, armado e apoiado politicamente pelo Irã e a Síria.
Hoje, o braço civil do grupo criou um estado dentro do estado, e administra escolas, hospitais, orfanatos e um canal de televisão. Através de seu trabalho beneficente, o grupo obteve o apoio e lealdade da população, e como o partido ficou em primeiro lugar nas eleições em 1992, passou a dominar o parlamento em Beirute. Ao fazer isso, ele moldou o destino do Líbano.
Por muitos anos, Nasrallah tem sido considerado o mais popular político árabe. Mas desde o início da guerra civil na Síria, ele perdeu seu lugar no topo na pesquisa de opinião pública anual. A interferência do Hezbollah no conflito sírio desapontou profundamente muitos árabes. Em sua visão, o "Partido de Deus" traiu a sua própria fé. Isso porque, em vez de lutar contra Israel, os militantes xiitas de elite do grupo de repente estão lutando contra outros árabes. Misturar-se no conflito sujo entre xiitas e sunitas tem custado muitos apoiadores ao Hezbollah.
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