Soldados turcos realizam incursão contra o PKK |
Quando três importantes ativistas curdas foram assassinadas em Paris em janeiro, os analistas temiam que os assassinatos fariam descarrilhar as incipientes negociações de paz, iniciadas no final do ano passado. Parece ter acontecido exatamente o contrário, à medida que ambos os lados avançaram com mais determinação para acabar com um dos conflitos mais difíceis da região, que já tirou cerca de 40 mil vidas ao longo de quase três décadas.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan se tornou um defensor tão contumaz da paz que disse que beberia "veneno cicuta" se fosse necessário para acabar com as hostilidades.
Seu adversário nominal, o líder militante curdo Abdullah Ocalan, divulgou recentemente uma carta de sua cela na prisão pedindo um cessar-fogo em março e a retirada de guerrilheiros do território turco até agosto.
Erdogan, frustrado com a capacidade limitada da Turquia para moldar as revoluções do mundo árabe e enfrentando uma reação negativa em seu país por ter apoiado os rebeldes na sangrenta guerra civil da Síria, mudou de postura e passou a buscar a paz em seu próprio quintal. Se derem frutos, as conversações fortalecerão a posição da Turquia como potência regional, polindo o legado de Erdogan como pacificador e, talvez, impulsionando à presidência no próximo ano.
"Se as negociações forem bem sucedidas, ele receberia um dividendo de paz, como o líder que finalmente trouxe a paz para a Turquia, após três décadas de conflitos internos", disse Sinan Ulgen, presidente do Centro de Estudos de Política Econômica e Externa, uma organização de pesquisa em Istambul, e ex-diplomata turco.
Analistas descreveram as conversas de paz com Ocalan, fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou PKK, que é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e a Europa, como históricas e essenciais se a Turquia quiser realizar suas ambições de se tornar uma potência regional e mundial como uma nação muçulmana próspera e democrática.
Muitos também veem um motivo político para Erdogan
De acordo com este ponto de vista, Erdogan se viu sem os votos necessários no Parlamento para fazer mudanças constitucionais para criar uma presidência mais forte, o cargo que ele poderia buscar na eleição do próximo ano. Ele está apostando que o processo de paz atrairá apoio suficiente de parlamentares curdos para alterar a Constituição.
"Essa é a sua única esperança agora para conseguir a mudança para um sistema presidencial", disse Ulgen.
O vazamento de minutas de uma reunião recente com Ocalan na prisão, em que o líder guerrilheiro ameaçou com mais guerra caso o primeiro-ministro não conseguisse cumprir as demandas de maiores direitos para os curdos, causou um alvoroço nos meios de comunicação turcos, e alguns comentaristas sugeriram que as declarações provocativas podem complicar as negociações de paz.
Colocando a política nacional de lado, em Diyarbakir, a alma da região curda da Turquia e um mundo distante da Istambul cosmopolita, as esperanças de paz, embora reais, são temperadas por traumas de guerra acumulados e ressentimentos contra um estado que durante décadas negou aos curdos sua identidade.
Em um dia frio de janeiro, homens mais velhos dessa antiga cidade de muros de pedra de basalto e grandes mesquitas esperavam mais um enterro de um guerrilheiro. Era um lembrete de que, apesar de todas as conversas de paz, a guerra ainda existe.
"Por 30 anos, o estado matou meu povo e negou a minha língua", disse Kudbettin Yas, 60. "Mas hoje quando eu for ao enterro, cantarei pela paz. Ainda tenho esperança de paz."
Embora a tortura, os desaparecimentos e as execuções extrajudiciais da campanha de contraterrorismo da Turquia da década de 1990 tenham em grande parte parado, milhares de ativistas curdos estão em prisões sob acusações de terrorismo por se engajarem em atividades políticas pacíficas.
"Há muitas coisas que queremos dizer, mas assim que falamos somos colocados na prisão", disse um homem no enterro, explicando que até mesmo falar com um repórter de jornal sobre sua raiva contra o Estado poderia colocá-lo na cadeia.
Mas as cenas que aconteceram por toda a cidade recentemente foram testemunho de pequenos avanços nos direitos dos curdos que teriam sido impossíveis há alguns anos.
No tribunal, um réu, ex-prefeito julgado por seu envolvimento com uma organização curda banida, falou em curdo em sua própria defesa, resultado de uma lei aprovada recentemente. Numa biblioteca local, que leva o nome do escritor curdo Mehmet Uzun, universitários estudaram gramática curda na expectativa de que um dia o estado permita que eles ensinem na língua curda.
Ainda assim, os curdos se sentem como cidadãos de segunda classe em seu próprio país.
"Há uma visão geral de que todos os curdos são criminosos, de que um curdo tem uma arma ou uma bomba", disse Mehmet Aktar, advogado que diz que ainda evita falar curdo em público quando visita Istambul.
Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento, de raízes islâmicas, trouxeram melhorias sem precedentes para os curdos, incluindo uma rede de televisão curda, e melhoria na saúde e infraestrutura no sudeste.
"Para ser justo, foi Erdogan que tomou as medidas mais radicais no caminho para resolver o problema curdo", disse Vahap Coskun, professor de Direito na Universidade Dicle em Diyarbakir. "Essas medidas permitiram que as pessoas mantivessem suas esperanças de que o problema será resolvido."
Há uma sensação imensa aqui de que o fim da violência não representará o fim da luta curda. As famílias dos mortos pelas unidades paramilitares do estado na década de 1990 querem justiça, mas o estatuto de 20 anos de limitações sobre assassinato está expirando em muitos dos casos, que vêm se desenrolando lentamente pelo sistema judicial.
"A partir de agora, muitos casos serão descartados", disse Tahir Elci, presidente da Ordem dos Advogados local, que passou anos acompanhando esses casos. "Se as vítimas não puderem alcançar a justiça e não souberem a verdade sobre seus familiares, será impossível alcançar a paz social neste país."
Enquanto isso, um complexo de edifícios centenários dentro da cidade murada – incluindo a sede, a prisão e as câmaras de tortura das viciosas forças contra-terroristas da Turquia - está sendo transformado num destino turístico. O local inclui uma cafetaria, um palco para teatro de marionetes e um museu de arqueologia que homenageia o passado da cidade otomana, mas não haverá reconhecimento de seus horrores recentes.
"No início eu tinha calafrios, mas aquele tempo já se foi", disse Remzi Gendal, 29, funcionário do local, que contou que o lugar às vezes é visitado por ex-detentos. "No momento, temos muita esperança. Mas sou cauteloso. Com a vontade de Deus, esta guerra vai acabar."
Caso ñ deem + autonomia aos Curdos será o mesmo q manter o estado de guerra contra os mesmo...os atakes vão continuar;quem viver verá.Sds.
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