Coreia do Sul diz que vizinho do Norte alimenta "febre de guerra"

A Coreia do Norte começou a evacuar alguns cidadãos para dentro de túneis com provisões de emergência e a colocar camuflagem militar em ônibus e caminhões, informou o Ministério da Defesa sul-coreano.

As autoridades sul-coreanas disseram que os movimentos estão alimentando uma febre de guerra: uma tática que os líderes norte-coreanos já usaram em momentos de tensão no passado, sugerindo que seu país está sob uma ameaça iminente, a fim de ganhar apoio do povo.

Na quarta-feira (13), a Coreia do Norte confirmou que cancelou o armistício de 60 anos que colocou fim à Guerra da Coreia.

As ameaças de ambos os lados da fronteira vêm se intensificando nas últimas semanas, depois do terceiro teste nuclear do Norte e das sanções internacionais resultantes. O Norte foi mais longe do que no passado, dizendo que poderia realizar um ataque nuclear preventivo contra os Estados Unidos e contra Seul.

"Todos os inimigos que costumam brincar com fogo nessa questão sensível devem ser jogados em um caldeirão assim que eu emitir uma ordem", disse o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, durante uma visita a uma linha de frente da unidade de artilharia que enfrenta fuzileiros navais sul-coreanos numa ilha próxima, segundo a Agência Central de Notícias Coreana, a oficial do país.

"Uma vez que uma ordem é emitida, você deve quebrar a coluna dos inimigos loucos, cortar totalmente suas traqueias e, assim, mostrar-lhes claramente o que é uma guerra de verdade."

O Sul, sob o novo governo da presidente Park Geun-hye –sua primeira líder mulher-- também fez declarações duras, dizendo que, se o Norte continuar com ataques nucleares, será "apagado da Terra".

Enfatizando a aliança contra as ameaças da Coreia do Norte, o escritório da presidente sul-coreana anunciou na terça-feira que planeja se encontrar com o presidente dos EUA, Barack Obama, em Washington, no início de maio, em seu primeiro encontro desde que tomou posse em 25 de fevereiro.

Em Washington, o general Robert Kehler, comandante do Comando Estratégico dos EUA, que supervisiona todas as forças nucleares norte-americanas, disse ao Comitê de Serviços Armados do Senado que "dissuadir a Coreia do Norte de agir irracionalmente é a nossa prioridade número 1."

Ele disse que o esforço começa com a aliança com a Coreia do Sul, mas se estende "a outras forças que estão disponíveis" no Pacífico e, "em última análise, até nosso poder nuclear".
"Somos capazes de oferecer ao presidente uma ampla gama de opções", disse Kehler, referindo-se às opções dos EUA caso o Norte inicie um ataque. "O que quer que ele escolha usar em resposta a um ato da Coreia do Norte, acredito que podemos disponibilizar."

Mas ele disse que as agências de inteligência e os militares estavam examinando se "a defesa antimísseis limitada que temos em vigor" no Alasca e na Califórnia precisava ser alterada para acompanhar o ritmo das capacidades recém-demonstradas pelo Norte.

Aumentar o medo de confrontos militares há muito tempo faz parte dos esforços da Coreia do Norte para atrair Washington para negociações. A Coreia do Norte exige um tratado formal de paz para encerrar a Guerra da Coreia, bem como garantias de segurança dos norte-americanos. Também busca negociações diretas com Washington por causa do suposto prestígio que isso traria ao país.

Como a crise sobre ambição nuclear da Coreia do Norte se arrastou, alguns analistas argumentaram que Washington deve tentar negociar um acordo abrangente que aborde as preocupações da Coreia do Norte em troca de o Norte desistir de suas armas nucleares. Mas os sul-coreanos e as autoridades norte-americanas também suspeitam que a Coreia do Norte transformaria as conversações para um tratado de paz em discussões sem fim, exigindo a retirada dos 28.500 soldados norte-americanos estacionados na Coreia do Sul e a redução de armas norte-americanas na região.

Em Viena, um grupo que monitora os testes nucleares disse na terça-feira que não foi capaz de discernir que tipo de material foi usado no teste nuclear da Coreia do Norte.

"É muito improvável registrar qualquer coisa neste momento", disse Annika Thunborg, porta-voz do grupo, a Comissão Preparatória da Organização do Tratado Abrangente de Proibição de Testes Nucleares, numa mensagem de e-mail.

O sistema de monitoramento do grupo havia detectado uma perturbação sísmica por conta do teste, que registrou uma magnitude de 4,9 a partir de 96 estações de monitoramento --mas, sem acesso ao local de teste, eles não podem fazer muito mais que isso.

Os cientistas esperavam que a detecção de partículas no ar ajudaria a determinar se o Norte havia usado plutônio para fazer o teste, como já fez anteriormente, ou urânio. Uma mudança para o urânio poderia permitir que o Norte aumentasse seu arsenal nuclear.

Se o tratado de proibição de testes estivesse em vigor, disse Thunborg, "haveria a opção de fazer inspeções no local para pesquisar as imediações em busca de provas de uma explosão nuclear."

"Sem o tratado em vigor, não podemos fazer uso dessa opção, infelizmente", acrescentou.

O tratado foi negociado entre 1994 e 1996, mas não entrou em vigor porque algumas nações não o assinaram, incluindo a Coreia do Norte, enquanto outras assinaram, mas não ratificaram, incluindo os Estados Unidos e a China.