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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Deportação de parentes de dissidente do Cazaquistão suja imagem de ministros na Itália

 Mukhtar Abliazov
O governo italiano não sabe como sair de uma confusão diplomática que aumenta a cada dia com detalhes sempre mais escandalosos. A saída decorosa seria a demissão dos dois ministros envolvidos na deportação irregular para a antiga república soviética do Cazaquistão da mulher e da filha do dissidente Mukhtar Abliazov, um magnata e antigo dirigente cazaque que confrontou o atual presidente, o poderoso Nursultan Nazarbayev. Mas nem Angelino Alfano, o vice-presidente e ministro do Interior, nem Emma Bonino, a titular das Relações Exteriores no governo de Enrico Letta, estão dispostos a deixar o cargo, embora ambos reconheçam o erro e até a atuação vergonhosa de seus respectivos ministérios.

O máximo que Alfano (o delfim de Silvio Berlusconi) finalmente concedeu é deixar cair seu chefe de gabinete, Giuseppe Procaccini, mas parece muito pouca penitência para um pecado tão grave.

A história começou na noite de 28 para 29 de maio. Uma unidade de elite da polícia irrompeu em uma casa de uma luxuosa área residencial no sul de Roma, com o objetivo de deter Mukhtar Abliazov, um oligarca cazaque adversário do presidente Nazarbayev e acusado de um golpe milionário.

Mas Abliazov não estava. Por isso os agentes decidiram levar sua esposa, Alma Shalabayeva, e a filha de ambos, Alua, de 6 anos, e interná-las em um centro para imigrantes sem documentação. No dia 30, a prefeitura, dependente do Interior, autorizou a expulsão, alegando que Shalabayeva tinha antecedentes criminais porque entrou ilegalmente na Itália, o que não é verdade. O Ministério das Relações Exteriores, informado de que a expulsão iria ocorrer, não advertiu que se tratava da mulher de um dissidente e que, portanto, sua deportação para seu país poderia lhe causar graves riscos.

Até o dia 12 de julho o governo de coalizão não reconhece os erros, revoga a ordem de expulsão e anuncia que Shalabayeva e sua filha podem voltar à Itália. Mas a essa altura o presidente cazaque, Nazarbayev, já as mantém em prisão domiciliar na casa de parentes.

A polêmica provocada na Itália é grande, e a cada dia que passa surgem mais perguntas e se dão menos respostas. Quem deu a ordem de deter uma mulher inocente e uma menina em plena noite, expulsá-las da Itália contra sua vontade e pelo procedimento de urgência, como se se tratasse de criminosos perigosos, a bordo de um avião privado alugado pela embaixada do Cazaquistão em Roma, que a todo momento atuou em sintonia com as autoridades italianas dos Ministérios do Interior e Exterior? Qual é o poder que tem na Itália o presidente Nazarbayev para mobilizar 40 agentes de elite e saltar todos os protocolos diplomáticos, até conseguir uma deportação em tempo recorde, colocando em uma confusão --mais uma-- o difícil governo de coalizão entre a centro-direita e a centro-esquerda?

A ninguém escapam as boas e rentáveis relações de Silvio Berlusconi com o presidente Nazarbayev, nem o fato de que a multinacional italiana ENI tem importantes interesses petrolíferos na antiga república soviética. Por isso, parece mais que uma coincidência que o principal envolvido nesse feio assunto seja exatamente o delfim de Berlusconi, o sempre fiel Angelino Alfano, colocado como vice-presidente e ministro do Interior no governo de coalizão.

Alfano jura que nada sabia sobre a deportação e se nega a demitir-se. Para apoiá-lo, seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), o blindou com sua estratégia favorita: "Se Alfano cair, cai o governo".

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