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sexta-feira, 5 de julho de 2013

"Governo de Mursi também não era democrático", diz jornalista

Eu participei dos protestos de 30 de junho, marchei até o Palácio Presidencial e cantei que Mohammed Mursi deveria renunciar como presidente, que o período de um ano da Irmandade Muçulmana no governo deveria chegar ao fim. E hoje eu consegui o que eu queria. Mas não posso celebrar plenamente.

Enquanto outros manifestantes anti-Mursi perambulam pelas ruas comemorando sua queda, eu me sinto alienada –não triste, mas não realmente feliz. E enquanto me recordo dos momentos gloriosos da revolução de 2011 que derrubou Hosni Mubarak, eu sei que o triunfo de hoje não se assemelha a eles.

Naquela época, eu ainda não tinha experimentado o governo militar de transição que se seguiu. Eu ainda não tinha visto manifestantes sendo mortos esmagados por veículos blindados, arrastados pelas ruas e despidos por soldados, e ainda não sabia das mulheres submetidas a testes forçados de virgindade por oficiais do exército.

Não tenha dúvida: não há democracia sob um regime militar. Mas eu apoiei os protestos de 30 de junho ciente de que um governo militar era iminente, porque o governo de Mursi também não era democrático.

Ao longo de seu ano na presidência, os manifestantes que eram contrários a ele foram violentamente reprimidos pela polícia e por membros da Irmandade Muçulmana. Ele apoiou o Ministério do Interior em suas táticas violentas contra os manifestantes e não investigou os incidentes nos quais manifestantes foram mortos. Jornalistas e ativistas foram presos, e o presidente emitiu um decreto dando a ele imunidade judicial. A eleição presidencial, realizada sem uma estrutura legal clara, não bastou para tornar o governo de Mursi democrático.

Apesar das constantes queixas de Mursi de que alguém estava minando seus esforços, suas ações sempre visavam expandir o controle das instituições do Estado pela Irmandade Muçulmana. Ele estava em conflito constante com o judiciário, mais recentemente com a proposta de reduzir a idade para aposentadoria para abrir o caminho para a nomeação de seus aliados.

Eu ainda me recordo da companhia de meus amigos da Irmandade Muçulmana na praça Tahir antes de Mubarak ser derrubado. Eu agora lamento que eles e seus líderes não tenham me dado escolha, a não ser endossar um golpe militar.

Sim, trata-se de um golpe militar. Mas sem poder popular nenhuma mudança teria ocorrido. Eu espero que os egípcios tenham aprendido a lição dos últimos dois anos e meio, que assegurem que este novo "período de transição" será um tempo para o estabelecimento das fundações de uma verdadeira democracia.

Nós temos que evitar o tipo de roteiro legal vago estabelecido pelos militares após a partida de Mubarak, que nos deixou em uma disputa constante a respeito da divisão de poderes entre os poderes do governo. Aquele plano foi apoiado pela Irmandade Muçulmana porque ele a ajudava a tomar o poder. E os militares se aliaram temporariamente à Irmandade porque era, na ocasião, a força política mais poderosa.

Eu espero que os militares fiquem desta vez do lado do povo por terem percebido que o povo é a força mais poderosa. A prioridade  agora é nos opormos a qualquer violação dos direitos dos membros da Irmandade e de suas famílias.

Eu tenho certeza de que esta segunda rodada conduzirá o Egito a uma verdadeira democracia? Não. Mas quem quer que venha governar o Egito a seguir estará ciente do destino dos governantes que perdem a fé e o apoio dos egípcios.

Nós voltamos à estaca zero. Nós pagamos um alto preço nos últimos dois anos e meio. Mas a democracia vale a pena.

(Sara Khorshid é jornalista egípcia e escreve sobre o Egito e as relações entre os muçulmanos e o Ocidente)

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