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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Análise: relações turco-germânicas estão sob tensão

Jornal turco destaca o assunto

A Turquia ficou cada vez mais desconfiada das autoridades alemãs nas últimas semanas, após dois incêndios em casas e a recusa de um tribunal em conceder o credenciamento de imprensa para a mídia turca cobrir um julgamento de um famoso neonazista. Funcionários do governo de ambos os lados já se envolveram na disputa.

A relação de Ancara com Berlim há muito tem sido desafiadora. A oposição aberta da chanceler Angela Merkel para a adesão da Turquia à União Europeia, juntamente com tentativas ocasionais do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan de posar como um representante dos turcos que vivem na Alemanha causaram tensões nos últimos anos.

Os acontecimentos recentes colocaram os laços entre os dois países sob uma pressão ainda maior. Dois incêndios na Alemanha – em edifícios que abrigam um grande número de pessoas de origem turca –, bem como o julgamento próximo do último membro sobrevivente do trio neonazita NSU, que matou oito pessoas de ascendência turca nos anos 2000, deixaram as autoridades turcas profundamente céticas em relação às alemãs. E elas não se furtaram a expressar suas preocupações.

Na verdade, a retórica de Ankara tornou-se tão afiada nos últimos dias que o presidente da comissão de Assuntos Externos no Parlamento alemão alertou a Turquia para se conter. "Quero alertar os políticos turcos a absterem-se de iniciar mais um ciclo de críticas", disse Ruprecht Polenz, membro sênior do partido Democrata Cristão de Merkel, numa entrevista ao Berliner Zeitung na terça-feira (2).

Especificamente, Polenz estava se referindo às preocupações turcas com relação à distribuição credenciais para os meios de comunicação para o julgamento do NSU, que começa em 17 de abril, em Munique. O tribunal utilizou o critério de ordem de chegada e como resultado nenhum meio de comunicação turco tem um lugar garantido na sala do tribunal. Dado o enorme interesse no julgamento na Turquia – em parte devido ao fato de que os investigadores alemães durante anos suspeitaram que os assassinatos foram produto das máfias turcas em vez de extremistas de direita – as críticas ao tribunal, tanto na Alemanha quanto na Turquia, tem sido intensas.

"Mesquinhez"
No fim de semana da Páscoa, de fato, o ministro de exterior turco Ahmet Davutoglu falou com o seu colega alemão, Guido Westerwelle, e exigiu que a sala esteja aberta tanto para jornalistas turcos quanto para representantes do governo turco. Westerwelle expressou sua compreensão em relação à demanda, mas disse que não foi capaz de interferir com a independência do tribunal.

O tribunal também se recusou a fornecer uma transmissão em vídeo do julgamento em outra sala do tribunal para satisfazer o enorme interesse no caso, dizendo que seria uma violação das regras. Sigmar Gabriel, líder dos social-democratas de centro-esquerda, acusou o tribunal de "mesquinhez" na segunda-feira.

O tamanho da desconfiança atual da Turquia em relação à Alemanha também se mostrou em outras situações nos últimos dias. Após um incêndio na noite de sábado em um prédio residencial em Colônia, o governo turco foi rápido em criticar autoridades alemãs. Duas pessoas morreram no incêndio, nenhuma delas era de origem turca. Mas havia vários turcos entre as 13 pessoas feridas nas chamas.

O vice-primeiro-ministro Bekir Bozdag, que é acusado de representar turcos que vivem no exterior, disse que os funcionários alemães pareciam "ridículos" quando disseram "cinco minutos após o incêndio" que o fogo não poderia ter sido o resultado de um ataque incendiário neonazista, de acordo com a mídia turca nesta segunda-feira. Ele também perguntou por que apenas os edifícios que abrigam turcos parecem pegar fogo na Alemanha.

Olhando de fora
No caso do incêndio de sábado, a crítica Bozdag pareceu ser injustificada. As autoridades alemãs emitiram uma declaração após o incêndio de que estavam seguindo todas as pistas num esforço para determinar se foi intencional e, se este for o caso, quem está por trás dele.

Os comentários de Bozdag vieram poucas semanas depois de um incêndio fatal na cidade alemã de Backnang, no sul do país, em que oito pessoas de ascendência turca – sete delas crianças – perderam suas vidas. Autoridades rapidamente anunciaram após o incêndio que não suspeitam que ele seja criminoso, e foram censuradas pelo presidente turco Abdullah Gül além de Bozdag. Ambos exigiram uma investigação detalhada sobre a causa do incêndio. Os resultados finais do inquérito ainda não foram apresentados, mas as autoridades acreditam que um problema técnico tenha sido o culpado pelo incêndio.

Imigrantes turcos foram alvo de dois ataques incendiários na década de 1990 em Mölln e Solingen, que mataram um total de oito pessoas.

Nos últimos meses, Merkel tem estado ansiosa para fazer o que pode para melhorar as relações com Ancara. Ela não só procurou enfatizar a preocupação de seu governo com os erros cometidos na investigação dos assassinatos do NSU, mas numa recente viagem à Turquia, em fevereiro, também fez questão de não reiterar a oposição do seu partido à adesão da Turquia à UE.

Ainda assim, é provável que a desconfiança não desapareça em breve. O tribunal de Munique onde o julgamento do NSU será realizado enfatizou novamente na segunda-feira que não tinha a intenção de rever o seu processo de credenciamento da mídia. A imprensa turca vai ficar olhando de fora.

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