Cidadão francês feito prisioneiro um braço armado da Al-Qaeda na Somália lê uma carta em vídeo |
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, disse que Paris "não tem provas" da morte de Philippe Verdon, um suposto funcionário da inteligência sequestrado no Mali em novembro de 2011 e que os jihadistas da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) afirmam ter assassinado em 10 de março passado, em represália pela intervenção militar francesa no Sahel.
A guerra do Mali colocou as famílias dos 15 franceses capturados na África em "uma situação insuportável", disse Jean-Pierre Verdon, pai do refém dado como morto.
Depois de semanas de ataques contra os terroristas da AQMI, ainda não há notícia sobre a sorte dos reféns, enquanto Paris admite oficialmente que mudou sua doutrina sobre os sequestros. Não pagará mais resgates e irá se opor ao pagamento por empresas, famílias e seguradoras.
Em 13 de janeiro passado, o presidente François Hollande anunciou no Eliseu para as famílias dos sete sequestrados franceses na região do Sahel que o Estado não pagará mais recompensas em troca da liberdade de compatriotas cativos e, assim, admitiu que nos últimos 25 anos --desde que os primeiros franceses foram capturados no Líbano-- o governo francês realizou, ou pelo menos permitiu, trocas de dinheiro por reféns.
No domingo, a ministra da Francofonia, Yamina Benguigui, confirmou de maneira oficial em uma entrevista que a "mudança de doutrina" é "autêntica" e está em andamento. A ministra disse que os radicais islâmicos que lutam contra a França no Mali evoluíram e que "hoje é muito complicado tratar com grupos de narcoterroristas que têm muita mobilidade, funcionam de modo autônomo e com frequência não têm chefes visíveis".
A nova política sobre os sequestros, que dá ênfase ao músculo militar e aproxima a França dos costumes de americanos e britânicos --exceto no fato de que estes tentam manter em segredo os sequestros de seus concidadãos--, começou a ser posta em prática em 11 de janeiro, quando o governo lançou a operação militar do Mali e quase ao mesmo tempo ordenou a operação de resgate de um espião francês retido por um grupo terrorista na Somália.
Depois do fracassado assalto do comando militar, que terminou com a morte de um funcionário da Direção Geral de Segurança Externa e de um soldado francês, Hollande decidiu a mobilização de tropas no Mali para conter o avanço dos islâmicos sobre o sul do país. O temor do Eliseu era que os sequestros de cidadãos franceses fossem maciços se os terroristas chegassem a Bamako.
No domingo, a AQMI ameaçou matar os cinco reféns que mantém em seu poder e pediu às famílias que pressionem o governo francês para que retire seus soldados do país. Françoise Larribe, ex-refém e mulher de Daniel Larribe, um engenheiro da gigante nuclear Areva capturado com mais seis franceses em setembro de 2010 nas minas de urânio de Arlit (norte do Níger), declarou-se "decepcionada" com a decisão do presidente.
"Hollande nos disse que é impensável pagar dinheiro a grupos com os quais estamos em guerra. Mas os resgates são uma gota d'água nos recursos de terroristas que traficam drogas. Creio que Hollande está equivocado", disse Larribe ao jornal "Le Monde".
Os parentes de outros cativos demonstraram respeito pela nova política de Estado, e René Robert, avô do refém Pierre Legrand, disse que compreende "o silêncio" do governo, mas pediu "que os resultados cheguem logo e não haja surpresas".
Tentando enviar uma mensagem de firmeza, Hollande reiterou que não há outra opção além de lutar contra os terroristas. "Estamos em uma situação de vítimas. Nossos concidadãos estão nas mãos de uma facção que não tem fé nem lei e que só conhece o dinheiro e a força."
A oposição conservadora mostra-se dividida sobre a mudança de política, que na realidade foi adiantada, com pouco êxito e várias incursões fracassadas, durante o mandato de Nicolas Sarkozy; o ex-primeiro-ministro François Fillon afirmou que, embora compartilhe o princípio de não pagar aos terroristas, a França "não deve se proibir nenhuma possibilidade de libertar os sequestrados" e referiu-se "em particular" aos quatro menores da família Moulin-Fournier, raptada no norte de Camarões há um mês e meio por um grupo islâmico nigeriano.
A nova forma de administrar a chantagem também afeta as ONGs e as empresas com interesses na África. Um porta-voz da Areva, que além de Larribe tem três trabalhadores de sua empreiteira Vinci nas mãos dos terroristas, afirma que "o mais importante é manter a discrição e a confidencialidade". "Acompanhamos de perto a evolução e apoiamos as famílias, mas não podemos fazer comentários."
Nenhum comentário:
Postar um comentário