Refugiados sírios na Jordânia |
Enquanto a crise da Síria entra em seu terceiro ano, as agências de ajuda internacional estão expressando alarme com a lenta chegada e com os níveis modestos de apoio financeiro que estão recebendo para ajudar as dezenas de milhares de civis que estão fugindo do conflito, assim como os milhões presos dentro do país, cuja situação está se tornando mais desesperadora.
Na metade do caminho de um apelo por US$ 1,5 bilhão para cobrir o custo da ajuda aos sírios nos primeiros seis meses do ano, autoridades da ONU disseram que mal receberam um quinto do valor pedido.
"Essa matemática não bate", disse Radhouane Nouicer, o coordenador humanitário regional da ONU, em uma declaração na capital jordaniana, Amã, na sexta-feira. "Ela significa menos comida, menos cobertores, menos medicamentos, menos água limpa."
O ritmo lento do envio de dinheiro prometido é apenas parte do problema. A crescente violência na Síria acelerou o fluxo de refugiados, tornando a necessidade mais severa, disseram autoridades da ONU.
O apelo delas por um fluxo mais rápido de doações humanitárias ocorre enquanto os líderes europeus pesam se relaxam a proibição de envio de armas à Síria, como forma de ajudar os insurgentes que estão lutando para derrubar o presidente Bashar Assad, cuja dura repressão a um levante político pacífico, em março de 2011, deu início ao que se tornou uma guerra civil.
Tanto a França quanto o Reino Unido estão deixando cada vez mais claro que são favoráveis a armar os insurgentes, uma posição que não é compartilhada por outros países membros da União Europeia. Os Estados Unidos permanecem contrários a fornecer armas aos rebeldes sírios. Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, expressou repetidamente oposição a uma militarização ainda maior do conflito, que já deixou mais de 70 mil mortos.
Quando a ONU deu início ao seu apelo em dezembro, sua agência de refugiados lidava com pouco mais de meio milhão de refugiados, um número cuja expectativa era de que dobraria até junho. A população de refugiados ultrapassou 1 milhão na semana passada. Na quinta-feira, 126 mil refugiados adicionais foram registrados.
"Isso nos dá um calafrio na espinha", disse Amin Awad, o diretor de emergência da agência de refugiados em Genebra, em uma entrevista por telefone, explicando que já destinou mais da metade de seus estoques para resposta global a emergências para sua operação na Síria. "Esta é a pior crise em termos de fundos na história recente. Nós estamos basicamente vivendo semana a semana", ele disse.
O Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, relatou na sexta-feira que levantou cerca de US$ 45 milhões para ajuda à Síria, ou mais de um quinto dos US$ 220 milhões que está buscando para todo o ano de 2013, mas que teve que tomar emprestado US$ 32 milhões de seus próprios recursos principais para manter as operações em funcionamento no ano passado, e ainda está fazendo um apelo urgente por dinheiro adicional.
"Nós conseguimos levantar recursos suficientes para continuarmos nas próximas semanas", disse Ted Chaiban, seu diretor de emergências, por telefone, "mas não há dúvida de que o levantamento de fundos é um obstáculo".
Componentes chave das operações sírias do Unicef são seus suprimentos de água potável para cerca de 10 milhões de pessoas, clínicas móveis em áreas onde os combates colocam civis em risco e programas para vacinação de crianças contra pólio e sarampo.
O Unicef alertou que fundos insuficientes podem impedi-lo de vacinar milhões de crianças sírias. O Unicef também alertou que as crianças sírias correm o risco de se transformarem em uma "geração perdida", traumatizada pela violência e pelo quase colapso do sistema de ensino do país.
As autoridades da ONU têm pouca influência para pressionar os países que prometeram US$ 1,5 bilhão em uma conferência de doadores, realizada no Kuait há poucos meses, a cumprirem suas promessas.
Diante das manchetes quase diárias da Síria, "nós não estamos muito surpresos pelo dinheiro não estar chegando", disse Jens Laerke, um porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários, aos repórteres em Genebra, na sexta-feira.
Em Bruxelas, os líderes da União Europeia pediram aos seus ministros das Relações Exteriores que discutissem o embargo de armas à Síria como um assunto de emergência, em uma reunião de emergência que será realizada em Dublin em 22 e 23 de março, disse o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, após uma cúpula de dois dias.
A França e o Reino Unido estão pressionando seus colegas a suspenderem o embargo imediatamente, e os franceses em particular estão mais insistentes sobre o assunto. Mas outras autoridades da União Europeia na cúpula, incluindo sua chefe de diplomacia, Catherine Ashton, expressaram dúvida sobre a sabedoria de uma decisão dessas.
O presidente da França, François Hollande, disse aos repórteres que até mesmo recebeu garantias da oposição síria de que nenhuma arma cairia nas mãos de extremistas islâmicos, que se juntaram à luta contra o governo Assad. Mas há um ceticismo considerável de que a oposição síria possa oferecer essas garantias.
Ao ser perguntado sobre a posição francesa, um porta-voz da ONU, Eduardo del Buey, reiterou a posição do secretário-geral de que a introdução de mais armas na Síria "é contraproducente e não levará a uma solução". Ele disse: "o presidente Hollande sabe quais são os pontos de vista do secretário-geral".
A Alemanha e a Áustria estão entre os países membros da União Europeia que continuam contrários à suspensão do embargo. Mas de qualquer modo ele chegará ao fim no final de maio, caso o Reino Unido e a França continuem contrários a ele.
A Alemanha tem "toda uma série de reservas" a respeito da suspensão do embargo, disse na sexta-feira a chanceler Angela Merkel, ao alertar que uma posição europeia comum poderia não ser acertada. "É uma situação extremamente difícil", ela disse em uma coletiva de imprensa ao final da cúpula.
Olá Minchel, muito bom o artigo, excelente a escolha da foto, vc sabe a origem dela, qual fotografo, qual foi o veículo que a publicou primeiro?
ResponderExcluirAbração
paulinosistemas@uol.com.br
Amigo, a foto é da agência Agence France-Presse (AFP), mas não sei quem é o fotografo. A origem é campo de refugiados sírios na Jordânia de nome "Zaatari".
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