quarta-feira, 20 de março de 2013
Pouca esperança de mudança na primeira viagem de Obama a Israel
Pouca coisa deve mudar como resultado da visita de presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à Terra Santa esta semana. Israel e EUA já se acostumaram com o status quo, apesar do aumento da ameaça de que os israelenses avançarão com a construção de assentamentos que poderiam eliminar a possibilidade de uma solução de dois Estados na região.
O diagnóstico para essa situação, diz Shaul Arieli, pode ser descrito como trombose cardíaca: as artérias estão obstruídas e o paciente corre risco de sofrer um ataque cardíaco. Ele precisa de um cirurgia --quanto antes, melhor, mas o paciente não quer fazer essa cirurgia. Em vez disso, ele insiste que é apenas uma dor de estômago, e tudo que ele deseja é tomar um antiácido.
Arieli, 53, gosta de falar em parábolas sobre seu país, Israel, que ele compara a esse paciente prestes a sofrer um ataque cardíaco – mas que alega estar sofrendo apenas de uma dor de estômago. "Nós temos que ser forçados a nos salvar", diz ele. O que ele quer dizer é que, para Israel, não há nenhuma outra maneira de solucionar a questão a não ser por meio da criação de uma nação palestina soberana.
General da reserva e ex-conselheiro de vários primeiros-ministros israelenses, Arieli está bem familiarizado com todos os acordos de paz e iniciativas firmadas das últimas décadas, e até participou de alguns deles. Ele ajudou a negociar os acordos de Oslo e o tratado de paz com a Jordânia e participou nas negociações de Camp David e da Cúpula de Taba. Os nomes dos acordos de paz podem ter mudado, diz Arieli, mas todos chegaram ao mesmo beco sem saída.
Barack Obama, que esta semana fará sua primeira visita à Terra Santa desde que assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos, pode estar gerando muita comoção, mas a expectativa de que algo pode mudar no confuso status quo entre israelenses e palestinos não poderia ser menor.
O próprio presidente norte-americano ajudou a diminuir as expectativas. Ele teria dito que os EUA não podem querer a paz mais do que as próprias partes em conflito. Os palestinos foram alertados a não criarem muitas esperanças e ouviram que o objetivo da visita do presidente a Ramallah é "principalmente ouvir". Em resposta, uma autoridade palestina resmungou: "Não há nada que ele já não saiba".
Falta de ação combina com Netanyahu
A falta de ação por parte dos EUA combina com Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro israelense está satisfeito com o fato de que as conversas com Obama se concentrarão na ameaça que Irã e Síria representam a Israel, e que só abordarão secundariamente "a necessidade de encontrar uma maneira responsável para avançar com o processo de paz com os palestinos", como Netanyahu disse em seu discurso, apresentado em vídeo, durante a reunião anual do AIPAC, grupo de lobby pró-Israel.
Em Israel, o conflito com os palestinos não é mais uma questão central. O processo de paz não foi um tema importante durante a última campanha eleitoral nem durante a maratona de negociações de seis semanas para a formação do governo de coalizão. Nas últimas semanas e meses, os políticos e os cidadãos do país estavam mais preocupados com outras questões, como a redução do número de ministros, a justiça social e a exigência que os religiosos ortodoxos também deem sua contribuição para a defesa do país.
O gabinete de centro-direita de Netanyahu, formado na semana passada, conta com 21 ministros – 11 a menos do que antes –, e não inclui nenhum membro ultra-ortodoxo. Para muitos israelenses, essa é uma mudança radical. Mas a possibilidade de que, talvez, no 46º ano da ocupação da Cisjordânia o país devesse ter prioridades políticas para além da redução do tamanho do gabinete foi destacada apenas pelo jornal de esquerda Haaretz, que prega a uma minoria que comunga das mesmas opiniões.
Apesar dos novos parceiros de coalizão, o governo está mantendo muitas das políticas já existentes. O ministro da Defesa, um linha-dura do Likud e adversário declarado de um acordo de paz em que ambos os lados teriam que ceder, diz abertamente que não vê "nenhuma chance de que um acordo de paz seja firmado com os palestinos em um futuro próximo".
"As construções vão continuar"
O ministro da Habitação e Construção, Uri Ariel, membro da aliança de direita União Nacional, continuará avançando na construção de assentamentos – e adoraria construir uma sinagoga no Monte do Templo (ou Esplanada das Mesquitas). Quando o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Oriente Médio manifestou sua preocupação sobre o que a nomeação de Ariel como ministro da Habitação significava para o conflito entre israelenses e palestinos, o novo ministro respondeu que a "ONU, que é anti-israelense", deveria ficar de fora dos assuntos internos do país. Ariel, que também é um colono dos assentamentos construídos nos territórios palestinos ocupados, disse em entrevista à TV no domingo passado que "as construções vão continuar (nos territórios ocupados), de acordo com o que a política do governo tem definido até agora".
Yair Lapid, o surpreendente vencedor da eleição, agora é ministro da Fazenda, embora ele preferisse ter sido indicado para a pasta das Relações Exteriores. Se o ex-âncora de TV vai encontrar tempo suficiente para prosseguir com as negociações com os palestinos, como prometeu na plataforma de seu Partido do Futuro, é algo questionável. Enquanto isso, Netanyahu reservou o Ministério das Relações Exteriores para seu companheiro de partido Avigdor Lieberman, que atualmente está sendo investigado por fraude e abuso de confiança. Lieberman foi julgado por corrupção, mas não foi condenado porque as testemunhas-chave do processo desapareceram ou morreram.
O fim da solução de dois Estados?
Em pé no Monte Scopus, em Jerusalém, o general da reserva Arieli olha para o Deserto da Judéia. "E1", diz Arieli, apontando para frente. "A única área daqui que ainda não foi desenvolvida". E1 significa Leste 1, um terreno vazio localizado entre Jerusalém Oriental e o assentamento de Maale Adumim.
Mas esse terreno não vai ficar vazio por muito tempo. O governo agora quer avançar com o desenvolvimento de E1, após o projeto ter ficado congelado durante anos em resposta à pressão norte-americana. O projeto desse assentamento cortaria a Cisjordânia ao meio e poderia muito bem significar o fim da solução de dois Estados.
"Apenas Obama pode impedir que a construção avance aqui", diz Arieli. "Eu sou um otimista por princípio, e não porque existam muitas razões para isso".
Parece que ninguém vai conseguir convencer o paciente que está à beira de um ataque cardíaco que ele precisa fazer mais do que apenas engolir um antiácido.
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Vai entrar p a história como o 1º negro na casa branca, e um pato manco na política entre judeuss x os pobres Palestinos...falta coragem e decisão nesse cara. Lamentável.Sds.
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