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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Aclamações da praça Tahrir não devem mascarar riscos no Egito

Ninguém esperava que a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, e depois a vitória da Irmandade Muçulmana nas eleições um ano mais tarde, fossem transformar o Egito em uma democracia escandinava da noite para o dia. Esse país de 85 milhões de habitantes está vivendo um processo revolucionário. A destituição do presidente Mohammed Mursi  pelo exército na quarta-feira (3), sob aclamação de milhões de egípcios, novamente nas ruas, deve ser vista primeiramente como mais um ato dessa revolução.

As reticências dos governos estrangeiros, sobretudo ocidentais, em chamar de golpe militar aquilo que, tecnicamente, de fato o é, refletem toda a ambiguidade da situação. A Irmandade Muçulmana, que havia se apropriado da revolução após a queda do presidente Mubarak e, como única força política organizada, ganhou as primeiras eleições democráticas, em um ano provou sua incapacidade de governar. Ela dirigiu o Egito monopolizando o poder, atacando seus adversários políticos e estreitando os laços com os islamitas radicais.

Mursi e sua equipe, em compensação, não abordaram nenhuma das questões prioritárias tão essenciais para o progresso econômico e social do país. Com uma economia em queda livre e o aumento da insegurança, especialmente violências contra mulheres, o cotidiano dos egípcios se deteriorou ao extremo. O breve reinado da Irmandade Muçulmana no Egito prova que a democracia não se limita às eleições: ela também consiste em governar unindo, em vez de excluir.

Portanto, o exército, que possui uma longa tradição de intervenção na vida pública no Egito, está de volta ao poder no Cairo. As aclamações da praça Tahrir não devem mascarar os riscos da nova situação.

É verdade que não foi um grupinho de generais isolados que deu fim ao mandato de Mohammed Mursi, hoje detido. Encorajado pela mobilização popular, o exército agiu com o apoio das principais forças religiosas do país, de boa parte da oposição, inclusive salafista, e da instituição judiciária. Quando ele anunciou na televisão a destituição do presidente Mursi e a suspensão da Constituição, o general Abdel Fatah al-Sissi, chefe do Estado-maior, estava cercado de dirigentes da oposição, de comunidades religiosas e de representantes de movimentos de jovens. Um chefe do Estado interino, o presidente do Tribunal Constitucional, Mansour Adli, deve prestar juramento e organizar novas eleições.

Mas paralelamente o exército tem enviado sinais preocupantes, como a prisão de membros da Irmandade Muçulmana e os cerca de 300 mandados de prisão emitidos contra membros da confraria. A Irmandade Muçulmana representa mais de um quarto da população egípcia. Excluí-la totalmente só agravará as coisas.

A experiência anterior no governo dos generais egípcios, após a queda de Mubarak até a posse de Mursi, havia sido desastrosa. É imprescindível que essa volta do poder militar ao Cairo seja a mais breve possível. Para os democratas, um golpe de Estado é sempre uma má notícia. Este poderia se transformar em um acontecimento positivo caso permita a emergência de forças políticas civis autenticamente democráticas no Egito, capazes enfim de governar.

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