O Tucano, avião da Esquadrilha da Fumaça brasileira, despede-se das apresentações acrobáticas no domingo, a partir das 16h. Foram quase 30 anos e 2,3 mil shows, por todos os estados e em pelo menos 20 países. Em seu lugar, a FAB adotará o mais moderno Super Tucano
Acima, pilotos da Esquadrilha da Fumaça realizam manobras com as aeronaves Embraer EMB-312 Tucano |
O Tucano foi o primeiro avião brasileiro a equipar a Esquadrilha da Fumaça. Antes dele, os pilotos voavam a bordo de criações estrangeiras. Os aviadores da Aeronáutica competem para integrar um dos esquadrões de maior prestígio dentro da FAB. Escolhidos a dedo, esses militares conseguiram demonstrar, em todos os estados brasileiros e em pelo menos 20 países, a precisão da fabricação da máquina brasileira e também a sofisticação da formação dos pilotos.
O capitão André Fabiano da Silva tinha 30 anos quando ingressou no rol seleto, há cinco anos. Era um sonho antigo. Afinal, o paulistano decidiu entrar para as Forças Armadas por admirar as apresentações da Esquadrilha. Das memórias feitas dentro de um Tucano, uma das mais especiais foi a primeira vez que o capitão comandou a aeronave para uma exibição do esquadrão. O céu era o de Boa Vista, capital de Roraima. A data: domingo, 5 de julho de 2009.
Foram incontáveis shows desde então. "Com o Tucano, pudemos demonstrar a capacidade do brasileiro tanto na construção quanto no comando. Gerações de pilotos e mecânicos trabalharam com essa aeronave. São muitas histórias", conta. No ano passado, então, de tão requisitados, os aviadores bateram o recorde de apresentações: foram 130, em 12 meses.
No site da Esquadrilha da Fumaça, na seção Histórias, o ex-piloto Ruy Flemming resume bem o vínculo que se forma entre o piloto e essa aeronave. Para ele, o Tucano tornou-se uma lenda entre os aviões. "Ao longo do tempo, o EMB-312 Tucano foi sofrendo um processo de mitificação. Ele está entre aquelas iniciativas brasileiras que deram muito certo. Habilmente e graças às qualidades técnicas, foi colocado em algumas vitrines do mundo. É certo que, antes do Tucano, o Bandeirante abriu algumas portas e carimbou o passaporte para o exterior, mas ninguém jamais vai conseguir tirar dele a responsabilidade do salto espetacular que deu à própria Embraer", escreve Flemming.
O reconhecimento da qualidade do equipamento se deu no sucesso de vendas para outras nações. Segundo a FAB, hoje, pelo menos 10 países contam com a aeronave brasileira na frota das Forças Armadas. A França, por exemplo, tem 50 unidades.
No domingo, a vista para as manobras das sete aeronaves que compõem cada apresentação, entre as 12 disponíveis, será melhor do Pontão do Lago Sul. Às 16h, elas começarão o espetáculo de habilidade e fumaça para adornar, uma derradeira vez, os céus de Brasília. Provável é que a despedida não termine sem antes a execução da manobra chamada looping desfolhado, que, pela semelhança com o emblemático monumento de Brasília, ficou conhecida entre os pilotos como Catedral (veja arte).
Aposentados das acrobacias, os Tucanos serão utilizados para treinamento de novos aviadores, na base de operações do esquadrão, em Pirassununga (SP). Os substitutos são os A-29, também fabricados pela Embraer (veja Para saber mais). Eles são superiores em desempenho, velocidade e sofisticação da tecnologia de bordo. Têm o dobro da potência dos antecessores, voam mais alto e mais rápido, podendo chegar a 590km/h. Mas não deixam de ser parte do legado do T-27. Uma versão mais moderna. São os Super Tucanos.
Desempenho e baixo custo
O substituto do Tucano, o A-29, teve o projeto concluído em 1999, pela Embraer. Respondia à necessidade da Força Aérea Brasileira de uma aeronave de baixo custo operacional com desempenho capaz de interceptar aviões de pequeno porte que tentassem sobrevoar o espaço aéreo brasileiro sem autorização. O modelo com fins militares difere em equipamentos dos que serão utilizados pela Esquadrilha da Fumaça. Conta, por exemplo, com metralhadoras e sistemas de bordo comparáveis a modernos caças. As aeronaves foram usadas em operações de combate ao contrabando e ao narcotráfico na Amazônia, assim como na segurança de eventos de grande porte, como a Rio +20, a posse da presidente Dilma Rousseff e durante a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Elas integrarão o esquema de segurança da Copa das Confederações, este ano, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas, em 2016.
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