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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Escândalo de espionagem sacode campanha eleitoral alemã

Os sociais-democratas alemães estão exigindo que Berlim investigue os principais gestores da National Security Agency, a agência de inteligência dos Estados Unidos (também conhecida como NSA ou Agência de Segurança Nacional), por suposta prática de espionagem. Esse é apenas o mais recente exemplo de como esse grande e vasto escândalo de espionagem está provocando ondas na campanha eleitoral alemã.

Até o início desta semana, a campanha pela reeleição de Angela Merkel estava seguindo totalmente ao gosto da chanceler alemã. Tudo parecia conspirar a favor: o candidato de centro-esquerda, Peer Steinbrück, estava tendo dificuldades para ganhar terreno, os temas controversos eram poucos e esparsos e a chanceler estava disposta a seguir com sua estratégia de campanha favorita - ou seja, dizer e fazer o menos possível.

Se apenas os norte-americanos não tivessem se metido no meio.

De repente, a revelação de que Washington espionou a União Europeia durante anos e monitorou as comunicações via internet dos alemães injetou um pouco de suspense na campanha eleitoral da Alemanha. E o líder do SPD (Partido Social Democrata), Sigmar Gabriel, mostrou que não vai deixar essa oportunidade passar em branco.

Em entrevista à Spiegel Online, Gabriel afirmou ter exigido que os promotores federais da Alemanha iniciassem uma investigação contra os líderes da agência de inteligência NSA e de sua homóloga britânica, a GCHQ. "Eu acredito ser apropriado que o escritório da promotoria pública instaure processos contra os responsáveis pelos serviços de inteligência norte-americano e britânico", disse Gabriel. Ele disse ainda que os envolvidos nessas atividades de espionagem dentro da Alemanha também devem ser investigados.

O presidente do SPD também exigiu que os promotores alemães viajassem até Moscou para interrogar Edward Snowden - o ex-funcionário da NSA responsável pelo vazamento das informações - sobre a extensão da espionagem realizada pela antiga agência do denunciante. Acredita-se que atualmente Snowden esteja na área de trânsito do aeroporto internacional de Moscou. No início desta semana, Snowden tentou obter asilo em vários países, incluindo a Alemanha. Berlim rejeitou o pedido dele.

Sob pressão
"O primeiro passo tem que ser o seguinte: os promotores públicos devem viajar até Moscou para ouvir o depoimento de Snowden", disse Gabriel. "Se eles retornarem com a impressão de que ele é uma testemunha confiável, então devemos considerar inclui-lo no programa de proteção a testemunhas. Tudo o que temos de fazer é simplesmente deixar que o nosso sistema legal siga seu caminho usual. Eu só espero isso de nosso governo".

Os comentários de Gabriel vieram à tona durante uma semana em que o governo de Merkel encontra-se sob pressão para fornecer uma resposta adequada à reportagem publicada pela Spiegel. Segundo a matéria, a NSA colocou escutas nos escritórios diplomáticos da UE em Washington e Nova York. Além disso, a reportagem revelou que a NSA tentou obter acesso a um sistema de telecomunicações da UE em Bruxelas, na Bélgica. Essa informação constava nos documentos obtidos por Snowden. De acordo com esses documentos, a agência de inteligência dos EUA também mantém uma estreita vigilância sobre o tráfego de internet e as comunicações via celular da Alemanha.

Quarta-feira passada à noite, de acordo com declarações divulgadas tanto pela Casa Branca quanto pela Chancelaria da Alemanha, Merkel falou com o presidente dos EUA, Barack Obama, sobre a coleta de dados realizada pela NSA. Washington prometeu realizar reuniões com autoridades sêniores da área de segurança da Alemanha "nos próximos dias" para discutir as acusações de espionagem.

Merkel, no entanto, encontra-se em uma situação desconfortável. Por um lado, ela deixou claro que as operações de espionagem e o monitoramento exagerado lavados a cabo pelos EUA são "inaceitáveis". Além disso, ela também comparou repetidas vezes as atividades da inteligência norte-americana com o que ocorria de ambos os lados durante a Guerra Fria, quando os EUA e a União Soviética se envolveram em diversas atividades de espionagem.

O calcanhar de Aquiles de Merkel
No entanto, fomentar uma grande desavença com os EUA não é do interesse da Alemanha, especialmente agora que as negociações sobre um acordo de livre comércio transatlântico são iminentes. Para a Alemanha, um negócio como esse é uma maneira barata de estimular a economia moribunda da União Europeia, e o país não está disposto a abandonar essas negociações por princípio. Na verdade, Merkel e Obama reiteraram seu apoio conjunto a esse acordo durante a conversa de quarta-feira à noite, de acordo com um comunicado de imprensa divulgado pela Casa Branca.

Em outras palavras, Merkel de repente tem um calcanhar de Aquiles. A opinião pública da Alemanha parece estar bastante preocupada em relação ao alcance das operações de vigilância dos Estados Unidos e a maioria da população do país parece sentir uma grande simpatia por Edward Snowden. Uma pesquisa online não científica realizada esta semana pela Spiegel Online revelou que quase 85% dos respondentes são a favor que o governo alemão conceda permissão para que Snowden permaneça na Alemanha. Outras pesquisas online obtiveram resultados semelhantes.

Esta semana, o SPD e outros partidos da oposição perceberam o que está acontecendo e não se intimidaram em tirar proveito da situação. Durante sua entrevista, Gabriel disse, por exemplo, que o seu partido continua a acreditar que os serviços de inteligência não têm o direito de monitorar as comunicações de todos os cidadãos indiscriminadamente.

"Se isso não se aplica mais na era da internet, então estamos destruindo os pilares de nossa sociedade, que são baseados em valores", disse ele. "E também (estamos destruindo) os valores que uniram os EUA à Europa durante décadas. Nesta comunidade de valores, a liberdade individual e o direito à privacidade são fundamentais. São exatamente essas as coisas que sempre nos diferenciaram do bloco comunista".

O Partido Verde também exigiu uma reação mais enérgica de Berlim e tem sido especialmente enfático em demandar que o governo de Merkel ofereça asilo a Snowden ou o traga para a Alemanha como parte do programa de proteção a testemunhas do país. Na quarta-feira passada, o partido lançou uma petição online exigindo proteção para Snowden. A recusa de Berlim em conceder asilo ao norte-americano que vazou os documentos da NSA é "uma vergonha para a Alemanha, uma vergonha para a Europa e uma vergonha para a democracia", disse Jürgen Trittin, líder do Partido Verde no parlamento.

Observando de perto
Mas não é só a oposição que está criticando a maneira como o governo alemão tem lidado com as acusações de espionagem. Os membros do Partido Democrático Livre, parceiro minoritário da coalizão da chanceler Angela Merkel, vem enfrentando dificuldades nas pesquisas de opinião há várias semanas – e há inclusive a preocupação de que o partido não consiga obter o percentual mínimo de votos, de 5%, nas eleições de setembro para manter sua representação parlamentar. As críticas do partido às técnicas de vigilância de Washington também têm sido bastante estridentes.

Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, ministra da Justiça da Alemanha e que não tem papas na língua, tomou a dianteira e exigiu um esclarecimento imediato dos EUA no domingo passado, quando as primeiras reportagens sobre as atividades de espionagem da NSA surgiram na mídia.

Na quinta-feira, foi a vez de Christian Lindner, membro sênior do Partido Democrático Livre. Ele pediu a suspensão imediata de todos os acordos de troca de dados com os EUA. "A troca de dados só deve ser retomada quando uma compreensão conjunta em relação às liberdades civis estiver em vigor", disse Lindner uma entrevista concedida ao diário alemão Die Welt.

Teremos que esperar para ver se Merkel vai sofrer nas urnas como resultado das revelações da NSA. Nenhuma pesquisa de opinião foi realizada desde que a matéria da Spiegel foi publicada, na segunda-feira passada. Mas mesmo que Merkel não perca terreno imediatamente, essa questão quase que certamente desempenhará um papel importante até o final da campanha eleitoral alemã. E cada movimento da chanceler será observado de perto.

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