Graham, ao lado da senadora Kelly Ayotte, defendem o envio do terrorista à prisão de Guantánamo |
Longe de Guantánamo e fora de uma comissão militar, o genro de Osama bin Laden e porta-voz do grupo terrorista Al Qaeda, Suleiman Abu Ghaith, se declarou inocente em um tribunal federal de Nova York, na sexta-feira (8), de conspirar para assassinar cidadãos norte-americanos.
Mas, enquanto o governo de Barack Obama se felicitava por uma captura tão importante, sua entrada no território dos EUA e seu comparecimento diante de um tribunal civil provocavam duras críticas por parte dos republicanos, que veem o fato como uma manobra política da Casa Branca para cimentar um plano para fechar Guantánamo.
Lindsey Graham, senador republicano em vários comitês do Congresso que tratam da segurança nacional, mostrou-se surpreso e enfurecido por diferentes motivos. Surpreso por ter sabido pela imprensa da notícia de que os EUA tinham em seu poder o genro de Bin Laden.
Enfurecido porque Abu Ghaith não está sendo interrogado no centro de detenção de Guantánamo, já que se trata de um "combatente inimigo", e que, pelo contrário, ele vá desfrutar de todos os direitos que a Constituição americana concede aos cidadãos dos EUA.
"Acreditamos que a decisão do governo de trazer essa pessoa a Nova York sem ter comunicado ao Congresso representa um precedente ruim", disse Graham em uma entrevista coletiva em Washington, enquanto mostrava repetidamente a foto na qual se vê Abu Ghaith ao lado de Bin Laden e o braço-direito deste último, Ayman al Zawahiri. "Colocamos o governo de sobreaviso", advertiu o senador da Carolina do Sul.
"Trazer este sujeito de forma furtiva para o país vai claramente contra o que o Congresso pensa que se deve fazer com combatentes inimigos, não ficará sem resposta", afirmou.
A detenção de Abu Ghaith e sua chegada aos EUA é um assunto confuso. Tudo indica que foi detido na Turquia depois de sair do Irã, mas que aquele país se negou a entregá-lo às autoridades americanas e decidiu deportá-lo para o Kuwait, de onde é originário Abu Ghaith, 47 anos, apesar de que foi despojado dessa nacionalidade depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro.
Durante uma escala técnica em Amã (Jordânia, cujos serviços secretos são um dos colaboradores mais próximos da CIA no Oriente Médio), agentes americanos se encarregaram dele e o conduziram até seu destino final, Nova York.
A apenas alguns quarteirões de onde se erguiam as Torres Gêmeas que foram derrubadas em 11 de setembro de 2001, Abu Ghaith compareceu na sexta-feira (8) diante do juiz Lewis Kaplan, em uma audiência que durou menos de 20 minutos e na qual não pronunciou uma palavra. Seu advogado falou por ele. O genro de Bin Laden, casado com Fatima, pode ser condenado à prisão perpétua, já que a pena de morte foi abolida no estado de Nova York.
Sua entrada em território dos EUA e seu comparecimento diante de um tribunal civil provocaram duras críticas por parte dos republicanos, que veem o fato como uma manobra política da Casa Branca para consolidar um plano para fechar Guantánamo.
Na mesma entrevista coletiva em que Graham informou sua opinião, a senadora republicana Kelly Ayotte manifestou sua decepção pelo fato de Abu Ghaith gozar dos mesmos direitos que um cidadão americano. "Não deveria ter vindo para os EUA até que tivesse sido interrogado a fundo", disse Ayotte, acrescentando que no momento em que entrou no sistema civil de justiça tem o direito de "manter silêncio". "A última coisa que queremos é que guarde silêncio", indicou a senadora republicana por New Hampshire. "Quando se encontra alguém como ele, tão próximo de Bin Laden, a última coisa que queremos fazer, na minha opinião, é colocá-lo diante de um tribunal civil", prosseguiu Ayotte. "Esse homem deveria estar em Guantánamo."
O julgamento de Abu Ghaith será um dos primeiros de um líder da Al Qaeda em território americano. Desde o 11 de Setembro, 67 terroristas estrangeiros foram condenados em tribunais federais dos EUA, segundo o Human Rights First, um grupo de controle que obteve a informação do Departamento de Justiça depois de recorrer à Lei de Liberdade de Informação. Das centenas de pessoas que passaram por Guantánamo, somente sete foram condenadas nas comissões militares criadas para julgar os detidos na guerra contra o terrorismo instaurada por George W. Bush.
Depois de chegar à Casa Branca em 2009, o presidente Obama prometeu fechar Guantánamo e julgar os suspeitos de terrorismo estrangeiros em tribunais federais americanos. Mas o Congresso impediu o fechamento do polêmico centro de detenção e os legisladores republicanos se opõem a que esses suspeitos sejam trazidos para solo americano. Em 2010 o governo democrata abandonou seus planos de julgar os cinco homens acusados de orquestrar o 11 de Setembro no mesmo tribunal em que ontem compareceu o genro de Bin Laden.
Na sexta-feira (8), em seu segundo mandato, Obama sentou em um juizado civil o genro de Bin Laden.
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