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quarta-feira, 27 de março de 2013

"Quero devolver a confiança aos tunisianos", diz premiê em entrevista


Nomeado chefe do governo tunisiano no dia 22 de fevereiro, Ali Larayedh, 58, substituiu Hamad Jebali após uma grave crise política exacerbada pelo assassinato do opositor de esquerda Shokri Belaid. Membro do mesmo partido que seu antecessor, o Ennahda, o ex-ministro do Interior foi encarregado de formar um novo governo no dia 8 de março, no qual o partido islamita abriu mão dos principais ministérios.

Le Monde: Qual a diferença entre o governo Jebali e o seu? O método é diferente?

Ali Lerayedh: A diferença é a transparência de objetivos e prioridades, a firmeza das políticas em uma conjuntura nacional onde houve muitos mal entendidos entre os partidos políticos tunisianos e uma situação securitária que nos causou preocupações. É uma mudança de tom. Queremos ser bem mais firmes e mais decididos que nunca. Não faremos nenhuma concessão quanto à segurança dos tunisianos.

Um Estado democrático é um Estado forte. Não há contradição em respeitar a lei e usar a força dentro dos limites da lei diante daqueles que se aproveitaram da fragilidade das instituições do Estado ou que pensaram que o Estado era fraco. De repente, passou a haver uma liberdade sem limites --o que é compreensível-- nos partidos, assim como entre a população, mas erros também. Saber que há muitos deveres e não somente direitos é algo que estão aprendendo também.

Nunca ameacei a liberdade individual e coletiva. O maior objetivo que atingimos até agora foi a liberdade, mas ainda é preciso que não seja ameaçado o direito das mulheres, dos artistas, da cultura. Quero devolver a confiança aos tunisianos, neles mesmos e no futuro deles, e isso depende da confiança na ação do governo, em sua sinceridade e sua franqueza. Queremos clareza, prazos mais visíveis. A Constituição deverá ser concluída até maio, no máximo junho, para preparar as eleições legislativas e presidenciais, em novembro.

Le Monde: Quais grandes decisões o senhor pretende tomar em um prazo tão curto sendo que a Assembleia estará ocupada com a Constituição?

Lerayedh: É verdade que temos muitas medidas e projetos de lei em suspensos no nível da Assembleia. Seu presidente [Mustapha Ben Jaafar] me disse que uma solução será "reservar" alguns dias para a discussão de projetos de lei que não podem mais esperar. Vou citar dois: o texto sobre a justiça transicional e as convenções de cooperação com diversos países que a Assembleia ainda não aprovou, como com a Turquia, que prevê um empréstimo de US$ 400 milhões [cerca de R$ 800 milhões], e que são indispensáveis para projetos de investimento, particularmente nos territórios mais pobres. Também há projetos para construir abrigos para os pobres, ajudar as famílias de mártires e as vítimas da revolução.

Mas, para isso, devemos remover os obstáculos fundiários, financeiros e até políticos. Todos os partidos estavam até então acostumados a serem opositores críticos. A gestão e a parceria são um pouco mais difíceis.

Le Monde: De onde vêm todas essas armas apreendidas nos últimos meses na Tunísia?

Lerayedh: Há vários meses, o Ministério do Interior tem trabalhado em redes de traficantes de armas. Grupos violentos quiseram se aproveitar disso e estocaram essas armas com a ideia de utilizá-las algum dia, na Tunísia ou em outro lugar. Por enquanto, tem havido mais apreensões de armas do que ações armadas. Não há campos de treinamento na Tunísia, mas sim alguns indivíduos que se refugiaram nas montanhas e que estamos perseguindo. Não estamos livres do terrorismo, considerando que nossas fronteiras são difíceis de vigiar e o que tem acontecido na Líbia, apesar dos esforços de nossos irmãos líbios. Além disso, temos uma guerra acontecendo não longe daqui, no Mali…

Le Monde: Um ano atrás o senhor falou em "confronto inevitável" com os salafistas. O temor ainda existe?

Lerayedh: Ele já ocorreu e ainda ocorrerá, de maneira pontual. É uma fração do salafismo que prega a violência e o terrorismo. Não existe diálogo com aqueles que estão em guerra com a sociedade. Nós somos contra o projeto deles de sociedade, sua visão das relações entre os povos, da democracia, das mulheres.

Le Monde: Abou Ayad, o líder do grupo Ansar al-Sharia, suspeito de ser responsável pelo violento ataque contra a embaixada americana no dia 14 de setembro de 2012, ainda está sendo procurado?

Lerayedh: Sim. Nós quase o prendemos há alguns meses quando ele estava na mesquita El Fatah [em Túnis]. Mas, como havia muitos fiéis com ele, lojas e transeuntes em volta, pensamos que o momento era inoportuno. Ele fugiu, disfarçado. Abou Ayad está bem envolvido nessas questões de violência e tráfico de armas.

Le Monde: Em que ponto está a investigação sobre os autores do assassinato de Shokri Belaid?

Lerayedh: Nós prendemos os cúmplices do assassino, que identificamos --um homem de 30 e poucos anos de idade. Ele não foi preso na Argélia, como alguns afirmaram, mas nós o estamos caçando. Ele faz parte do movimento salafista, frequenta suas manifestações culturais e suas mesquitas. Mas será que esses homens agiram sozinhos ou em nome de um grupo de dentro ou de fora da Tunísia? É isso que hoje estamos tentando descobrir.

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