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quarta-feira, 17 de abril de 2013

As grandes potências testemunham com apatia as tensões na Ásia


O narcisismo das pequenas diferenças geralmente não está associado à política das grandes potências. A patologia de transformar pequenas disputas em grandes divisões entre partes que costumam pensar da mesma maneira deve empalidecer a sombra das disputas estratégicas que separam Washington, Moscou e Pequim.

Mas, ao darmos um passo para trás em relação aos duelos diplomáticos do dia a dia entre autoridades norte-americanas, chinesas e russas sobre o que fazer com a Coreia do Norte, o Irã e a Síria, veremos que é difícil chegar a qualquer outro diagnóstico.  

Compare as reais – e surpreendentemente pequenas – divergências em relação ao resultado desejado para cada uma dessas crises com as graves consequências, para cada uma das grandes potências, em não abordá-las de forma eficaz – e a ausência de engajamento sustentado no nível dos chefes de governo se torna inexplicável.

Nem Teerã nem Pyongyang nem Damasco são consideradas representantes de potências confiáveis ou remotamente desejáveis – nem o aiatolá Ali Khamenei nem Kim Jong-Un nem Bashar Assad mantêm uma relação de confiança ou até mesmo um diálogo regular com os líderes globais. O grau em que eles são considerados adereços úteis na disputa entre as grandes potências é insignificante em comparação ao caos que eles ameaçam desencadear.

Entre esses três países problemáticos, a Coreia do Norte representa o mais urgente desafio à segurança mundial, com sua série de ameaças crescentes – e cada vez mais desequilibradas – de lançar ataques nucleares sobre a Coreia do Sul e também sobre os Estados Unidos.

Para Washington e Pequim, há uma agenda comum simples, incontestável e fundamental para prevenir o conflito aberto – e possivelmente nuclear –na península coreana e para continuar a abrir a economia do norte e promover uma distensão regional mais ampla. E, ainda assim, norte-americanos e chineses estar se mantendo, até agora, em piloto automático com seus pedidos padronizados para a interrupção da escalada das ameaças e suas condenações ao comportamento "provocador" da Coreia do Norte.

Onde estão as ligações telefônicas de líder para líder, as consultas militares, o envio urgente de funcionários seniores com autoridade presidencial explícita para preparar reuniões de cúpula destinadas a catalisar uma saída para a crise?

O verdadeiro horror humanitário da guerra civil na Síria disfarça perversamente o nível quase completo de pulverização desse país em milhares de pedaços brutalizados, que terá drásticas consequências estratégicas durante as próximas décadas. Já ficou claro que, mesmo que Assad fosse deposto amanhã, o tecido social do país foi perdido para o grupo de milícias mais tóxicas e mutualmente homicidas que o Oriente Médio já testemunhou.

No entanto, a resposta internacional ainda está emperrada nos tópicos do comunicado de Genebra emitido no verão passado, que apelava para uma transição política negociada para a instauração de um governo representativo de base ampla. Era sabido à época que, na ausência de um acordo entre os EUA e a Rússia, firmado nos mais altos níveis do processo em prol da instauração de um novo governo em Damasco, Assad seria capaz de colocar um país contra o outro. Não há garantia de que um acordo entre Obama e Putin sobre o futuro da Síria tiraria o país da beira do desastre a esta altura tardia do campeonato. Mas, sem um acordo como esse, o pior cenário está praticamente garantido.

Finalmente, o Irã talvez seja a questão de maior importância estratégica permanente. As mais recentes negociações P5 +1 (entre Estados Unidos, China, Rússia, França, Grã-Bretanha e Alemanha) com o Irã em Almaty terminaram em um impasse previsível e em pedidos pela realização de novas reuniões.

Que negociações tão importantes como essas tenham sido confiadas a uma autoridade da União Europeia com poderes acidentais e sem alavancagem estratégica é uma acusação tão condenatória de abdicação de responsabilidade por parte das grandes potências quanto qualquer outra na política global de hoje.

Aqui, também a Rússia, a China e os Estados Unidos estão notavelmente de acordo quanto aos resultados finais – não querem realizar nenhuma guerra contra o Irã para conter seu suposto programa de armas nucleares, não querem que o país seja capaz de produzir armas nucleares e não farão nenhuma ameaça de longo prazo ao fornecimento de energia da região.

No entanto, se houve intensas conversações entre Xi Jinping, Barack Obama e Vladimir Putin sobre como firmar um acordo que elimine o risco da ocorrência de um grande conflito no Golfo, elas foram mantidas como um segredo muito bem guardado.

Não é necessário ter nenhuma ilusão sobre a divergência estratégica entre a Rússia, a China e os Estados Unidos em áreas que vão do comércio externo à guerra cibernética até a segurança energética e os direitos humanos para acreditar que mais pode e deve ser feito em relação a essas três crises.

Na verdade, é justamente por causa da rara coincidência de interesses das grandes potências na Síria, no Irã e na Coreia do Norte que o vácuo de engajamento é tão desconcertante – e tão perigoso. A Rússia tem, facilmente, muito a perder com uma Síria dominada por jihadistas. E a China tem muito mais a perder com uma península coreana incendiada por Pyongyang.

Não existe negligência benigna quando se trata de ameaças à segurança da magnitude da Coreia do Norte, do Irã e da Síria. Deixadas nas mãos da diplomacia ocasional das autoridades de nível médio e dos funcionários da União Europeia, essas crises irão crescer e passarão por uma metástase com consequências igualmente prejudiciais para os Estados Unidos, a China e a Rússia.

No mínimo, a atual onda de nostalgia em relação à liderança de Margaret Thatcher – ilustrada por imagens da Dama de Ferro em consultas com figuras como Ronald Reagan, Mikhail Gorbachev, Deng Xiaoping e Helmut Kohl – deve lembrar Obama, Putin e Xi do que pode ser alcançado quando os líderes das grandes potências decidem se reunir, negociar e, então, agir em conjunto quando fica muito evidentemente que essa união servirá a interesses nacionais e globais.

*Nader Mousavizadeh é coautor, com Kofi Annan, de "Interventions: A Life in War and Peace" "Intervenções: Uma Vida na Guerra e na Paz", em tradução livre].)        

4 comentários:

  1. Eu duvido que a CdN faça algo.

    É mais fácil a China tentar retomar Taiwan e as ilhas Senkaku do que a CdN atacar o sul.


    Michel, fazendo um off agora: Eu acabo de ler que Jânio Quadros pretendia tomar as Guianas, pouco antes de renunciar. Li também que o Médici autorizou o III Exército, no Rio Grande do Sul, a preparar a invasão do Uruguai, caso o general Líber Seregni, candidato da Frente Ampla, vencesse as eleições.
    Você tem mais informações sobre ou é só especulação? Aqui o link: http://www.claudiohumberto.com.br/artigos/?id=355569

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    1. Bom, nunca li nada sobre o tema. No entanto, o autor é conhecido por escrever bobagem. No primeiro paragrafo de seu texto, é possível notar uma grande bobagem. A guerra de conquista da Guiana Francesa não seria tão fácil como ele pensa, pois esse país é considerado território francês até hoje e uma agressão a esse país seria uma agressão à França, que é membro da OTAN. E uma agressão a um membro da OTAN faz com que todos os países da aliança atlântica saiam em sua defesa.

      Ademais, acho plausível isso, haja vista a Guerra da Lagosta, mas isso no governo do Jango. Nessa época eu tenho certeza que o Brasil se preparou para uma guerra.

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    2. Considerando um cenário em que a guerra se restringisse apenas à esses dois países (Brasil e França), o Brasil tinha condições para sair vitorioso?

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    3. Obviamente, pois não conseguiria projetar seu poder. Poderia sim, com o Foch, mas ele seria afundado facilmente pela nossa Armada.

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